Monday, November 12, 2007

Um Governador singular

Artur Tamagnini Barbosa, com Camilo Pessanha.


1926 -Situação Geral de Macau:
Macau tem cerca de 160 mil almas, a maioria chinesa, o mesmo sucedendo nas Ilhas de Taipa e Coloane, com 10 mil habitantes. Nesta década de vida tão agitada a nível mundial, Macau continua pacatamente a sua administração, que compreende o Concelho de Macau e o Comando Militar da Taipa e Coloane. E sede da mais antiga Diocese do Extremo-Oriente que tem jurisdição sobre as Missões de Heang-Shan, Shiu-Hing (na China), Malaca e Singapura (em territórios ingleses), Timor e naturalmente Macau e Ilhas, tudo constituindo o Padroado do Oriente.
O ensino é ministrado em numerosas escolas de instrução primária, no Seminário, na Escola Comercial e no Liceu central.
Os dois Tribunais encarregados da Justiça estão afectos à Relação de Goa. Hong-Kong e Shanghai têm importantes colónias de macaenses que buscam ali meio de vida (escasso para a classe média no pequeno território de Macau). O mundo do negócio encontra-se quase exclusivamente controlado por chineses e a sua actividade liga-se com a pesca e seus derivados, a construção naval, o fabrico de cimento, a preparação do ópio e manipulação do tabaco, o vinho chinês, os tradicionais panchões e pivetes, etc.. Macau anseia a conclusão das obras do novo porto, ainda em curso, na esperança de reaver parte do significativo comércio que se concentrara em Hong-Kong desde 1841. Começa em Macau a urbanização sistemática das colinas. O território, desenvolvido pelos indesmentíveis encantos de Macau, é beneficiado com a construção do Campo de Corridas de Cavalos, inaugurado em Março deste mesmo ano.
(Citação do livro Cronologia de Macau , de Beatriz Basto da Silva, que curiosamente não sita o jogo, nem a maçonaria, que nesse tempo congregava a "inteligência" local).

Este relatório era assinado pelo Governador, Tamagnini Barbosa, embora a sua autoria pudesse ser de Ferreira da Rocha. Rocha foi várias vezes secretário do Governo de Macau e deputado no Parlamento de Lisboa. Terei que investigar este assunto no Arquivo Histórico, cá do sítio. Entretanto se alguém tiver esclarecimentos a fazer sobre este ponto agradeço que os faça, será um contributo inestimável.


Entusiasta do Estado Novo, Tamagnini Barbosa, acabaria por ser banido por Salazar (seguramente o Estado Novo, de Barbosa, não era o mesmo do de Salazar).
Tamagnini Barbosa, que foi três vezes governador de Macau, morreu no Palácio da Praia Grande, onde residia.


A Lenda do fantasma do Governador
Ainda hoje se diz que de noite percorre o Palácio e o assombra com a sua presença fantasmagórica.
Ainda hoje os seguranças (pelo turno da modorra, ou seja aí pelas três, ou quatro horas da manhã) percorrem os corredores com algum receio sempre à espera de verem o venerável fantasma surgir ao virar do corredor.
Tamagnini Barbosa foi o último governador de Macau a residir no Palácio da Praia Grande. Depois disso a residência oficial dos governadores passou a ser o Palacete de Santa Sancha.

PS. Tamagnini Barbosa, Maçon e republicano, foi demitido do governo de Macau, por telegrama de Salazar. Porém, nunca o soube. O telegrama chegou horas depois de morrer no seu posto, no Palácio, frente à baía que hoje já não existe.

Curioso ainda é referir que Artur, entre os seus irmãos, ficou para a história como o menos conhecido. As menções que a ele se referem dizem-no apenas como governador de Macau e pouco mais.
Os irmãos constam da história portuguesa como nomes maiores; generais, ministros e chefes de governos republicanos.

(Quanto a mim falta quem escreva a sua biografia que vale a pena). Seus filhos podem fazê-lo se tiverem herdado a veia literária de sua mãe D. Ana, que deixou bibliografia publicada principalmente em verso.

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