Friday, November 23, 2007

E-mail a um blogue anónimo com a fotografia do meu cão que se está bem a cagar para a situação.


Monólogo de um bloguista anónimo com outro.

Eu não sei quem V. Exª. Seja, embora tivesse interesse em saber. Se soubesse poderia introduzir nestes debates que mantêm no seu blog o factor conhecimento. Nesse caso, poderia explorar-lhe os pontos fracos. Por exemplo: poderia, escrever, nos comentários, que quando disse, é por que... ou quando deixou de dizer foi por que...
Eu sei que há maneiras de descobrir tudo no mundo cibernético, mas como pertenço a uma geração anterior à existência da palavra “hacker”, limito-me a usufruir do que o meu monitor me mostra e pouco mais.
Devo dizer neste momento que, monitor é para mim é também uma palavra nova, já que o que eu via, há, digamos, vinte anos atrás, era um “ecrã”. Mas, agora, como o mundo é composto de mudança concedo que não tenha à frente dos meus olhos um “ecran” francês, mas um “monitor” anglo-saxónico. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Assim, também nos comandos do meu computador não sei qual é o que serve para descobrir quem é V. Exª.
V. Exª, mais dotado que eu em matéria cibernética com certeza saberá, já quem eu sou (dizem-me que os computadores descobrem logo qual a proveniências das mensagens). Provavelmente, de tão inepto a minha identidade não conseguirei ter escondido como devia, por exemplo, numa carta anónima, quanto mais, muito menos, em página “webb” o conseguiria.
Serve esta introdução para dizer que, se a informática implementou um mundo novo, na comunicação social, os blogs aproveitaram-na. Tal como os “hippies” da América, ou os anarquistas estudantes, do Maio de 68, da França (vamos aproveitar a liberdade que temos, para dela usufruir ao máximo. Não é isso que a palavra liberdade significa, usufruir? Diziam eles). Como concordo com essa visão “sartriana” do quotidiano, não posso estar mais de acordo com os blogs.
Enquanto o jornalista vulgar evolui numa cadeia de comando parecida com todas as hierarquias (mesmo as militares) o bloguista não.
Enquanto o jornalista sofre a censura, ou se auto-censura, o bloguista não.
Enquanto o jornalista preserva a boa conduta para preservar o salário, o bloguista (que não tem salário) não.
Enquanto o jornalista assina e/ou é conhecido, e por isso paga o preço do que escreve, o bloguista nem é conhecido nem assina. Por isso não paga preço nenhum.
Poderão dizer-me: Áh! Muito bem, mas o bloguista não é credível porque é anónimo, enquanto o funcionário do jornalismo tem obrigações e códigos de conduta e preservação das fontes e outras éticas que tais.
Mas que ética possui o jornalista “á la large”? Trabalha por conta de outrem, faz as notícias que a cadeia de comando lhe manda fazer e, às tantas acaba por deixar escrito, radiodifundido, ou televisionado, não o que viu, ou ouviu, mas muitas vezes apenas o que foi condicionado a transmitir, ainda que subconscientemente. Depois, quando chega a casa, ou ao bar, ou ao clube, revê o dia e descobre, que foi enganado. Afinal o seu trabalho, se calhar, não constituiu tanto uma notícia mas mais um anúncio publicitário de qualquer coisa que não estava nos seus planos. Boa desculpa para afogar em cerveja, ou whisky, ou nuns “shots” avulsos, os tantos mil caracteres que escreveu sobre, sabe-se lá o quê, e em nome de quem.
O bloguista não, porque o bloguista tem uma agenda que pode prosseguir sem interferências, a não ser as das suas próprias mudanças de humor e convicções. Neste ponto convêm fazer doutrina e é a seguinte:
