Passam hoje 367 anos sobre a restauração de Portugal.
A Sociedade Histórica da Independência de Portugal vai fazer um jantar. Os “amigos de Olivença” irão depor uma coroa de flores na base do monumento aos restauradores na praça que tem o dito nome. A “Causa Monárquica” vai almoçar, ou jantar com “Sua Alteza” o Senhor D. Duarte Nuno, num qualquer sítio (algures...). O Bloco de esquerda vai protestar. O PCP, não diz nada porque se trata de uma história de há mais de 300 anos que não tem importância nenhuma para os operários e camponeses dos dias de hoje. O PS, preocupado em governar menos diz ainda. O PSD e o CDS, ocupados com a gestão das empresas e dos bancos nem se lembram que data seja essa, ocupados que estão no "business" do dia a dia.
Eu, como republicano e laico lembro-a aqui no meu blogue chamando a atenção para um livro interessante que vale a pena ler.
Chama-se: A Independência de Portugal, Guerra e Restauração 1640-1680. O seu autor é Rafael Valladares. Sim (!) é espanhol....
Podem encontrar mais a seu respeito neste site: http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=155787
Friday, November 30, 2007
Wednesday, November 28, 2007
As venerandas barbas e o retorcido bigode do fundador do Grémio Militar.
O Clube Militar de Macau (CMM) foi fundado em 20 de Abril de 1870 com o nome de Grémio Militar.
"Aos vinte dias do mês de Abril de 1870, na sala dos oficiais do Quartel do Batalhão de Infantaria, reunidos os oficiais ao serviço do referido Batalhão, propôs o Alferes Dores organizar-se um Grémio não só para ponto de reunião, como, mui principalmente, para nele se estabelecer uma biblioteca de livros militares, científicos e de qualquer outro assunto, havendo também jornais, jôgo de armas e de todos os permitidos por lei.Aceite a proposta pela corporação, nomeou o chefe da mesa preparatória, da qual tomou a presidência, a fim de imediatamente se proceder por escrutinio à eleição dos oficiais que deviam elaborar o projecto de estatutos para o referido Grémio.
Recolhidos os votos, foram eleitos: presidente, o capitão Manuel de Azevedo Coutinho, vogais, o tenente Henrique Augusto Dias de Carvalho e o Alferes Rafael das Dores, sendo este o secretário. Nomeada a comissão, ficou logo convencionado que podiam ser sócios do Grémio todos os oficiais do exercito, marinha, reformados e aspirantes. Em seguida o presidente deu a mesa por dissolvida e encarregou a comissão de fazer convidar para sócios todos os oficiais nas circunstâncias acima, sendo estes os fundadores, os quais avisariam para as sessões em que forem presentes os estatutos, e assim terminou esta reunião do dia 20 de Abril de 1870. Ass) - Domingos José d' Almeida Barbosa - tenente-coronel."
Os primeiros estatutos do Grémio Militar foram aprovados pelo Governo a 24 de Janeiro de 1871 e publicados a 31 do mesmo mês no "Boletim de Macau e Timor" ano 1871, Vol. n.° 5 - 30-1-1871.No início admitia apenas como sócios os oficiais militares. No entanto, cedo se abriu à sociedade civil passando a admitir também como sócios os funcionários superiores da Administração.O Grémio Militar organizou uma biblioteca riquíssima em que existiam as primeiras edições de obras de Camilo, Eça, Antero, Ramalho, Junqueiro, Enes, e tantos outros.
Pelo Grémio passaram conferencistas de prestígio - José Maria Teixeira de Guimarães e Cardeal D. José da Costa Nunes - poetas consagrados - Camilo Pessanha - e jornalistas de mérito - Silva Mendes. E foram organizados muitos saraus, bailes e concertos...
(Manuel de Azevedo Coutinho (na foto parece o general Lee da guerra civil americana...)
As instituições, como as pessoas, têm na sua existência altos e baixos. No caso do CMM esses anos foram os de 1941 a 1951.De facto, durante a Guerra do Pacífico (1941-1945) o edifício da sede do Grémio Militar foi requisitada pelo Governo para albergar refugiados de Hong Kong.O rico mobiliário e biblioteca foram guardados no armazém das Obras Públicas no Bairro 28 de Maio. No entanto, o longo período da Guerra, a rotação do pessoal militar, fizeram arrefecer o espírito associativo e, quer o mobiliário, quer a biblioteca se perderam por completo. E, no fim da Guerra, o Governo instalou na sede do Grémio a Repartição da Fazenda.Construído e inaugurado o Palácio das Repartições, o edifício do velho Grémio foi devolvido aos sócios em 1951.
O arquivo do pó
“Em um dos meses do ano de 1909, Dezembro se a memória não me falha...” escreve Abílio Magro, o governador civil de Lisboa, João de Azevedo Coutinho, deu- lhe instruções para se deslocar a Espanha a fim de obter por compra ao famigerado António de Albuquerque o autógrafo de um livro com revelações sobre o regicídio, A execução do Rei Carlos. Uma vez que já não era secretário particular do juiz de Instrução, Abílio Magro vai a Granada como agente de confiança. Hospedado no Hotel Victoria, entra em contacto com o “Lêndea” que queria ficar à força na história.A execução do Rei Carlos é mais um livro de escândalos de Albuquerque, neste caso um diálogo de obscenidades entre ele e um seu amigo regicida fictício, de nome Fabrício de Lemos. Dois terços do livro descrevem a vida voluptuosa do autor com uma escrava sexual Fatimah que trouxera de Marrocos, o outro terço os preparativos do regicídio, numa variante sentimentalona e balofa de A Filosofia na Alcova, do marquês de Sade. A nota introdutória diz o seguinte: «À inolvidável memória dos mártires da mais sublime das causas, a menos compreendida e a mais caluniada. Que Buíça e Costa descansem em paz eterna entre as flores com que mãos piedosas cobriram as suas campas de heróis e sob as bençãos que desde a terra lhes enviam os seus camaradas oprimidos! Saudade para as suas memórias, perseverança e coragem para nós.»Comprado por 120$00 ao Albuquerque um manuscrito, Magro regressa com uma das fontes primárias sobre a conspiração do regicídio e o Grupo dos 18 nela empenhado. Esse Grupo dos 18 de onde saíram os regicidas era constituído por José Nunes, Vergílio de Sá Alfredo Costa, Manuel Buíça,professor; e Domingos Fernandes Guimarães, caixeiro, Artur dos Santos Silva, operário; Saul Simões Sério, comerciante; Carlos Kopke, bancário; António Rodrigues Pires; Armando Octávio Dias, Roque de Miranda; António José dos Santos; industrial; Francisco Soares; A. Figueiredo Lima; Manuel pereira da Silva e um francês, um italiano e um catalão, como representantes das organizações anarquistas dos respectivas países. Nesta lista, onde a par de nomes comprovados existem outros duvidosos, assinala-se a presença dos estrangeiros em conformidade como as indicações de Magalhães Lima com quem partilhava conhecimentos e segundo Rocha Martins, “o famigerado Francisco Ferrer não foi de todo alheia ao que então se passou em Portugal”.No regresso, recebido por Azevedo Coutinho no palácio da rua da Rosa, Abílio Magro entrega-lhe o autógrafo de trezentas páginas. O governador civil de Lisboa considerou-o tão importante que o levou, no dia seguinte, a D. Manuel II, então em Vila Viçosa a acompanhar a visita de Afonso XIII de Espanha. D. Manuel estimou devidamente o alto serviço prestado e entendeu dispensar a sua protecção a Magro. Este, sendo candidato a um lugar de escrivão de direito do cível, pedia preferência perante um indivíduo protegido pela “aristocracia feminina” e pelo ministro da justiça João de Alarcão. Todos os sinais são de que o rei se empenhou, como testemunharam o conde de Tarouca e João Azevedo Coutinho. Mas os dias e semanas passaram e o provimento do lugar não chegou. Nem por isso Abílio Magro deixou de continuar a recolher materiais sobre os regicidas.
Comentário:
1- Transcrevo este comentário de um blogue.
2-Parece-me que João Azevedo Coutinho seria parente muito próximo de Manuel de Azevedo Coutinho ( senão mesmo, irmão). Um era da marinha, outro do exército. Manuel. foi o fundador do Clube Militar de Macau.
O Livro está à venda (se existir em sotck), em www.alfarrabista.com/
O Post seguinte é sobre Manuel de Azevedo Coutinho e o Clube Militar, que actualmente em Macau é "in".
Um próximo post será sobre Abílio Magro. Terá estado alguma vez em Macau? Acho que não, mas vou investigar.
Quem terá sido Abílio Magro?
Comentário:
1- Transcrevo este comentário de um blogue.
2-Parece-me que João Azevedo Coutinho seria parente muito próximo de Manuel de Azevedo Coutinho ( senão mesmo, irmão). Um era da marinha, outro do exército. Manuel. foi o fundador do Clube Militar de Macau.
O Livro está à venda (se existir em sotck), em www.alfarrabista.com/
O Post seguinte é sobre Manuel de Azevedo Coutinho e o Clube Militar, que actualmente em Macau é "in".
Um próximo post será sobre Abílio Magro. Terá estado alguma vez em Macau? Acho que não, mas vou investigar.
Quem terá sido Abílio Magro?
Tuesday, November 27, 2007
Outra vêz o português que nos pariu
Para o Portugal de hoje que se transformou de nacionalista em lusófono e europeu haverá duas datas a comemorar:
A primeira foi a Batalha de Alcântara entre o Prior do Crato e Castela, em 1580 (o Prior do Crato perdeu).
Depois da morte do cardeal-rei, D. Henrique, Portugal perde a independência para Espanha. O domínio dos Habsburgos em Portugal haveria de se manter até 1640 (dizem os manuais de história).
Esta derrota nacional permitiu no entanto que Portugal aumentasse incomensuravelmente os domínios que detinha no Brasil. Sabem porquê?
Porque, com as duas coroas ibéricas unidas, ficava de facto e de direito obliterado o “Tratado de Tordesilhas”. O Brasil podia expandir-se para onde quisesse.
A segunda data a comemorar é a de hoje, 27 de Novembro de 2007. Duzentos anos depois da viragem do avesso do antigo Portugal e de um bom quarto do Mundo.
Sim, foi em 27 de Novembro de 1807, que D. João VI, acompanhado por mais 15 mil pessoas embarcou no Tejo rumo ao Brasil (creio que em cerca de 50 navios, uns de guerra, outros mercantes) a fugir ao avanço de Napoleão e das ideias novas que submergiam como um maremoto a Península Ibérica (e o resto do mundo).
Que decisão difícil não terá sido essa de D. João VI? (ninguém sabe. Nem os historiadores e nem sequer o próprio João VI terão sabido ao certo quando tomou a decisão de embarcar)
- Suponhamos que a Inglaterra, se em circunstâncias semelhantes tivesse decidido mudar-se de S. James Park, para Sidney, na Austrália, que “uproar” não teria sido na Comonwelth.
Se a França tivesse então ganho o domínio dos mares na batalha de Trafalgar? o mundo não seria o que é hoje. “Quelle chagement” -.
Mas claro que os factos históricos dizem-nos que Londres, nunca se confrontou perante tal dilema.
Há duzentos anos o malogrado Lord Nelson, morreu em combate naval, contra os franceses em Trafalgar, e ganhou. A Inglaterra sobrepôs-se a todas as outras nações na soberania dos mares, é um facto. Mas, Napoleão, perdedor no mar, ganhou em terra e tornou-se senhor do continente europeu e das terras do Egipto – actuais Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos (sim! Marrocos, o país onde o nosso Sebastião desejado encontrou a morte).
Seria neste estado de coisas que D. João VI abalaria para o outro lado do oceano a fazer novo Portugal. O Brasil era promovido de colónia a Reino Unido. Uma colónia “mixuruca” passava a Reino Unido. Era obra e visão.
