Sunday, November 4, 2007

O meu cão desenhado a carvão

Reentardercer etéreo

A minha ponte é um casal unido pelo vento
Do lado esquerdo da margem
Abre-se o meu pensamento,
Do outro, como no Verão
Abre-se uma vagem
De ervilha verde, de onde se soltam esféricas sementes.
Que ilusão...
Um advento de mistérios e reentardeceres etéreos.
Há no tempo paragens?
Acho que não!
Mas é então, que nessa situação
Os meus sentimentos se casam
Entre os dois lados da ponte
Deste lado estou eu e o meu cão
Um animal real arfante
Deitado ao meu lado
Fiel infante de um cavaleiro abalado
Defronte as nuvens estilhaçam o horizonte em difusão.
E eu sentado, cansado num banco olhando a margem enfadado,
Tentando penetrar a bruma capa
Que me impede de ver nitidamente os contornos escondidos da Ilha da Lapa
E é então que eu e o meu cão cansado
Afinamos, os dois pelo mesmo diapasão
Ele deita-se aborrecido no chão.
O entardecer não lhe trás novos cheiros
Eu, por mim farto-me também das mesmas paisagens.
Das aves, águas calmas e ulmeiros entre margens
(Não sei bem porque me lembrei das ervilhas e das vagens, ou de ulmeiros?)
Mas eu e o meu cão somos uma espécie de casal
Que em diapasões diferentes
Observamos ausentes
Este universo porventura irreal,
Mas que para um e para outro corre menos mal.
Corre o tempo, nesta margem.
Mas... as horas do relógio não conhecem paragem.
Cão! é tempo de regressar
Chegou a maré vaza,
É tempo de nós dois voltarmos para casa
O Sol, já se pôs e são horas de jantar.

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