Wednesday, November 7, 2007

O quintal da imaginação do meu cão

Para que é preciso saber de filosofia
Quando o meu cão me ensina a viver
Ele abana a cauda, ladra, rodopia
E nessas volturas mostra tudo o que há a saber.

O meu cão é um lindo animal
Que ladra e rosna e dorme e acorda
E que sem fazer parte de qualquer horda
É como se fosse o Gengis Khan do meu quintal.

Eu não tenho quintal e ele não tem horda
Já que desde que nasceu
Nunca dolosamente ninguém o prendeu
A trela ou corda.

O meu cão é sempre livre, como Deus diz livre dever ser
Para o bem e para o mal
Qualquer animal
Desde o acto de nascer.

Nunca o ensinei a fazer nada de especial
Nem a sentar, deitar,
Ou ir buscar o jornal

Mas mesmo assim o cão sai-se menos mal
Porque ladra, dorme, rosna
E toma conta do quintal
O tal quintal que só existe então
Apenas e só num xiste da minha imaginação.

É lindo o meu cão dourado
Que às vezes dependurado
Da varanda quando a casa chego
Sarabanda e ciranda
À espera ansioso que lhe faça festas no seu aconchego.

O meu cão é o lindo cão
Quer-me despertar a atenção
E quando não
Rouba-me as chinelas
E então é vê-las
Nos seus dentes de leão
A correr por toda a casa até que eu lhe deite a mão

O meu cão!

Que molosso, que emoção
Dá-me a pata e eu dou-lhe mão
Lambe-me quando lhe dá
Quando entende que é bonito!
E então, nova emoção
Ele fita-me. E eu o fito
E perdemo-nos então os dois em mútua gratidão.
Esses segundos de amor são um universo infinito.

O meu cão é bonito!

Mas às vezes ele sabe que quando o dia não corre bem, quando me irrito
É melhor sumir-se no obscuro.
Ele percebe nesses momentos que é melhor recolher ao canto mais escuro
.
O insurreto
Retira-se então discreto
Vira o focinho a contra gosto
Como se presciente pressentisse que estou mal disposto.

Como se presciente me pressentisse mergulhado num desgosto
E é então que põe a pata sobre o focinho
Na mais recôndita esquina onde se embala
E fica ali a fingir dormitar sozinho
E é então que o universo todo se concentra no interior da minha sala.

Nocturna escuridão
A vida e a morte é o universo no seu olhar
Nesta ocasião
Uma órbita vazia
A cirandar
Imensidão
Que se transforma e cria
E é então
No seu olhar
Que acredito no amor e em Deus
Em Júpiter e em Zeus
E fico-me a pensar como é possível
Que este cão
Me faça a mim ateu acreditar em tal imensidão

Depois no quintal imaginado
Deste pequeno mundo
As minhas emoções e o meu cão
Adormecem todas juntas em pezinhos de lã
Lá para as três da manhã
Em sono profundo.

Basta de cogitar
Eu e o meu cão vamo-nos deitar
No canto mais aconhegado
E é assim que adormeço com ele ao meu lado


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