Os intelectuais ainda hoje discutem se D. João VI fez bem, ou mal, em mudar o Estado português para o Brasil. Em minha opinião não fez bem nem mal. Actuou segundo as circunstâncias e permitiu que Portugal seguisse independente e o Brasil pudesse ser actualmente (salvo erro) a quinta potência do mundo em termos económicos.
A primeira foi a Batalha de Alcântara entre o Prior do Crato e Castela, em 1580 (o Prior do Crato perdeu).
Depois da morte do cardeal-rei, D. Henrique, Portugal perde a independência para Espanha. O domínio dos Habsburgos em Portugal haveria de se manter até 1640 (dizem os manuais de história).
Esta derrota nacional permitiu no entanto que Portugal aumentasse incomensuravelmente os domínios que detinha no Brasil. Sabem porquê?
Porque, com as duas coroas ibéricas unidas, ficava de facto e de direito obliterado o “Tratado de Tordesilhas”. O Brasil podia expandir-se para onde quisesse.
A segunda data a comemorar é a de hoje, 27 de Novembro de 2007. Duzentos anos depois da viragem do avesso do antigo Portugal e de um bom quarto do Mundo.
Sim, foi em 27 de Novembro de 1807, que D. João VI, acompanhado por mais 15 mil pessoas embarcou no Tejo rumo ao Brasil (creio que em cerca de 50 navios, uns de guerra, outros mercantes) a fugir ao avanço de Napoleão e das ideias novas que submergiam como um maremoto a Península Ibérica (e o resto do mundo).
Que decisão difícil não terá sido essa de D. João VI? (ninguém sabe. Nem os historiadores e nem sequer o próprio João VI terão sabido ao certo quando tomou a decisão de embarcar)
- Suponhamos que a Inglaterra, se em circunstâncias semelhantes tivesse decidido mudar-se de S. James Park, para Sidney, na Austrália, que “uproar” não teria sido na Comonwelth.
Se a França tivesse então ganho o domínio dos mares na batalha de Trafalgar? o mundo não seria o que é hoje. “Quelle chagement” -.
Mas claro que os factos históricos dizem-nos que Londres, nunca se confrontou perante tal dilema.
Há duzentos anos o malogrado Lord Nelson, morreu em combate naval, contra os franceses em Trafalgar, e ganhou. A Inglaterra sobrepôs-se a todas as outras nações na soberania dos mares, é um facto. Mas, Napoleão, perdedor no mar, ganhou em terra e tornou-se senhor do continente europeu e das terras do Egipto – actuais Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos (sim! Marrocos, o país onde o nosso Sebastião desejado encontrou a morte).
Seria neste estado de coisas que D. João VI abalaria para o outro lado do oceano a fazer novo Portugal. O Brasil era promovido de colónia a Reino Unido. Uma colónia “mixuruca” passava a Reino Unido. Era obra e visão.
Os intelectuais ainda hoje discutem se D. João VI fez bem, ou mal, em mudar o Estado português para o Brasil. Em minha opinião não fez bem nem mal. Actuou segundo as circunstâncias e permitiu que Portugal seguisse independente e o Brasil pudesse ser actualmente (salvo erro) a quinta potência do mundo em termos económicos.
Mas se D. João VI não tivesse fugido para a Brasil o que seriamos nós hoje?
Tenho a minha opinião sobre isso e acho que a vou escrever num dos próximos posts. Será uma especulação semelhante à que seria sobre se Hitler tivesse ganho a guerra de 1939-45 (há um filme que especula sobre isso).
"O Português que nos Pariu" de Ângela Dutra de Menezes, não especula mas "receptacula" (será que existe tal termo em português?).
Já disse em post anterior que vale a pena ler o dito e vale mesmo.
Monday, November 26, 2007
O que é isto?
Hoje estava para postar uma coisa minha. Mas de repente por falta de inspiração, ou de tempo resolvi postar apenas uma pintura soviética.
Autoria: - Yabloskaia
Data: - 1950
Era: - União Soviética.
Autoria: - Yabloskaia
Data: - 1950
Era: - União Soviética.
Friday, November 23, 2007
Uma efeméride da minha preferência que deixei por assinalar o mês passado.
Although the Peninsula War of 1809-1814 has attracted a great deal of attention from historians, the extensive fortifications built in Portugal and known as the Lines of Torres Vedras have received very little attention. As Peninsula War expert Ian Fletcher notes in Osprey's Fortress volume #7 on that subject, only two previous books have focused specifically on these defenses which were so critical to the Duke of Wellington's operational planning. Indeed, Fletcher refers to the lines as "one of the best kept secrets in military history" and he describes the role these defenses played in halting and reversing the French invasion of Portugal in 1810.
The Lines of Torres Vedras 1809-1811 begins with a short introduction and chronology, followed by short sections on the design and development of the lines, Wellington's method of defense, the forts, life in the lines, aftermath and the lines today. Fletcher provides one very nice, 2-page color map of the lines, 2 period maps of the lines, and a map depicting Marshall Massena's retreat. The color plates by artist Bill Younghusband are decent, if not great (constructing one of the forts in the line, a cross-section of the great redoubt at Sobral, Forts 40-42, Fort San Vicente, Wellington inspecting French positions, and attacking a scarped hillside).
Wellington, ordered the construction of an extensive defensive position north of Lisbon in October 1809 in order to provide a final redoubt for the British if pressed by French invasion. Thousands of Portuguese civilians were used as the workforce to construct two main lines of defense, centered upon the craggy hilltops north of their capital. Construction required about one year and the result was a defensive system that stretched over 30 miles from the Atlantic coast to the Tagus River. In addition, Wellington's engineers put a major effort into countermobility operations, destroying all bridges and roads north of the lines to impede any French advance. As Fletcher notes, the lines were not a continuous barrier but a series of forts with interlocking fields of fire, barriers and defenses in depth. Wellington also instituted a "scorched earth" policy north of the lines, destroying grain and livestock as well as evacuating Portuguese civilians, in order to deny the French a source of food or labor.
The lines were finished just in time, as Marshal Massena's army approached Lisbon in October 1810. Wellington manned the fortifications themselves with 30,000 Portuguese troops and over 400 cannon, leaving his 29,000 British troops as a mobile reserve to counterattack any French penetration. Massena's army, already punished by a difficult march across Portugal and the painful Battle of Bussaco two weeks earlier, was dismayed when they bumped into the unexpectedly formidable Allied defenses. After sniffing around the east end of the lines for a month - including mounting a minor probe at one small section - the poorly-supplied French army began to withdraw.
In Fletcher's assessment, the Lines of Torres Vedras were "a total success" because they stopped the French invasion dead in its tracks. Fletcher, as some other British historians are prone to do, even refers to the lines as "impregnable." Yet is there really such a thing as an "impregnable defense" or is this merely a tradition of biased hyperbole? As Fletcher describes, most of the forts of the lines of Torres Vedras were built of dirt earthworks, some with stone walls, on top of very advantageous terrain. However, a key weakness was that the forts had little or no overhead cover and were therefore vulnerable to plunging fire from French mortars or howitzers. Fletcher fails to mention that Massena's army had such mortars and that they had been used to reduce the far more impressive stone fortress of Almeida only seven weeks prior. It is also questionable whether the British had a real plan to defend the lines in time of limited visibility, such as darkness or fog (granted, night attacks were rare in this period). In fact, Fletcher notes that the French used the extensive fog in the area to cover their withdrawal. However, the greatest weakness of the lines was logistical. Although the Royal Navy brought in enough supplies to feed the British army, the Portuguese capital jammed with thousands of refugees was vulnerable to starvation. Indeed, Fletcher estimates that about 2% of the Portuguese population starved to death in this brief period of French invasion. What if Massena had merely begun constructing his own double line of defense, say 5 kilometers north of Torres Vedras, to keep the British in and starve the Portuguese out? Since the British had destroyed all the roads and bridges in front of their own defenses, they would have found it difficult to attack out of the lines. Fletcher is fair in assessing that the lines remain "something of an enigma" since they were never truly tested by the French. Unfortunately, Fletcher is less than fair in assessing why the French failed to test the defenses. Massena's army had an extremely tenuous line of supply back to Spain, much of which was partially interdicted by guerrillas. At best, Massena had about 55,000 troops to try and batter through a fortified line held by about 52,000 Anglo-Portuguese troops. A 1:1 odds attack, virtually out of supply against an entrenched enemy with naval support would have been very foolhardy and could have resulted in the dissolution of the French Army of Portugal. Massena wisely chose to withdraw in order to re-supply. Thus, the Lines of Torres Vedras have always seemed very formidable because operational circumstances were so unfavorable for the French from the start. Yet had Napoleon decided to make a major effort in the Peninsula in 1811 and spend the effort to build up a series of logistical bases and roads into Portugal, Monsieur Wellington might have found that it took a lot more than well-sited dirt forts to stop the Grande Armée.
The Lines of Torres Vedras 1809-1811 begins with a short introduction and chronology, followed by short sections on the design and development of the lines, Wellington's method of defense, the forts, life in the lines, aftermath and the lines today. Fletcher provides one very nice, 2-page color map of the lines, 2 period maps of the lines, and a map depicting Marshall Massena's retreat. The color plates by artist Bill Younghusband are decent, if not great (constructing one of the forts in the line, a cross-section of the great redoubt at Sobral, Forts 40-42, Fort San Vicente, Wellington inspecting French positions, and attacking a scarped hillside).
Wellington, ordered the construction of an extensive defensive position north of Lisbon in October 1809 in order to provide a final redoubt for the British if pressed by French invasion. Thousands of Portuguese civilians were used as the workforce to construct two main lines of defense, centered upon the craggy hilltops north of their capital. Construction required about one year and the result was a defensive system that stretched over 30 miles from the Atlantic coast to the Tagus River. In addition, Wellington's engineers put a major effort into countermobility operations, destroying all bridges and roads north of the lines to impede any French advance. As Fletcher notes, the lines were not a continuous barrier but a series of forts with interlocking fields of fire, barriers and defenses in depth. Wellington also instituted a "scorched earth" policy north of the lines, destroying grain and livestock as well as evacuating Portuguese civilians, in order to deny the French a source of food or labor.
The lines were finished just in time, as Marshal Massena's army approached Lisbon in October 1810. Wellington manned the fortifications themselves with 30,000 Portuguese troops and over 400 cannon, leaving his 29,000 British troops as a mobile reserve to counterattack any French penetration. Massena's army, already punished by a difficult march across Portugal and the painful Battle of Bussaco two weeks earlier, was dismayed when they bumped into the unexpectedly formidable Allied defenses. After sniffing around the east end of the lines for a month - including mounting a minor probe at one small section - the poorly-supplied French army began to withdraw.
In Fletcher's assessment, the Lines of Torres Vedras were "a total success" because they stopped the French invasion dead in its tracks. Fletcher, as some other British historians are prone to do, even refers to the lines as "impregnable." Yet is there really such a thing as an "impregnable defense" or is this merely a tradition of biased hyperbole? As Fletcher describes, most of the forts of the lines of Torres Vedras were built of dirt earthworks, some with stone walls, on top of very advantageous terrain. However, a key weakness was that the forts had little or no overhead cover and were therefore vulnerable to plunging fire from French mortars or howitzers. Fletcher fails to mention that Massena's army had such mortars and that they had been used to reduce the far more impressive stone fortress of Almeida only seven weeks prior. It is also questionable whether the British had a real plan to defend the lines in time of limited visibility, such as darkness or fog (granted, night attacks were rare in this period). In fact, Fletcher notes that the French used the extensive fog in the area to cover their withdrawal. However, the greatest weakness of the lines was logistical. Although the Royal Navy brought in enough supplies to feed the British army, the Portuguese capital jammed with thousands of refugees was vulnerable to starvation. Indeed, Fletcher estimates that about 2% of the Portuguese population starved to death in this brief period of French invasion. What if Massena had merely begun constructing his own double line of defense, say 5 kilometers north of Torres Vedras, to keep the British in and starve the Portuguese out? Since the British had destroyed all the roads and bridges in front of their own defenses, they would have found it difficult to attack out of the lines. Fletcher is fair in assessing that the lines remain "something of an enigma" since they were never truly tested by the French. Unfortunately, Fletcher is less than fair in assessing why the French failed to test the defenses. Massena's army had an extremely tenuous line of supply back to Spain, much of which was partially interdicted by guerrillas. At best, Massena had about 55,000 troops to try and batter through a fortified line held by about 52,000 Anglo-Portuguese troops. A 1:1 odds attack, virtually out of supply against an entrenched enemy with naval support would have been very foolhardy and could have resulted in the dissolution of the French Army of Portugal. Massena wisely chose to withdraw in order to re-supply. Thus, the Lines of Torres Vedras have always seemed very formidable because operational circumstances were so unfavorable for the French from the start. Yet had Napoleon decided to make a major effort in the Peninsula in 1811 and spend the effort to build up a series of logistical bases and roads into Portugal, Monsieur Wellington might have found that it took a lot more than well-sited dirt forts to stop the Grande Armée.