- Em matéria de convicções, todos sabemos, que, são raros os que as mantêm mais do que por um período determinado, mas raramente por uma vida inteira a mesma opinião -se calhar Cunhal, foi uma honrada excepção a esta regra. Como dizia o velho Camões: “todo o mundo é composto de mudança” e o baladeiro dos anos 70 do século passado acrescentava: “troquemos-lhe as voltas porque o dia é uma criança” (quem dizia isto? Era o Sérgio Godinho, era o Letria? (O Rui Veloso, não era de certeza, nem o Jorge Palma, que esses vêm do rock português, caldeado nas holandas, que não se metiam (então e em princípio de carreira) nessas coisas da política propriamente dita. Passavam “a la large”, como disse sobre isso.
O bloguista, hoje, diz uma coisa, amanhã diz outra, e aqui está a importância do bloguismo, ou seja; reconhecer na verdade de hoje a mentira de ontem. Isto não se faz nos órgãos de comunicação social convencionais, onde os desmentidos por mais honestos que sejam vão inevitavelmente para o caixote do lixo, se forem anónimos e não acompanhados de identificação completa, para que o editor os tenha em conta e os mande pôr em letra de forma.
Outra coisa importante é a interacção com o leitor, que elogia, concorda, discorda, ou apenas insulta pelo prazer de insultar, na área, ou na janela dos comentários (não sei exactamente qual o termo informático para designar o sítio onde se coloca o “veneno” do leitor/comentador bloguista), mas não precisa de se identificar, o que é bom. Mas o “veneno”, ou a inocuidade, só é publicada se o bloguista a isso estiver disposto. E o bloguista só publica, se para aí estiver virado, situação que me parece perfeitamente ética e que dispensa qualquer “Provedor de justiça”.
- Eu, bloguista, só publico o que acho que tem interesse no meu blogue. Ponto parágrafo, e mais doutrina feita.
Ora! aqui está um preceito, que me parece muito mais transparente e ético, do que o dos provedores, que têm em conta a Constituição da República, o Código Civil, o Código Comercial, mas também, o Código dos Partisans, o “Código dos Dinossauros” (que é uma obra escrita, segundo me parece, antes da primeira idade do gelo. Já lá vão mais de vinte milhões de anos), reescrita no “Bagahavad Ghita”, cinzelada numas tantas pedras, no tempo de Moisés; reescrita por S. Paulo, numas cartas aos coríntios, ou coisa que o valha; editada em nova versão no Corão e, actualmente em projecto de revisão, moderna e actualizada, pela Igreja da Cientologia (Em versão de cordel, corre nas livrarias com a chancela da Igreja Maná e mais umas quantas seitas de igual teor – a 14 K, Soi Fong, ou Grande Círculo, ficam à partida excluídas, não só por que, é assunto interno da China, mas também porque no mundo ocidental ninguém sabe o que sejam e além disso não fazem pregação, nem têm canais de televisão).
Tudo isto pode no entanto voltar aos cânones e ao politicamente correcto, se os tais gestores dos “servidores” desconhecidos, onde os bloguistas se instalam forem desmascarados pelos “hackers”, como comecei por dizer. E então pode acontecer isto:
- Áh, és tu que escreves isto, constata o “hacker”, qual polícia de costumes.
- Estás descoberto! e aponta-lhe o dedo e manda-lhe a polícia à porta, acompanhada pelos provedores e oficiais de diligências, que costumam acompanhar os actos oficiais em circunstâncias assim.
Nessa altura, a liberdade que se instalou há pouco tempo (digamos cinco, ou seis anos atrás), estará perdida para sempre. E nessas circunstâncias voltaremos a ter apenas como fonte de comunicação de notícias e ideias, os velhos jornais, as velhas televisões e as velhas rádios. Tudo isso porque, face à retirada da couraça do anonimato ao bloguista, não resta alternativa, senão a de ajoelhar perante o cruzado, que lhe aponta a espada ao peito:
-Ou crês ou morres. Esta é uma expressão medieval que traduzida para a situação apontada quer dizer mais, ou menos isto:
- Ou acabas com o blogue, ou ficas sem emprego no sítio onde trabalhas).
Claro que, ao mouro inerme, tal como nos tempos medievais, sem saída viável, só ocorrerá uma resposta:
