Tuesday, November 27, 2007

Outra vêz o português que nos pariu


Para o Portugal de hoje que se transformou de nacionalista em lusófono e europeu haverá duas datas a comemorar:
A primeira foi a Batalha de Alcântara entre o Prior do Crato e Castela, em 1580 (o Prior do Crato perdeu).
Depois da morte do cardeal-rei, D. Henrique, Portugal perde a independência para Espanha. O domínio dos Habsburgos em Portugal haveria de se manter até 1640 (dizem os manuais de história).
Esta derrota nacional permitiu no entanto que Portugal aumentasse incomensuravelmente os domínios que detinha no Brasil. Sabem porquê?
Porque, com as duas coroas ibéricas unidas, ficava de facto e de direito obliterado o “Tratado de Tordesilhas”. O Brasil podia expandir-se para onde quisesse.

A segunda data a comemorar é a de hoje, 27 de Novembro de 2007. Duzentos anos depois da viragem do avesso do antigo Portugal e de um bom quarto do Mundo.

Sim, foi em 27 de Novembro de 1807, que D. João VI, acompanhado por mais 15 mil pessoas embarcou no Tejo rumo ao Brasil (creio que em cerca de 50 navios, uns de guerra, outros mercantes) a fugir ao avanço de Napoleão e das ideias novas que submergiam como um maremoto a Península Ibérica (e o resto do mundo).
Que decisão difícil não terá sido essa de D. João VI? (ninguém sabe. Nem os historiadores e nem sequer o próprio João VI terão sabido ao certo quando tomou a decisão de embarcar)
- Suponhamos que a Inglaterra, se em circunstâncias semelhantes tivesse decidido mudar-se de S. James Park, para Sidney, na Austrália, que “uproar” não teria sido na Comonwelth.
Se a França tivesse então ganho o domínio dos mares na batalha de Trafalgar? o mundo não seria o que é hoje. “Quelle chagement” -.
Mas claro que os factos históricos dizem-nos que Londres, nunca se confrontou perante tal dilema.

Há duzentos anos o malogrado Lord Nelson, morreu em combate naval, contra os franceses em Trafalgar, e ganhou. A Inglaterra sobrepôs-se a todas as outras nações na soberania dos mares, é um facto. Mas, Napoleão, perdedor no mar, ganhou em terra e tornou-se senhor do continente europeu e das terras do Egipto – actuais Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos (sim! Marrocos, o país onde o nosso Sebastião desejado encontrou a morte).
Seria neste estado de coisas que D. João VI abalaria para o outro lado do oceano a fazer novo Portugal. O Brasil era promovido de colónia a Reino Unido. Uma colónia “mixuruca” passava a Reino Unido. Era obra e visão.
Os intelectuais ainda hoje discutem se D. João VI fez bem, ou mal, em mudar o Estado português para o Brasil. Em minha opinião não fez bem nem mal. Actuou segundo as circunstâncias e permitiu que Portugal seguisse independente e o Brasil pudesse ser actualmente (salvo erro) a quinta potência do mundo em termos económicos.
Mas se D. João VI não tivesse fugido para a Brasil o que seriamos nós hoje?
Tenho a minha opinião sobre isso e acho que a vou escrever num dos próximos posts. Será uma especulação semelhante à que seria sobre se Hitler tivesse ganho a guerra de 1939-45 (há um filme que especula sobre isso).
"O Português que nos Pariu" de Ângela Dutra de Menezes, não especula mas "receptacula" (será que existe tal termo em português?).
Já disse em post anterior que vale a pena ler o dito e vale mesmo.

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