Digo eu: O autor deste comentário ( que em minha opinião não está mau) é R. A Forczyc (deve ser descendente de polacos). Vem na Amazon é só clicar para ver o que se diz mais sobre o livro.
É interessante assinalar que as Linhas de Torres ainda hoje são consideradas como um dos mais bem guardados segredos de guerra do Mundo. Esse segredo fez com que Massena, se deparasse subitamente com um muro intransponível, quando julgava que Lisboa estaria a seus pés em poucos dias. O segredo das Linhas de Torres, permitiu a Portugal, não só defender-se, mas também, contra atacar os exércitos invasores de Napoleão e a seguir "correr os franceses até Tulosa" como dizia meu tetravô que deixou o dito, dito nas lembranças de família até hoje.
E-mail a um blogue anónimo com a fotografia do meu cão que se está bem a cagar para a situação.
Monólogo de um bloguista anónimo com outro.
Eu não sei quem V. Exª. Seja, embora tivesse interesse em saber. Se soubesse poderia introduzir nestes debates que mantêm no seu blog o factor conhecimento. Nesse caso, poderia explorar-lhe os pontos fracos. Por exemplo: poderia, escrever, nos comentários, que quando disse, é por que... ou quando deixou de dizer foi por que...
Eu sei que há maneiras de descobrir tudo no mundo cibernético, mas como pertenço a uma geração anterior à existência da palavra “hacker”, limito-me a usufruir do que o meu monitor me mostra e pouco mais.
Devo dizer neste momento que, monitor é para mim é também uma palavra nova, já que o que eu via, há, digamos, vinte anos atrás, era um “ecrã”. Mas, agora, como o mundo é composto de mudança concedo que não tenha à frente dos meus olhos um “ecran” francês, mas um “monitor” anglo-saxónico. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Assim, também nos comandos do meu computador não sei qual é o que serve para descobrir quem é V. Exª.
V. Exª, mais dotado que eu em matéria cibernética com certeza saberá, já quem eu sou (dizem-me que os computadores descobrem logo qual a proveniências das mensagens). Provavelmente, de tão inepto a minha identidade não conseguirei ter escondido como devia, por exemplo, numa carta anónima, quanto mais, muito menos, em página “webb” o conseguiria.
Serve esta introdução para dizer que, se a informática implementou um mundo novo, na comunicação social, os blogs aproveitaram-na. Tal como os “hippies” da América, ou os anarquistas estudantes, do Maio de 68, da França (vamos aproveitar a liberdade que temos, para dela usufruir ao máximo. Não é isso que a palavra liberdade significa, usufruir? Diziam eles). Como concordo com essa visão “sartriana” do quotidiano, não posso estar mais de acordo com os blogs.
Enquanto o jornalista vulgar evolui numa cadeia de comando parecida com todas as hierarquias (mesmo as militares) o bloguista não.
Enquanto o jornalista sofre a censura, ou se auto-censura, o bloguista não.
Enquanto o jornalista preserva a boa conduta para preservar o salário, o bloguista (que não tem salário) não.
Enquanto o jornalista assina e/ou é conhecido, e por isso paga o preço do que escreve, o bloguista nem é conhecido nem assina. Por isso não paga preço nenhum.
Poderão dizer-me: Áh! Muito bem, mas o bloguista não é credível porque é anónimo, enquanto o funcionário do jornalismo tem obrigações e códigos de conduta e preservação das fontes e outras éticas que tais.
Mas que ética possui o jornalista “á la large”? Trabalha por conta de outrem, faz as notícias que a cadeia de comando lhe manda fazer e, às tantas acaba por deixar escrito, radiodifundido, ou televisionado, não o que viu, ou ouviu, mas muitas vezes apenas o que foi condicionado a transmitir, ainda que subconscientemente. Depois, quando chega a casa, ou ao bar, ou ao clube, revê o dia e descobre, que foi enganado. Afinal o seu trabalho, se calhar, não constituiu tanto uma notícia mas mais um anúncio publicitário de qualquer coisa que não estava nos seus planos. Boa desculpa para afogar em cerveja, ou whisky, ou nuns “shots” avulsos, os tantos mil caracteres que escreveu sobre, sabe-se lá o quê, e em nome de quem.
O bloguista não, porque o bloguista tem uma agenda que pode prosseguir sem interferências, a não ser as das suas próprias mudanças de humor e convicções. Neste ponto convêm fazer doutrina e é a seguinte:
- Em matéria de convicções, todos sabemos, que, são raros os que as mantêm mais do que por um período determinado, mas raramente por uma vida inteira a mesma opinião -se calhar Cunhal, foi uma honrada excepção a esta regra. Como dizia o velho Camões: “todo o mundo é composto de mudança” e o baladeiro dos anos 70 do século passado acrescentava: “troquemos-lhe as voltas porque o dia é uma criança” (quem dizia isto? Era o Sérgio Godinho, era o Letria? (O Rui Veloso, não era de certeza, nem o Jorge Palma, que esses vêm do rock português, caldeado nas holandas, que não se metiam (então e em princípio de carreira) nessas coisas da política propriamente dita. Passavam “a la large”, como disse sobre isso.
O bloguista, hoje, diz uma coisa, amanhã diz outra, e aqui está a importância do bloguismo, ou seja; reconhecer na verdade de hoje a mentira de ontem. Isto não se faz nos órgãos de comunicação social convencionais, onde os desmentidos por mais honestos que sejam vão inevitavelmente para o caixote do lixo, se forem anónimos e não acompanhados de identificação completa, para que o editor os tenha em conta e os mande pôr em letra de forma.
Outra coisa importante é a interacção com o leitor, que elogia, concorda, discorda, ou apenas insulta pelo prazer de insultar, na área, ou na janela dos comentários (não sei exactamente qual o termo informático para designar o sítio onde se coloca o “veneno” do leitor/comentador bloguista), mas não precisa de se identificar, o que é bom. Mas o “veneno”, ou a inocuidade, só é publicada se o bloguista a isso estiver disposto. E o bloguista só publica, se para aí estiver virado, situação que me parece perfeitamente ética e que dispensa qualquer “Provedor de justiça”.
- Eu, bloguista, só publico o que acho que tem interesse no meu blogue. Ponto parágrafo, e mais doutrina feita.
Ora! aqui está um preceito, que me parece muito mais transparente e ético, do que o dos provedores, que têm em conta a Constituição da República, o Código Civil, o Código Comercial, mas também, o Código dos Partisans, o “Código dos Dinossauros” (que é uma obra escrita, segundo me parece, antes da primeira idade do gelo. Já lá vão mais de vinte milhões de anos), reescrita no “Bagahavad Ghita”, cinzelada numas tantas pedras, no tempo de Moisés; reescrita por S. Paulo, numas cartas aos coríntios, ou coisa que o valha; editada em nova versão no Corão e, actualmente em projecto de revisão, moderna e actualizada, pela Igreja da Cientologia (Em versão de cordel, corre nas livrarias com a chancela da Igreja Maná e mais umas quantas seitas de igual teor – a 14 K, Soi Fong, ou Grande Círculo, ficam à partida excluídas, não só por que, é assunto interno da China, mas também porque no mundo ocidental ninguém sabe o que sejam e além disso não fazem pregação, nem têm canais de televisão).
Tudo isto pode no entanto voltar aos cânones e ao politicamente correcto, se os tais gestores dos “servidores” desconhecidos, onde os bloguistas se instalam forem desmascarados pelos “hackers”, como comecei por dizer. E então pode acontecer isto:
- Áh, és tu que escreves isto, constata o “hacker”, qual polícia de costumes.
- Estás descoberto! e aponta-lhe o dedo e manda-lhe a polícia à porta, acompanhada pelos provedores e oficiais de diligências, que costumam acompanhar os actos oficiais em circunstâncias assim.
Nessa altura, a liberdade que se instalou há pouco tempo (digamos cinco, ou seis anos atrás), estará perdida para sempre. E nessas circunstâncias voltaremos a ter apenas como fonte de comunicação de notícias e ideias, os velhos jornais, as velhas televisões e as velhas rádios. Tudo isso porque, face à retirada da couraça do anonimato ao bloguista, não resta alternativa, senão a de ajoelhar perante o cruzado, que lhe aponta a espada ao peito:
-Ou crês ou morres. Esta é uma expressão medieval que traduzida para a situação apontada quer dizer mais, ou menos isto:
- Ou acabas com o blogue, ou ficas sem emprego no sítio onde trabalhas).
Claro que, ao mouro inerme, tal como nos tempos medievais, sem saída viável, só ocorrerá uma resposta:
- Rendo-me, diz, espojado em sangue no campo de batalha. O meu blogue escreverá o que quiserdes e o que a Santa Inquisição, entender que deve ser escrito, ou então acabo com ele e peço desculpa.
O cruzado sorrirá e, recolherá a espada contente por ter feito mais um convertido à sua santa causa. A Igreja ganhou mais um convertido. O cruzado diminuiu um pecado à sua lista de iniquidades. Bom negócio!
O bloguista suspirará de alívio, não só por não ter sido morto (agora já não se praticam barbaridades assim tão directas como nos tempos de antanho), mas principalmente por que o seu salário continuará a ser depositado na sua conta bancária no mês, que vem. Que Mundo este!...
É por isso que me debato entre o desejo de saber quem o senhor autor do blogue anónimo seja e a vontade de que as minhas tentativas resultem não num fracasso, mas na continuação das minhas cogitações sobre quem V. Exª possa ser.
Devo dizer-lhe neste ponto que, não há pior coisa no mundo do que conhecer um autor. Falo por experiência própria e digo-lhe o seguinte: Agradeço a Deus nunca ter conhecido pessoalmente, Tolstoi, ou Dumas, ou Sartre, figuras pelas quais continuo a ter uma veneração igual à que teria se fosse católico praticante, por S. João Baptista, Santa Catarina, ou, Santa Teresa do Menino Jesus, ou o nosso Santo António, das formiguinhas. É que conhecer um autor é a desilusão total. Pura e simplesmente não são iguais ao que escrevem. Tal e qual como as vozes da rádio, colocadas e imponentes. Quando conhecidas pessoalmente são apenas pessoas com os defeitos mais patentes no físico e no semblante, do que as virtudes, que se impõem nas suas laringes dotadas.
Assim, e a menos, que algum inconfidente me diga e, com isso estrague a minha investigação (que o meu subconsciente pede que se mantenha “ad eterno”, sem resultado, mas sempre com esperança), para mim o mistério e o encanto continua.
- Quem será V. Exª.? diria Camilo, ou Eça e, sem dúvida, se o soubesse, mataria a personagem no penúltimo capítulo da novela se o conhecesse pessoalmente, por falta de merecimento.