- Rendo-me, diz, espojado em sangue no campo de batalha. O meu blogue escreverá o que quiserdes e o que a Santa Inquisição, entender que deve ser escrito, ou então acabo com ele e peço desculpa.
O cruzado sorrirá e, recolherá a espada contente por ter feito mais um convertido à sua santa causa. A Igreja ganhou mais um convertido. O cruzado diminuiu um pecado à sua lista de iniquidades. Bom negócio!
O bloguista suspirará de alívio, não só por não ter sido morto (agora já não se praticam barbaridades assim tão directas como nos tempos de antanho), mas principalmente por que o seu salário continuará a ser depositado na sua conta bancária no mês, que vem. Que Mundo este!...
É por isso que me debato entre o desejo de saber quem o senhor autor do blogue anónimo seja e a vontade de que as minhas tentativas resultem não num fracasso, mas na continuação das minhas cogitações sobre quem V. Exª possa ser.
Devo dizer-lhe neste ponto que, não há pior coisa no mundo do que conhecer um autor. Falo por experiência própria e digo-lhe o seguinte: Agradeço a Deus nunca ter conhecido pessoalmente, Tolstoi, ou Dumas, ou Sartre, figuras pelas quais continuo a ter uma veneração igual à que teria se fosse católico praticante, por S. João Baptista, Santa Catarina, ou, Santa Teresa do Menino Jesus, ou o nosso Santo António, das formiguinhas. É que conhecer um autor é a desilusão total. Pura e simplesmente não são iguais ao que escrevem. Tal e qual como as vozes da rádio, colocadas e imponentes. Quando conhecidas pessoalmente são apenas pessoas com os defeitos mais patentes no físico e no semblante, do que as virtudes, que se impõem nas suas laringes dotadas.
Assim, e a menos, que algum inconfidente me diga e, com isso estrague a minha investigação (que o meu subconsciente pede que se mantenha “ad eterno”, sem resultado, mas sempre com esperança), para mim o mistério e o encanto continua.
- Quem será V. Exª.? diria Camilo, ou Eça e, sem dúvida, se o soubesse, mataria a personagem no penúltimo capítulo da novela se o conhecesse pessoalmente, por falta de merecimento.
Por isso, digo eu, descoberto o autor da peça, os meus comentários, apenas poderiam conter coisa prosaicas como as que disse no princípio deste meu escrito:
- O senhor bloguista, disse isto porque assim. O senhor bloguista deixou de dizer e sei muito bem porquê! Àh malandro!...
Enquanto isso não acontecer continuarei a ser um indefectível leitor e defensor dos blogues e principalmente dos bloguistas que têm a coragem de os manter.
Afinal, para mim “blogar” (será que inventei um neologismo, ou alguém já colocou a palavra no dicionário da academia?) é a mesma coisa que conversar com os amigos e possui uma vantagem, tem muito menos peias e muitíssimo menos restrições.
Abaixo as convenções sociais vivam os blogues enquanto puderem durar livres e anónimos.
Áh! e essencialmente viva a essência do provérbio anarquista: - Há governo? Sou contra!

PS. Devo dizer que continuo a tentar, mas não consigo fazer um blogue competente e de acordo com as regras da informática. Há um campo que, não está devidamente preenchido, há outro que deveria preencher de outra maneira... enfim, sou um zero a informática. Por isso, com humildade continuo a limitar-me a deixar comentários nos blogues dos outros. A conversar “vis a vis”, com amigos ignotos, sobre as maravilhas da técnica, os avanços da ciência, a política; ou simplesmente a cortar na casaca do vizinho. Enfim, exercito os ”Serões da Aldeia”, do século XIX, quando deveria estar a redigir com o resto dos cibernautas deste mundo os “Serões da Aldeia Global” do século XXI.
Mas, se calhar, na reforma hei-de ter tempo para perceber os milagres do mundo moderno e então, então...Hei-de fazer mesmo uma televisão por computador. Pensei dar-lhe o nome de “Al Jazeera”, mas parece que já há um canal com esse nome.

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