Por isso, digo eu, descoberto o autor da peça, os meus comentários, apenas poderiam conter coisa prosaicas como as que disse no princípio deste meu escrito:
- O senhor bloguista, disse isto porque assim. O senhor bloguista deixou de dizer e sei muito bem porquê! Àh malandro!...
Enquanto isso não acontecer continuarei a ser um indefectível leitor e defensor dos blogues e principalmente dos bloguistas que têm a coragem de os manter.
Afinal, para mim “blogar” (será que inventei um neologismo, ou alguém já colocou a palavra no dicionário da academia?) é a mesma coisa que conversar com os amigos e possui uma vantagem, tem muito menos peias e muitíssimo menos restrições.
Abaixo as convenções sociais vivam os blogues enquanto puderem durar livres e anónimos.
Áh! e essencialmente viva a essência do provérbio anarquista: - Há governo? Sou contra!
PS. Devo dizer que continuo a tentar, mas não consigo fazer um blogue competente e de acordo com as regras da informática. Há um campo que, não está devidamente preenchido, há outro que deveria preencher de outra maneira... enfim, sou um zero a informática. Por isso, com humildade continuo a limitar-me a deixar comentários nos blogues dos outros. A conversar “vis a vis”, com amigos ignotos, sobre as maravilhas da técnica, os avanços da ciência, a política; ou simplesmente a cortar na casaca do vizinho. Enfim, exercito os ”Serões da Aldeia”, do século XIX, quando deveria estar a redigir com o resto dos cibernautas deste mundo os “Serões da Aldeia Global” do século XXI.
Mas, se calhar, na reforma hei-de ter tempo para perceber os milagres do mundo moderno e então, então...Hei-de fazer mesmo uma televisão por computador. Pensei dar-lhe o nome de “Al Jazeera”, mas parece que já há um canal com esse nome.
Eu não sei quem V. Exª. Seja, embora tivesse interesse em saber. Se soubesse poderia introduzir nestes debates que mantêm no seu blog o factor conhecimento. Nesse caso, poderia explorar-lhe os pontos fracos. Por exemplo: poderia, escrever, nos comentários, que quando disse, é por que... ou quando deixou de dizer foi por que...
Eu sei que há maneiras de descobrir tudo no mundo cibernético, mas como pertenço a uma geração anterior à existência da palavra “hacker”, limito-me a usufruir do que o meu monitor me mostra e pouco mais.
Devo dizer neste momento que, monitor é para mim é também uma palavra nova, já que o que eu via, há, digamos, vinte anos atrás, era um “ecrã”. Mas, agora, como o mundo é composto de mudança concedo que não tenha à frente dos meus olhos um “ecran” francês, mas um “monitor” anglo-saxónico. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Assim, também nos comandos do meu computador não sei qual é o que serve para descobrir quem é V. Exª.
V. Exª, mais dotado que eu em matéria cibernética com certeza saberá, já quem eu sou (dizem-me que os computadores descobrem logo qual a proveniências das mensagens). Provavelmente, de tão inepto a minha identidade não conseguirei ter escondido como devia, por exemplo, numa carta anónima, quanto mais, muito menos, em página “webb” o conseguiria.
Serve esta introdução para dizer que, se a informática implementou um mundo novo, na comunicação social, os blogs aproveitaram-na. Tal como os “hippies” da América, ou os anarquistas estudantes, do Maio de 68, da França (vamos aproveitar a liberdade que temos, para dela usufruir ao máximo. Não é isso que a palavra liberdade significa, usufruir? Diziam eles). Como concordo com essa visão “sartriana” do quotidiano, não posso estar mais de acordo com os blogs.
Enquanto o jornalista vulgar evolui numa cadeia de comando parecida com todas as hierarquias (mesmo as militares) o bloguista não.
Enquanto o jornalista sofre a censura, ou se auto-censura, o bloguista não.
Enquanto o jornalista preserva a boa conduta para preservar o salário, o bloguista (que não tem salário) não.
Enquanto o jornalista assina e/ou é conhecido, e por isso paga o preço do que escreve, o bloguista nem é conhecido nem assina. Por isso não paga preço nenhum.
Poderão dizer-me: Áh! Muito bem, mas o bloguista não é credível porque é anónimo, enquanto o funcionário do jornalismo tem obrigações e códigos de conduta e preservação das fontes e outras éticas que tais.
Mas que ética possui o jornalista “á la large”? Trabalha por conta de outrem, faz as notícias que a cadeia de comando lhe manda fazer e, às tantas acaba por deixar escrito, radiodifundido, ou televisionado, não o que viu, ou ouviu, mas muitas vezes apenas o que foi condicionado a transmitir, ainda que subconscientemente. Depois, quando chega a casa, ou ao bar, ou ao clube, revê o dia e descobre, que foi enganado. Afinal o seu trabalho, se calhar, não constituiu tanto uma notícia mas mais um anúncio publicitário de qualquer coisa que não estava nos seus planos. Boa desculpa para afogar em cerveja, ou whisky, ou nuns “shots” avulsos, os tantos mil caracteres que escreveu sobre, sabe-se lá o quê, e em nome de quem.
O bloguista não, porque o bloguista tem uma agenda que pode prosseguir sem interferências, a não ser as das suas próprias mudanças de humor e convicções. Neste ponto convêm fazer doutrina e é a seguinte:
- Em matéria de convicções, todos sabemos, que, são raros os que as mantêm mais do que por um período determinado, mas raramente por uma vida inteira a mesma opinião -se calhar Cunhal, foi uma honrada excepção a esta regra. Como dizia o velho Camões: “todo o mundo é composto de mudança” e o baladeiro dos anos 70 do século passado acrescentava: “troquemos-lhe as voltas porque o dia é uma criança” (quem dizia isto? Era o Sérgio Godinho, era o Letria? (O Rui Veloso, não era de certeza, nem o Jorge Palma, que esses vêm do rock português, caldeado nas holandas, que não se metiam (então e em princípio de carreira) nessas coisas da política propriamente dita. Passavam “a la large”, como disse sobre isso.
O bloguista, hoje, diz uma coisa, amanhã diz outra, e aqui está a importância do bloguismo, ou seja; reconhecer na verdade de hoje a mentira de ontem. Isto não se faz nos órgãos de comunicação social convencionais, onde os desmentidos por mais honestos que sejam vão inevitavelmente para o caixote do lixo, se forem anónimos e não acompanhados de identificação completa, para que o editor os tenha em conta e os mande pôr em letra de forma.
Outra coisa importante é a interacção com o leitor, que elogia, concorda, discorda, ou apenas insulta pelo prazer de insultar, na área, ou na janela dos comentários (não sei exactamente qual o termo informático para designar o sítio onde se coloca o “veneno” do leitor/comentador bloguista), mas não precisa de se identificar, o que é bom. Mas o “veneno”, ou a inocuidade, só é publicada se o bloguista a isso estiver disposto. E o bloguista só publica, se para aí estiver virado, situação que me parece perfeitamente ética e que dispensa qualquer “Provedor de justiça”.
- Eu, bloguista, só publico o que acho que tem interesse no meu blogue. Ponto parágrafo, e mais doutrina feita.
Ora! aqui está um preceito, que me parece muito mais transparente e ético, do que o dos provedores, que têm em conta a Constituição da República, o Código Civil, o Código Comercial, mas também, o Código dos Partisans, o “Código dos Dinossauros” (que é uma obra escrita, segundo me parece, antes da primeira idade do gelo. Já lá vão mais de vinte milhões de anos), reescrita no “Bagahavad Ghita”, cinzelada numas tantas pedras, no tempo de Moisés; reescrita por S. Paulo, numas cartas aos coríntios, ou coisa que o valha; editada em nova versão no Corão e, actualmente em projecto de revisão, moderna e actualizada, pela Igreja da Cientologia (Em versão de cordel, corre nas livrarias com a chancela da Igreja Maná e mais umas quantas seitas de igual teor – a 14 K, Soi Fong, ou Grande Círculo, ficam à partida excluídas, não só por que, é assunto interno da China, mas também porque no mundo ocidental ninguém sabe o que sejam e além disso não fazem pregação, nem têm canais de televisão).
Tudo isto pode no entanto voltar aos cânones e ao politicamente correcto, se os tais gestores dos “servidores” desconhecidos, onde os bloguistas se instalam forem desmascarados pelos “hackers”, como comecei por dizer. E então pode acontecer isto:
- Áh, és tu que escreves isto, constata o “hacker”, qual polícia de costumes.
- Estás descoberto! e aponta-lhe o dedo e manda-lhe a polícia à porta, acompanhada pelos provedores e oficiais de diligências, que costumam acompanhar os actos oficiais em circunstâncias assim.
Nessa altura, a liberdade que se instalou há pouco tempo (digamos cinco, ou seis anos atrás), estará perdida para sempre. E nessas circunstâncias voltaremos a ter apenas como fonte de comunicação de notícias e ideias, os velhos jornais, as velhas televisões e as velhas rádios. Tudo isso porque, face à retirada da couraça do anonimato ao bloguista, não resta alternativa, senão a de ajoelhar perante o cruzado, que lhe aponta a espada ao peito:
-Ou crês ou morres. Esta é uma expressão medieval que traduzida para a situação apontada quer dizer mais, ou menos isto:
- Ou acabas com o blogue, ou ficas sem emprego no sítio onde trabalhas).
Claro que, ao mouro inerme, tal como nos tempos medievais, sem saída viável, só ocorrerá uma resposta:
- Rendo-me, diz, espojado em sangue no campo de batalha. O meu blogue escreverá o que quiserdes e o que a Santa Inquisição, entender que deve ser escrito, ou então acabo com ele e peço desculpa.
O cruzado sorrirá e, recolherá a espada contente por ter feito mais um convertido à sua santa causa. A Igreja ganhou mais um convertido. O cruzado diminuiu um pecado à sua lista de iniquidades. Bom negócio!
O bloguista suspirará de alívio, não só por não ter sido morto (agora já não se praticam barbaridades assim tão directas como nos tempos de antanho), mas principalmente por que o seu salário continuará a ser depositado na sua conta bancária no mês, que vem. Que Mundo este!...
É por isso que me debato entre o desejo de saber quem o senhor autor do blogue anónimo seja e a vontade de que as minhas tentativas resultem não num fracasso, mas na continuação das minhas cogitações sobre quem V. Exª possa ser.
Devo dizer-lhe neste ponto que, não há pior coisa no mundo do que conhecer um autor. Falo por experiência própria e digo-lhe o seguinte: Agradeço a Deus nunca ter conhecido pessoalmente, Tolstoi, ou Dumas, ou Sartre, figuras pelas quais continuo a ter uma veneração igual à que teria se fosse católico praticante, por S. João Baptista, Santa Catarina, ou, Santa Teresa do Menino Jesus, ou o nosso Santo António, das formiguinhas. É que conhecer um autor é a desilusão total. Pura e simplesmente não são iguais ao que escrevem. Tal e qual como as vozes da rádio, colocadas e imponentes. Quando conhecidas pessoalmente são apenas pessoas com os defeitos mais patentes no físico e no semblante, do que as virtudes, que se impõem nas suas laringes dotadas.
Assim, e a menos, que algum inconfidente me diga e, com isso estrague a minha investigação (que o meu subconsciente pede que se mantenha “ad eterno”, sem resultado, mas sempre com esperança), para mim o mistério e o encanto continua.
- Quem será V. Exª.? diria Camilo, ou Eça e, sem dúvida, se o soubesse, mataria a personagem no penúltimo capítulo da novela se o conhecesse pessoalmente, por falta de merecimento.
Por isso, digo eu, descoberto o autor da peça, os meus comentários, apenas poderiam conter coisa prosaicas como as que disse no princípio deste meu escrito:
- O senhor bloguista, disse isto porque assim. O senhor bloguista deixou de dizer e sei muito bem porquê! Àh malandro!...
Enquanto isso não acontecer continuarei a ser um indefectível leitor e defensor dos blogues e principalmente dos bloguistas que têm a coragem de os manter.
Afinal, para mim “blogar” (será que inventei um neologismo, ou alguém já colocou a palavra no dicionário da academia?) é a mesma coisa que conversar com os amigos e possui uma vantagem, tem muito menos peias e muitíssimo menos restrições.
Abaixo as convenções sociais vivam os blogues enquanto puderem durar livres e anónimos.
Áh! e essencialmente viva a essência do provérbio anarquista: - Há governo? Sou contra!
PS. Devo dizer que continuo a tentar, mas não consigo fazer um blogue competente e de acordo com as regras da informática. Há um campo que, não está devidamente preenchido, há outro que deveria preencher de outra maneira... enfim, sou um zero a informática. Por isso, com humildade continuo a limitar-me a deixar comentários nos blogues dos outros. A conversar “vis a vis”, com amigos ignotos, sobre as maravilhas da técnica, os avanços da ciência, a política; ou simplesmente a cortar na casaca do vizinho. Enfim, exercito os ”Serões da Aldeia”, do século XIX, quando deveria estar a redigir com o resto dos cibernautas deste mundo os “Serões da Aldeia Global” do século XXI.
Mas, se calhar, na reforma hei-de ter tempo para perceber os milagres do mundo moderno e então, então...Hei-de fazer mesmo uma televisão por computador. Pensei dar-lhe o nome de “Al Jazeera”, mas parece que já há um canal com esse nome.
Thursday, November 22, 2007
E o português que nos pariu...
E o “português que nos pariu?
É livro que vale a pena ler.
Não diz nada de novo sobre nada, mas tem uma escrita admirável.
É escrito em português brasileiro. Fica melhor ainda.
História condensada de Portugal, virada para o descobrimento do Brasil em luso fonia nova.
É um livro indispensável.
Claro que apenas indispensável para quem tenha sentido de humor. Senão não!
Quem o escreveu é Ângela Dutra de Menezes.
Sabiam que o tetravô da escritora foi major em Macau?
Sim, fez parte da guarnição de Macau nos idos de 1822.
Sim, foi no ano em que Macau, durante pouco mais de um ano, foi governado por brasileiros e marchou independente de, Portugal e Goa
Entre outros nomes destacavam-se nessa altura sobrenomes, tais como: - Melo (major e segundo comandante da guarnição), Barbosa (Tenente-coronel e presidente do Leal Senado) e Paula de Holanda Cavalcanti (alferes e comandante do forte da Guia). Este último, no caso, era o avoengo do cantor Chico Buarque (o cantor deixou cair sobrenomes sobre sobrenomes, nos discos que publicou e ficou só, Buarque e Chico e de Holanda, estilhaços de sobrenomes) .
Os revolucionários aguentaram quanto puderam o liberalismo em Macau, até aparecer a fragata Salamandra, com não sei quantos fuzileiros miguelistas, que desembarcaram na Praia Grande e puseram fim – a tiros de canhão - à “Primeira República Independente do Extremo Oriente”, como descreve o antropólogo Almerindo Leça.
Como o mundo é pequeno! ...
Ainda bem que a repressão da revolta macaense de 1822, comandada pelo coronel, Garcês Palha, não provocou vítimas mortais, mas apenas uma mão cheia de presos políticos que seriam todos perdoados mais tarde da pena capital pelo tribunal da “relação de Goa”.
É livro que vale a pena ler.
Não diz nada de novo sobre nada, mas tem uma escrita admirável.
É escrito em português brasileiro. Fica melhor ainda.
História condensada de Portugal, virada para o descobrimento do Brasil em luso fonia nova.
É um livro indispensável.
Claro que apenas indispensável para quem tenha sentido de humor. Senão não!
Quem o escreveu é Ângela Dutra de Menezes.
Sabiam que o tetravô da escritora foi major em Macau?
Sim, fez parte da guarnição de Macau nos idos de 1822.
Sim, foi no ano em que Macau, durante pouco mais de um ano, foi governado por brasileiros e marchou independente de, Portugal e Goa
Entre outros nomes destacavam-se nessa altura sobrenomes, tais como: - Melo (major e segundo comandante da guarnição), Barbosa (Tenente-coronel e presidente do Leal Senado) e Paula de Holanda Cavalcanti (alferes e comandante do forte da Guia). Este último, no caso, era o avoengo do cantor Chico Buarque (o cantor deixou cair sobrenomes sobre sobrenomes, nos discos que publicou e ficou só, Buarque e Chico e de Holanda, estilhaços de sobrenomes) .
Os revolucionários aguentaram quanto puderam o liberalismo em Macau, até aparecer a fragata Salamandra, com não sei quantos fuzileiros miguelistas, que desembarcaram na Praia Grande e puseram fim – a tiros de canhão - à “Primeira República Independente do Extremo Oriente”, como descreve o antropólogo Almerindo Leça.
Como o mundo é pequeno! ...
Ainda bem que a repressão da revolta macaense de 1822, comandada pelo coronel, Garcês Palha, não provocou vítimas mortais, mas apenas uma mão cheia de presos políticos que seriam todos perdoados mais tarde da pena capital pelo tribunal da “relação de Goa”.
A maior parte deles fariam a independência do Brasil, nos anos seguintes e nela foram protagonistas.
Aqui fica a biografia do oficial com menos graduação na revolução liberal macaense de 1822:
- Antônio Francisco de Paula Hollanda Cavalcanti de Albuquerque.
Militar e político, o Visconde de Albuquerque nasceu em Pernambuco, em 1797. Serviu em Moçambique e Macau. Voltou ao Brasil no momento em que eclodia a Confederação do Equador, a qual combateu, incorporado às forças imperiais. Com a derrota da Confederação do Equador, entrou para o Estado Maior do Exército e foi para o Rio de Janeiro, onde morreu em 1863.
Visconde de Albuquerque foi, Antonio Francisco de Paula Hollanda Cavalcanti de Albuquerque, nascido em Pernambuco, aos 21 de Agosto de 1797. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 14 de Abril de 1863. Filho do Capitão-Mor, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Rita de Albuquerque Mello; neto Paterno do Coronel, Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque e materno do Tenente-Coronel, Antonio de Hollanda Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Manuela de Mello. Casou com Emilia Cavalcanti de Albuquerque, filha do conselheiro Senador Manuel Caetano de Almeida e Albuquerque e de Emilia Amalia e Albuquerque.
Alferes em Macau (1822),Tenente-coronel em 1832.
Estadas em Moçambique e Macau.
Deputado no Brasil, Ministro da Fazenda 1830, 1831, 1863, do Império 1831 e da Guerra em 1845. Senador em 1838.
1º Visconde de Albuquerque em 1854.
Cargos de Relevo no Grande Oriente de Portugal: representante do Grande Oriente de Portugal junto da Maçonaria Brasileira em 1858.
Militar e político, o Visconde de Albuquerque nasceu em Pernambuco, em 1797. Serviu em Moçambique e Macau. Voltou ao Brasil no momento em que eclodia a Confederação do Equador, a qual combateu, incorporado às forças imperiais. Com a derrota da Confederação do Equador, entrou para o Estado Maior do Exército e foi para o Rio de Janeiro, onde morreu em 1863.
Visconde de Albuquerque foi, Antonio Francisco de Paula Hollanda Cavalcanti de Albuquerque, nascido em Pernambuco, aos 21 de Agosto de 1797. Faleceu no Rio de Janeiro, aos 14 de Abril de 1863. Filho do Capitão-Mor, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Rita de Albuquerque Mello; neto Paterno do Coronel, Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque e materno do Tenente-Coronel, Antonio de Hollanda Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Manuela de Mello. Casou com Emilia Cavalcanti de Albuquerque, filha do conselheiro Senador Manuel Caetano de Almeida e Albuquerque e de Emilia Amalia e Albuquerque.
Alferes em Macau (1822),Tenente-coronel em 1832.
Estadas em Moçambique e Macau.
Deputado no Brasil, Ministro da Fazenda 1830, 1831, 1863, do Império 1831 e da Guerra em 1845. Senador em 1838.
1º Visconde de Albuquerque em 1854.
Cargos de Relevo no Grande Oriente de Portugal: representante do Grande Oriente de Portugal junto da Maçonaria Brasileira em 1858.
Que coisa interessante é a história.
Principalmente a história do antigo Portugal ultramarino que, Ângela Dutra de Nenezes, descreve tão bem.
Há livros raros e há livros que apenas vale a pena ler apenas pelo prazer de lêr e nada mais!
Wednesday, November 21, 2007
Francisco Gomes Teixeira
Gomes Teixeira (1851-1933)
Francisco Gomes Teixeira, matemático, nasceu a 28 de Janeiro de 1851 na aldeia de S. Cosmado, freguesia de Armamar, no distrito de Viseu.
Fez os estudos elementares na sua terra natal, e depois foi para o Colégio do Padre Roseira, em Lamego. Matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra em Outubro de 1869. Ainda durante o curso Gomes Teixeira escreveu o seu primeiro trabalho, que foi publicado na imprensa da Universidade, em 1871. Concluiu o curso em 1874, com a classificação máxima, de Muito Bom por Unanimidade, com 20 valores. Em 1875 fez exame de licenciado com apresentação de dissertação e logo de seguida o doutoramento que obteve também com a classificação máxima.
Em 1876 tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e lente substituto da Faculdade de Matemática. Em 1878 foi nomeado terceiro astrónomo do Observatório Astronómico de Lisboa, mas apenas ocupou esse cargo durante cerca de quatro meses, voltando à Universidade de Coimbra.
Em 1879 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador, tendo participado em sessões do Parlamento nesse ano e ainda em 1883 e 1884. Em Novembro de 1879 foi encarregado da cadeira de análise matemática, passando a catedrático em Fevereiro de 1880. Em 1884 Gomes Teixeira pediu transferência para a Academia Politécnica do Porto, onde dirigiu a cadeira de Cálculo diferencial e integral. Veio a ser pouco tempo depois director desta Academia, cargo que desempenhou até 1911, quando foi nomeado reitor da recém formada Universidade de Porto.
Relacionou-se com alguns dos mais destacados matemáticos de renome mundial da sua época, e publicou trabalhos em periódicos científicos de vários países. Deslocou-se várias vezes a outros países onde contactava com outros matemáticos e participava em congressos. Foi membro de várias sociedades científicas e academias de ciências, nacionais e estrangeiras.
Faleceu no Porto a 8 de Fevereiro de 1933.
Actividade CientíficaAinda estudante elaborou um trabalho intitulado Desenvolvimento das funções em fracção contínua, onde apresenta fórmulas para desenvolver as funções em fracções contínuas, que depois transforma em fracções ordinárias, e aplica as fracções contínuas ao cálculo integral e à determinação das raízes de equações, obtendo desta forma resultados mais convergentes do que pelos métodos de Newton (1643-1727) e Lagrange (1736-1813). Este trabalho chamou a atenção sobre as suas capacidades, não só na Universidade de Coimbra, como também fora dela, como é o caso de Daniel da Silva, que a partir desta publicação apoiou e incentivou os trabalhos de investigação de Gomes Teixeira.
Em 1872 Daniel da Silva apresentou na Academia das Ciências o trabalho de Gomes Teixeira Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações, onde fazia a aplicação de fracções à determinação das raízes das equações. A dissertação com que fez exame de licenciatura intitulava-se Integração das equações às derivadas parciais de segunda ordem. Nesta dissertação antecipou resultados que Andrew Forsyth (1858-1942) só mais tarde veio a conseguir obter, tendo também sido destacada por Edouard Gousat (1858-1936), o grande tratadista matemático da época. Para ocupar o lugar de lente substituto na Faculdade de Matemática elaborou a dissertação Sobre o emprego dos eixos coordenados oblíquos na mecânica analítica.
Fundou, em 1877, o Jornal de sciencias matemáticas e astronómicas, que foi publicado durante 28 anos, até ser integrado nos Anais Scientificos da Academia Politécnica do Porto. Este periódico científico desempenhou um papel muito importante na divulgação dos progressos das ciências matemáticas e astronómicas, e contribuiu igualmente para divulgar o trabalhos dos investigadores portugueses.
Em 1887, já na Academia Politécnica do Porto, publicou o Curso de análise infinitesimal, Cálculo Diferencial (um volume) onde actualizou o ensino da matemática em Portugal. Em 1889 publicou o primeiro volume do Curso de Análise infinitesimal, Cálculo integral, e o segundo volume em 1892. Nesta obra faz uma síntese dos progressos realizados pela análise e introduz um novo nível de rigor na apresentação da matemática.
Em 1895 levou o trabalho Sobre o desenvolvimento das funções em série ao concurso aberto, em 1893, pela Academia Real das Ciências de Madrid. A Academia concedeu-lhe prémio, embora fora do concurso, por ter apresentado o texto em português. Em 1897 concorreu de novo ao prémio da Academia das Ciências de Madrid com o Tratado de las curvas especiales notables, tanto planas como alabeadas (Tratado das curvas especiais notáveis, tanto planas como torsas, tendo ganho o prémio ex-aequo com Gino Loria (1862-1954). É considerada uma obra clássica de grande qualidade científica e histórica com impacto internacional, tendo sido reeditada em 1971, em Nova York, e em 1995 em Paris.
Continuou a produzir e a publicar regularmente textos científicos, em revistas científicas nacionais e estrangeiras. Após uma primeira fase dedicada à Análise, passou a prestar cada vez maior atenção à Geometria. Nos últimos anos dos seus estudos dedicou-se à História da Matemática em Portugal, tendo elaborado uma obra que constitui uma referência para os estudiosos das ciências em Portugal, a História das Matemáticas em Portugal.
PublicaçõesEm virtude da vasta lista de textos publicados, que quase atinge as três centenas , apresentam-se apenas as referências para alguns dos trabalhos que marcaram o início da carreira científica de Gomes Teixeira e as Obras de Matemática, que reúnem em vários volumes muitos dos textos publicados anteriormente. Para uma listagem extensa dos textos publicados devem os interessados consultar a obra de Henrique Vilhena, O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira.
Desenvolvimento das funções em fracções contínuas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871.
“Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações”, Jornal de Ciências matemáticas, físicas e naturais., Lisboa, IV, 1872-73.
Integração das equações à derivadas parciais de 2ª ordem, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1875.
Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1877. Jornal fundado por Gomes Teixeira, publicado até 1905, dedicado inicialmente às Matemáticas superiores e às Matemáticas elementares, mas que a partir de certa a altura se dedicou exclusivamente às Matemáticas superiores.
Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1905-1906. Substitui, na parte referente às matemáticas, o Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas.
Obras sobre Matemática, Coimbra, Imprensa da Universidade, vol. I, 1904; vol. II, 1906; vol. III, 1906; vol. IV, 1908; vol. V, 1909; vol. VI, 1912; vol. VII, 1915.
Panegíricos e conferências, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925.
História das matemáticas em Portugal, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1934.
Fernando Reis
Francisco Gomes Teixeira, matemático, nasceu a 28 de Janeiro de 1851 na aldeia de S. Cosmado, freguesia de Armamar, no distrito de Viseu.
Fez os estudos elementares na sua terra natal, e depois foi para o Colégio do Padre Roseira, em Lamego. Matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra em Outubro de 1869. Ainda durante o curso Gomes Teixeira escreveu o seu primeiro trabalho, que foi publicado na imprensa da Universidade, em 1871. Concluiu o curso em 1874, com a classificação máxima, de Muito Bom por Unanimidade, com 20 valores. Em 1875 fez exame de licenciado com apresentação de dissertação e logo de seguida o doutoramento que obteve também com a classificação máxima.
Em 1876 tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e lente substituto da Faculdade de Matemática. Em 1878 foi nomeado terceiro astrónomo do Observatório Astronómico de Lisboa, mas apenas ocupou esse cargo durante cerca de quatro meses, voltando à Universidade de Coimbra.
Em 1879 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador, tendo participado em sessões do Parlamento nesse ano e ainda em 1883 e 1884. Em Novembro de 1879 foi encarregado da cadeira de análise matemática, passando a catedrático em Fevereiro de 1880. Em 1884 Gomes Teixeira pediu transferência para a Academia Politécnica do Porto, onde dirigiu a cadeira de Cálculo diferencial e integral. Veio a ser pouco tempo depois director desta Academia, cargo que desempenhou até 1911, quando foi nomeado reitor da recém formada Universidade de Porto.
Relacionou-se com alguns dos mais destacados matemáticos de renome mundial da sua época, e publicou trabalhos em periódicos científicos de vários países. Deslocou-se várias vezes a outros países onde contactava com outros matemáticos e participava em congressos. Foi membro de várias sociedades científicas e academias de ciências, nacionais e estrangeiras.
Faleceu no Porto a 8 de Fevereiro de 1933.
Actividade CientíficaAinda estudante elaborou um trabalho intitulado Desenvolvimento das funções em fracção contínua, onde apresenta fórmulas para desenvolver as funções em fracções contínuas, que depois transforma em fracções ordinárias, e aplica as fracções contínuas ao cálculo integral e à determinação das raízes de equações, obtendo desta forma resultados mais convergentes do que pelos métodos de Newton (1643-1727) e Lagrange (1736-1813). Este trabalho chamou a atenção sobre as suas capacidades, não só na Universidade de Coimbra, como também fora dela, como é o caso de Daniel da Silva, que a partir desta publicação apoiou e incentivou os trabalhos de investigação de Gomes Teixeira.
Em 1872 Daniel da Silva apresentou na Academia das Ciências o trabalho de Gomes Teixeira Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações, onde fazia a aplicação de fracções à determinação das raízes das equações. A dissertação com que fez exame de licenciatura intitulava-se Integração das equações às derivadas parciais de segunda ordem. Nesta dissertação antecipou resultados que Andrew Forsyth (1858-1942) só mais tarde veio a conseguir obter, tendo também sido destacada por Edouard Gousat (1858-1936), o grande tratadista matemático da época. Para ocupar o lugar de lente substituto na Faculdade de Matemática elaborou a dissertação Sobre o emprego dos eixos coordenados oblíquos na mecânica analítica.
Fundou, em 1877, o Jornal de sciencias matemáticas e astronómicas, que foi publicado durante 28 anos, até ser integrado nos Anais Scientificos da Academia Politécnica do Porto. Este periódico científico desempenhou um papel muito importante na divulgação dos progressos das ciências matemáticas e astronómicas, e contribuiu igualmente para divulgar o trabalhos dos investigadores portugueses.
Em 1887, já na Academia Politécnica do Porto, publicou o Curso de análise infinitesimal, Cálculo Diferencial (um volume) onde actualizou o ensino da matemática em Portugal. Em 1889 publicou o primeiro volume do Curso de Análise infinitesimal, Cálculo integral, e o segundo volume em 1892. Nesta obra faz uma síntese dos progressos realizados pela análise e introduz um novo nível de rigor na apresentação da matemática.
Em 1895 levou o trabalho Sobre o desenvolvimento das funções em série ao concurso aberto, em 1893, pela Academia Real das Ciências de Madrid. A Academia concedeu-lhe prémio, embora fora do concurso, por ter apresentado o texto em português. Em 1897 concorreu de novo ao prémio da Academia das Ciências de Madrid com o Tratado de las curvas especiales notables, tanto planas como alabeadas (Tratado das curvas especiais notáveis, tanto planas como torsas, tendo ganho o prémio ex-aequo com Gino Loria (1862-1954). É considerada uma obra clássica de grande qualidade científica e histórica com impacto internacional, tendo sido reeditada em 1971, em Nova York, e em 1995 em Paris.
Continuou a produzir e a publicar regularmente textos científicos, em revistas científicas nacionais e estrangeiras. Após uma primeira fase dedicada à Análise, passou a prestar cada vez maior atenção à Geometria. Nos últimos anos dos seus estudos dedicou-se à História da Matemática em Portugal, tendo elaborado uma obra que constitui uma referência para os estudiosos das ciências em Portugal, a História das Matemáticas em Portugal.
PublicaçõesEm virtude da vasta lista de textos publicados, que quase atinge as três centenas , apresentam-se apenas as referências para alguns dos trabalhos que marcaram o início da carreira científica de Gomes Teixeira e as Obras de Matemática, que reúnem em vários volumes muitos dos textos publicados anteriormente. Para uma listagem extensa dos textos publicados devem os interessados consultar a obra de Henrique Vilhena, O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira.
Desenvolvimento das funções em fracções contínuas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871.
“Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações”, Jornal de Ciências matemáticas, físicas e naturais., Lisboa, IV, 1872-73.
Integração das equações à derivadas parciais de 2ª ordem, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1875.
Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1877. Jornal fundado por Gomes Teixeira, publicado até 1905, dedicado inicialmente às Matemáticas superiores e às Matemáticas elementares, mas que a partir de certa a altura se dedicou exclusivamente às Matemáticas superiores.
Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1905-1906. Substitui, na parte referente às matemáticas, o Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas.
Obras sobre Matemática, Coimbra, Imprensa da Universidade, vol. I, 1904; vol. II, 1906; vol. III, 1906; vol. IV, 1908; vol. V, 1909; vol. VI, 1912; vol. VII, 1915.
Panegíricos e conferências, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925.
História das matemáticas em Portugal, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1934.
Fernando Reis
Tuesday, November 20, 2007
A inquisição
http://www.youtube.com/watch?v=3ZQI0Xm29To
Vale a pena vêr este video bem antigo dos Monty Piton.
Aqui fica o link.
Vale a pena vêr este video bem antigo dos Monty Piton.
Aqui fica o link.
Anarquismo
Prince Peter Kropotkin was the first thinker since William Godwin to construct a full system of anarcho-collectivism. This collection consists of a bunch of satisfying niblets (yes, niblets) of that system, some better than others.
First, anyone into anarchism has got to read Kropotkins essay of that title for the Encyclopedia Britannica. It has to be the clearest written, most well-stated short intro around. His essay on "The Anarchist Morality (written oddly enough as a retort to some kids who, after stealing some books, justified it with "To each according to his need.")The early essays, which take us through the first hundred-or-so pages are the best, as they get into the underlying theory of anarchism and what "sponteneous order" might look like. Of course "Modern Science and Anarchism" is a complete misnomer because the essay is heavy on philosophical speculation with not much scientific speculation. The latter essays are more-or-less historical propoganda and will be of interest to the history student.
Still, in a world of inarticulate and often unsavory characters, Kropotkin comes off as astute, thoughtful, clear and insightful. Of course, science has (done its best to?)prove Kropotkin wrong on his altruistic evolutionary theories. Even modern "reciprical altruists" in the wake of Dawkins, Wilson and Ridley are looking less altruistic and more reciprical. I guess only time will tell. Hmmmm....
Este é o comentário de um leitor dos livros da Amazon.
Aqui o deixo sem considerações de mérito, ou valor.
Li Kropotkin, quando tinha 16, ou 17 anos de idade em português. Se o tivesse lido em russo melhor seria. Mas infelizmente de russo apenas sei dizer "spassiba" e pouco mais. Li o "príncipe" anarquista pouco antes de ir para a tropa (lembro-me bem!).
Será que o anarquismo e anarco-sindicalismo do "combatente" Emídio Santana, desapareceram com o fim da Guerra Civil de Espanha?
Não tenho a certeza.
Com tanta confusão se calhar vai voltar a ser filosofia institucional daqui por umas décadas.
Vamos vêr como se vai desenrolar a história.
A Maçonaria em África
Como interessado em assuntos “herméticos” aqui deixo a capa de um livro sobre a Maçonaria em África. Ainda não o li, nem sequer o comprei na Amazon, de que sou cliente habitual, já que as editoras de Portugal demoram “bué” (como se diz na gíria hodierna das gerações do século XXI) a enviar os livros que pedimos e também a traduzir o que se dá ao prelo no Mundo.
A recensão parece-me interessante, nomeadamente no que se refere ao facto de a Maçonaria (apesar de prezar a Liberdade Igualdade e fraternidade) ter tardado em aceitar etnias não europeias no seu seio. Não sei se isso aconteceu apenas nas obediências maçónicas inglesas, ou também nas continentais (europeias, centro e sul americanas e médio orientais).
Ao que sei, no Extremo Oriente, os primeiros chineses aceites só o foram na primeira década do século XX, com alguma relutância da Grande Loja de Inglaterra. Sun Iat Sen terá sido dos primeiros?
Aqui fica a capa.
Espero “postar” novo “post” sobre o assunto logo que tenha “disponibilidade”. Ou seja logo que tenha disponibilidade para acrescentar mais este título às prateleiras já esgotadas de biblioteca da minha pequena casa.
Monday, November 19, 2007
Sunday, November 18, 2007
Todo o mundo é composto de mudança
Acabei de mudar o “background” do blogue. Havia algumas vozes críticas que diziam que com fundo preto e roxo era difícil de ler. Como debutante nestas coisas bloguistas lá vou aprendendo com a experiência. Como militante anti dogmático por educação assim mudo de opinião e de panorama.
É como nos jornais. Lembro-me quando em Portugal os formatos dos jornais foram mudados para o estilo tablóide (coisa inglesa) há várias décadas. Uns leitores gostaram outros não. “O jornal” acedeu à modernidade (desde o início da novidade) e teve êxito. O Expresso, resistiu à mudança quanto pode, até sucumbir finalmente ao formato tablóide já no século XXI. “A Bola” jornal desportivo também foi nesta área do jornalismo um dos primeiros a mudar
A “Escada de Jacob” cede à mudança.
Mas apenas na forma.
O fundo continua a ser conservador como o “Times”, ou o “Economist”.
Quanto ao resto continua a ser inconformista no que toca a encarar a história. Principalmente a história de Macau, e seus protagonistas que é a razão de ser deste blogue.
Apetecia-me dizer assim: Há governo? sou contra! (como diziam os anarquistas).
“A Escada de Jacob” não é contra, nem anarquista, nem niilista.
“A Escada de Jacob” é apenas mais uma escada pela qual podem subir todos quantos quiserem.
É como nos jornais. Lembro-me quando em Portugal os formatos dos jornais foram mudados para o estilo tablóide (coisa inglesa) há várias décadas. Uns leitores gostaram outros não. “O jornal” acedeu à modernidade (desde o início da novidade) e teve êxito. O Expresso, resistiu à mudança quanto pode, até sucumbir finalmente ao formato tablóide já no século XXI. “A Bola” jornal desportivo também foi nesta área do jornalismo um dos primeiros a mudar
A “Escada de Jacob” cede à mudança.
Mas apenas na forma.
O fundo continua a ser conservador como o “Times”, ou o “Economist”.
Quanto ao resto continua a ser inconformista no que toca a encarar a história. Principalmente a história de Macau, e seus protagonistas que é a razão de ser deste blogue.
Apetecia-me dizer assim: Há governo? sou contra! (como diziam os anarquistas).
“A Escada de Jacob” não é contra, nem anarquista, nem niilista.
“A Escada de Jacob” é apenas mais uma escada pela qual podem subir todos quantos quiserem.
Todos quantos quiserem? Perguntam os leitores que não conseguem aceder ao site com os seus comentários.
Daqui por uns dias já saberei como isso se faz.
Thursday, November 15, 2007
E agora um conto que não resisto a trasncrever
Mataram o Rato! Mataram o Rato!
O alarme correu rua acima rua abaixo, e alastrou como nódoa invadindo a praça, penetrando nos becos, manchando o ambiente como água suja e pestilenta.
O crime era estranho à terra, e a terra era estranha ao crime, aliás era estranha morte de homem numa povoação que há décadas vivia em paz tirando aquele pequeno furto de lenha de quem a não tem, e tem frio no rigoroso Inverno da Beira Alta; pobreza antiga.
Altercações ou desavenças eram limitadas por fortes laços de parentesco natural numa restrita comunidade de muitos primos e primas, ou pela diplomacia e autoridade dos homens bons. A paz era norma e o trabalho rural muito dependente de relações serenas e solidárias como eram nas safra da arranca da batata e da ceifa ou malhada do centeio, momentos de forte sentido comunitário, mas sempre presente como por exemplo no grande rebanho onde todos tinham algumas cabeças.
O crime era uma mancha para a terra e para o seu prestígio na região.
Mataram um homem em Lorendo! Era o que iria correr por esses povos e no entanto aqui não havia assassinos.
O Rato morto livra a terra de má rés, mas de momento é um alvoroço uma ferida aberta que é preciso desinfectar e sarar, uma expectativa e uma inquietação. O Rato era de fora, lá das bandas de Tabuaço caminho do Doiro, terras quentes, veio parar aqui porque o trabalho em tirando as vindimas escasseia na zona, mas não é ente querido, é só tolerado. Cultivava uma quinta, uns palmos de terra caminho da Serra, longe dos olhares das gentes, dos prados e lameiro, dos campos mais férteis, e mais cerca do povoado, envolvido por duas ribeiras que lhe davam água.
O povo sabe quem o matou, mas cala. Dizem que voz do povo é voz de Deus, por tal é grande responsabilidade falar.
De sussurros no entanto é possível perceber que foram os Carneiros que o mataram. Gente bravia quezilenta também de fora, mas vizinha do Rato em leiras e lameiros.
Algumas pegas, por via da água, por via dos marcos e por outras vias, eram já conhecidas entre o Rato e o Carneiro, bichos de mato que os envolvia, e às terras bravias, embora cultivadas, prontas a regressar à sua natureza como eles.
O Manel Rato e o Zé Carneiro eram permanentes lá nessas bandas da Serra. Os irmãos e os filhos, eram vagabundos, andavam pelos mundos a fazer da vida o que só Deus sabe e nós presumimos. Mulheres se as tinham era lá para o Douro, a sobreviver sabe-se lá como.
Rato e Carneiro todos os domingos desciam ao povo de camisa lavada, chapéu de feltro, pela manhã ainda sobre a sobre a testa, à tarde se veria, mas no calor da discussão regada a tinto, é provável que venha ser sacudido para a nuca, a limpar a testa e as ideias da sombra da aba, aguçar o espírito e intimidar o parceiro da discussão, que em sendo o Carneiro ou outro da laia e de chapéu, responde com trunfo igual.
Antes da missa já os dois passaram na venda do Abel, a provar o vinho, já baptizado para baixar o grau e aumentar os proventos dum Abel já rico mas insaciável.
As badaladas da torre não deixam passar de aperitivo dois copitos miúdos e, constritos no temor a Deus obedecem à chamada do repicar do sino no terceiro e último aviso aos crentes hesitantes ou tardios.
A comunhão destes vizinhos nas leiras na fé e à tarde de novo no Abel parece enterrar as tais pegas velhas sabidas do povo, que até já acudiu um certo domingo segurando o punho à navalha do Rato que brilhou na rua à porta do Abel. Lá dentro só brilham os copos e mal, que o Abel não deixa.
“In vino veritas”
Passadas quezílias não os impediam de se embebedarem mutuamente, apesar do baptismo do vinho e da bênção da missa, que os não livrava de visitar ainda mais uma “capelinha” no Outeiro, já de caminho para a Serra, e no lado oposto à verdadeira, a do Senhor dos Passos, trocados por Cristo ao peso da cruz, trocados por eles ao peso do vinho.
E assim arrastavam-se pelo Outeiro com a noite a cair, sumiam-se no escuro do caminho, e ouviam-se no silêncio da noite em conversa de bêbados, que só se extinguia na distância por alturas da curva da capela de S. Vicente já abrigada no pinhal.
No entanto amanhã se for preciso vão vê-los na feira ainda bem cedo, a comprar cebolo, a mercar um reco, ou a marralhar o preço de umas botas de carneira. Lá para o meio dia já estão abancados na tenda da marrã, onde bancos corridos e mesa partilhada abrigam lavradores, que findados os negócios, se merecem um copo de celebração, um caldo do pote e a marrã do porco ainda hoje vivo se não fora a feira.
O Rato e o Carneiro deixavam a vila ao entardecer, não sem antes se imiscuírem em zaragatas, ou delas por vezes autores, actos que indicavam estar-se em fim de feira ditada pela Guarda já habituada a estes fins de festa frequentes.
Estes figurões não mais eram vistos o resto da semana, entregues que estavam ao amanho das terras ou a vigiar as cabras lá nas faldas da Serra, onde estavam melhor, bem, mais perto dos lobos que dos homens.
O Loredo ficava mais descansado sabendo essa gente de má índole ao largo, e evitava relações muito íntimas com tais almas danadas, mantendo as inevitáveis, e respeitando-os só e apenas.
No entanto o povo era unido, capaz de empunhar um estadulho, ou mesmo a sopapo de alguns valentes, que os havia na terra, meter na linha ou impontar para fora de portas algum arruaceiro estranho ou atrevido.
O Rato o Carneiro, e os seus irmãos e filhos, embora gente bravia e de má pinta, sabiam-no, e por tal, respeitavam esta gente o bastante para não despertar a ira do povo. E não foi preciso.
Um domingo de Verão, o Carneiro lá vinha dos lados da Serra como de costume vestido como o Senhor merece no seu dia, e com ele aperaltado com um fato inteiro, chapéu redondo de abas levantadas e um cravo ao peito, vinha um dos seus filhos, visto cá na terra uma ou outra vez, mas sempre farsola e fanfarrão na fala.
Ambos como em via-sacra visitaram a venda seguiram para a missa e cumprindo o ritual domingueiro comeram na tasca, com o pão da Lapa, sardinhas de escabeche, umas pataniscas e queijo de cabra, tudo bem regado com sucessivos copos, que foram entornando pela tarde afora e a noite adentro. Um dia normal, se não fora a ausência do Rato, que disseram eles, ter ido a Tabuaço a ver do filho preso. Nada estranho o caso para quem sabia dos feitos e lides desta baixa linhagem.
Veio a segunda feira e a labuta diária de quem lavra a terra. O Carrolas embalado na chiadeira do carro dos seus bois descia da Serra, mais o Pintado, cão fiel como os bois mas ladino, fazendo a batida do terreno á frente e atrás, atrás e á frente, numa dobadoira constante de que resultava por vezes um restolhar de coelho erguido da cama em fuga, ou um esvoaçar de perdizes assustadas.
A certo ponto o Pintado de orelhas espetadas estacou num giestal e ladrou frenético rodando o ronho de silvas e giestas. Correu ao caminho, ladrou frente aos bois, ladrou ao Carrolas, e voltou ao brenho farejando à volta, e erguendo o focinho em jeito de lobo, soltava latidos modelados de uivo. A mórbida insistência do rafeiro não demovia o Carrolas do percurso sonolento, pachorrento mas contínuo como o correr da areia na ampulheta. Tinha espírito de lavrador e era carreiro. Se ia perder-se atrás de coelhos, perdizes, raposas ou javalis, melhor fora deixar os bois e trazer a caçadeira. Mas não era essa a sua queda, e o trabuco do pai que ainda andava lá pela pilheira havia de estar já bem comido da ferrugem.
Assim, queria que o Pintado se deixa-se de veleidades venatórias
e acatasse a ordem de chamada. Quando muito diria ao Germaninho para dar uma batida aqui pela Urgueira, que ele agradecia o informe, e mais nada podia fazer para não parar a carreira aos bois; que ainda queria botar o mato na loja da Josefa, a vizinha viúva, sem homem que lhe fizesse o serviço; e sorriu com este pensamento.
Mas o mafarrico do cão estava possesso, e viu-se forçado a brandir a aguilhada e a bradar um fundo “tchôô” que lá accionou o Malhado e o Negro para uma travagem lenta e a contra gosto, pois o fresco da loja e o do feno já lhes chegavam às narinas, vindos do instinto, só pode, nestes animais de carreira mas sem GPS[1].
O mato era alto e denso, um brenho de giestas e silvas bravas abrigo de bicho e abrigo da vista, onde não penetra a do Carrolas sem com a aguilhada fustigar os arbustos a tentar abrir óculo de luz que chegue à razão deste desespero do fiel.
Já suava quando num último golpe, pôs à vista a máscara de um espantalho sangrento esparramado no fundeiro.
A tétrica visão foi equivalente a um choque eléctrico de alta voltagem, que o fez tremer como uma vara verde num quase estertor. Passado o choque intenso, paralisante, o Carrolas, arrelampado ainda, reagiu em fuga pelo caminho pedregoso largando a aguilhada, os bois, e o cão, que o não largou a ele, e aos bordos correu perseguido pela visão macabra, e o cão fiel na ânsia de aliviar esta carga mental mais pesada que a dos bois.
Já perto da Várzea enxergou o moleiro entre o milho a cortar as bandeiras para o gado, enquanto o moinho lhe fazia o trabalho levada a água da ribeira pelo rego de desvio de encontro às pás que o moviam e prosseguindo de regresso ao seu curso natural, enquanto o moleiro colhia as bandeiras ao milho. Absorto na tarefa o moleiro só levantou a cabeça para o caminho do pinhal quando ouviu gritos alarmantes.
-- Acudam! Acudam! A morte está aí. E apontava ao largo feito tresloucado.
O moleiro largou a tarefa e acorreu ao caminho, na senda do Carrolas que ia prosseguindo em direito ao povo.
No largo do Outeiro já se via gente e pelo caminho já corria o Armindo, o Minhoto, o Careca, e o Panal, os valentes da terra.
Em breve o povo estava alvoraçado pelo brado:
- Mataram o Rato! Mataram o Rato!
As mulheres carpiam o drama, de falares excitados, de gestos também, lançavam boatos, inventavam razões, corriam a canalha do assunto de adultos, invocavam Deus para lhes acudir e batiam nas ancas numa aflição.
Aos poucos o discernimento dos mais ponderados foi ganhando campo acalmando o povo e na pessoa do seu regedor, tomava medidas. Já os cabos de ordem estavam presentes largada a sachola e interrompida a rega, empunhavam o símbolo que era a caçadeira de uma autoridade sem crachá nem farda. O Senhor Horácio foi sargento em África, sabe comandar. Deu ordem aos cabos para irem guardar o local do crime e para não deixar que ninguém se chegue.
O Senhor Horácio queria bem guardado o corpo do Rato, temia a família bem capaz de tudo. Receava ainda pela vida do Carneiro. Não se sabia se havia Ratos por perto. Eles não se iriam ficar e outro crime na terra ou desacatos graves tinha de evitar. Montou a bicicleta e pedalou para a Vila a participar a ocorrência do crime.
Um cabo da guarda mais dois praças foram enviados pelo tenente para Loredo, e o regedor acompanhou-os no jeep. Os guardas renderam os cabos de ordem e o regedor e cabo foram para taberna para de volta de um copo analisar o caso.
Havia que aguardar pela chegada do Delegado de Saúde, e do Delegado do Ministério Público.
O tenente Santos já esta hora estaria de volta dos Doutores, fáceis de encontrar no Alberto, o café da Vila, e o seu centro da inteligência, médica, forense, burocrática, política e até mundana de boa e má língua.
O médico foi o primeiro a chegar no seu carro particular um soberbo Dodge de brilhantes cromados, a esfumar a memória do Doutor Aníbal no seu Rocinante. Como os tempos mudam e não só os Doutores!
Pensam os velhote ao Sol do Eirado. Chega depois um carro de praça com o Delegado e os funcionários lá do tribunal, escrivão e chefe da secretaria e ainda o Luís filho do alfaiate que é cá da terra e é aprendiz das coisas da lei, e tão bem falante e de tal porte, que passa por vezes por Doutor também.
De farda lustrosa bota alta e pengalim, o jovem tenente do posto da Vila na moto do Posto, vem fazer figura surgindo imponente no centro da praça a jorrar ruído de alta cilindrada.
Está entregue o poder e a autoridade a quem é devido. O povo deve recolher, deve dispersar e vai-o fazendo mas bem lentamente para saborear todo o aparato, para tirar proveito de folga forçada, para amanhã não jurar em falso, ou para ter matéria para conversar nos dias seguintes.
Verificado o óbito o corpo foi levantado e depositado na capela de Santo António junto à Igreja Matriz, bem no meio da terra.
Mas o povo começou a murmurar. Um herege um ateu um diabo na capela de Santo António, ali no meio da povoação, não caía bem nas almas dos crentes nem dos outros.
A negra cortina da noite cobria agora a aldeia e abafava os seus gritos lamentos e injúrias erguidos a um céu azul divino e justiceiro da tarde do drama. O frio do sereno arrefecia a excitação do dia e o silencio ganhava profundidade.
À porta da capela de Santo António um GNR consumia periscas e tempo de serviço, enquanto guardava o defunto que ninguém velava. Só o Calceteiro e coveiro também, mirrado e entornado, prestava solicito as honras da casa;
- Senhor Guarda para aqui, Senhor Guarda, para ali e contava seus feitos do tempo da tropa.
Entretanto um conclave restrito, e não conformado com a permanência do Rato morto mas empestante no meio da santa terra, tomava a decisão clandestina de o transferir para a capela de São Vicente, desterrada no pinhal, arruinada e solitária.
Surgira o boato, não certo que o fosse, que os parentes do defunto estavam já na Vila e tinham tensão de resgatar o morto.
Era meia-noite quando o féretro fúnebre se organizou; burlou a vigília, que ficou à porta sem corpo de delito, saiu por outra oculta, e aos ombros de quatro valentes anónimos, mais um o mestre secreto, sem padre nem cruz nem caldeirinha encetou o féretro sem haver luar.
Só o condutor de um automóvel no troço da estrada atravessado pelo féretro, foi testemunha apavorada e única do cortejo negro carregando a urna brilhando de súbito ao foco dos faróis. Acelerou de medo e não fez a curva. As testemunhas sumiram no caminho do diabo a missão negra.
O corpo do Rato apareceu entre as ruínas e silvas da capela de S. Vicente, o guarda foi punido, e colocado lá para o Alentejo. Mas o povo não acredita, que a pena foi merecida.
Quem pode guardar Satanás?
A capela de S. Vicente já não existe, há muito arrasada, mas o sítio não, e o povo ergueu-a na mente aí de novo e consagrou-a como o lugar da Capela do Diabo, onde dizem que a quem passa os cabelos se arrepiam.
[1] _ Aparelho que mede percursos e distâncias
O alarme correu rua acima rua abaixo, e alastrou como nódoa invadindo a praça, penetrando nos becos, manchando o ambiente como água suja e pestilenta.
O crime era estranho à terra, e a terra era estranha ao crime, aliás era estranha morte de homem numa povoação que há décadas vivia em paz tirando aquele pequeno furto de lenha de quem a não tem, e tem frio no rigoroso Inverno da Beira Alta; pobreza antiga.
Altercações ou desavenças eram limitadas por fortes laços de parentesco natural numa restrita comunidade de muitos primos e primas, ou pela diplomacia e autoridade dos homens bons. A paz era norma e o trabalho rural muito dependente de relações serenas e solidárias como eram nas safra da arranca da batata e da ceifa ou malhada do centeio, momentos de forte sentido comunitário, mas sempre presente como por exemplo no grande rebanho onde todos tinham algumas cabeças.
O crime era uma mancha para a terra e para o seu prestígio na região.
Mataram um homem em Lorendo! Era o que iria correr por esses povos e no entanto aqui não havia assassinos.
O Rato morto livra a terra de má rés, mas de momento é um alvoroço uma ferida aberta que é preciso desinfectar e sarar, uma expectativa e uma inquietação. O Rato era de fora, lá das bandas de Tabuaço caminho do Doiro, terras quentes, veio parar aqui porque o trabalho em tirando as vindimas escasseia na zona, mas não é ente querido, é só tolerado. Cultivava uma quinta, uns palmos de terra caminho da Serra, longe dos olhares das gentes, dos prados e lameiro, dos campos mais férteis, e mais cerca do povoado, envolvido por duas ribeiras que lhe davam água.
O povo sabe quem o matou, mas cala. Dizem que voz do povo é voz de Deus, por tal é grande responsabilidade falar.
De sussurros no entanto é possível perceber que foram os Carneiros que o mataram. Gente bravia quezilenta também de fora, mas vizinha do Rato em leiras e lameiros.
Algumas pegas, por via da água, por via dos marcos e por outras vias, eram já conhecidas entre o Rato e o Carneiro, bichos de mato que os envolvia, e às terras bravias, embora cultivadas, prontas a regressar à sua natureza como eles.
O Manel Rato e o Zé Carneiro eram permanentes lá nessas bandas da Serra. Os irmãos e os filhos, eram vagabundos, andavam pelos mundos a fazer da vida o que só Deus sabe e nós presumimos. Mulheres se as tinham era lá para o Douro, a sobreviver sabe-se lá como.
Rato e Carneiro todos os domingos desciam ao povo de camisa lavada, chapéu de feltro, pela manhã ainda sobre a sobre a testa, à tarde se veria, mas no calor da discussão regada a tinto, é provável que venha ser sacudido para a nuca, a limpar a testa e as ideias da sombra da aba, aguçar o espírito e intimidar o parceiro da discussão, que em sendo o Carneiro ou outro da laia e de chapéu, responde com trunfo igual.
Antes da missa já os dois passaram na venda do Abel, a provar o vinho, já baptizado para baixar o grau e aumentar os proventos dum Abel já rico mas insaciável.
As badaladas da torre não deixam passar de aperitivo dois copitos miúdos e, constritos no temor a Deus obedecem à chamada do repicar do sino no terceiro e último aviso aos crentes hesitantes ou tardios.
A comunhão destes vizinhos nas leiras na fé e à tarde de novo no Abel parece enterrar as tais pegas velhas sabidas do povo, que até já acudiu um certo domingo segurando o punho à navalha do Rato que brilhou na rua à porta do Abel. Lá dentro só brilham os copos e mal, que o Abel não deixa.
“In vino veritas”
Passadas quezílias não os impediam de se embebedarem mutuamente, apesar do baptismo do vinho e da bênção da missa, que os não livrava de visitar ainda mais uma “capelinha” no Outeiro, já de caminho para a Serra, e no lado oposto à verdadeira, a do Senhor dos Passos, trocados por Cristo ao peso da cruz, trocados por eles ao peso do vinho.
E assim arrastavam-se pelo Outeiro com a noite a cair, sumiam-se no escuro do caminho, e ouviam-se no silêncio da noite em conversa de bêbados, que só se extinguia na distância por alturas da curva da capela de S. Vicente já abrigada no pinhal.
No entanto amanhã se for preciso vão vê-los na feira ainda bem cedo, a comprar cebolo, a mercar um reco, ou a marralhar o preço de umas botas de carneira. Lá para o meio dia já estão abancados na tenda da marrã, onde bancos corridos e mesa partilhada abrigam lavradores, que findados os negócios, se merecem um copo de celebração, um caldo do pote e a marrã do porco ainda hoje vivo se não fora a feira.
O Rato e o Carneiro deixavam a vila ao entardecer, não sem antes se imiscuírem em zaragatas, ou delas por vezes autores, actos que indicavam estar-se em fim de feira ditada pela Guarda já habituada a estes fins de festa frequentes.
Estes figurões não mais eram vistos o resto da semana, entregues que estavam ao amanho das terras ou a vigiar as cabras lá nas faldas da Serra, onde estavam melhor, bem, mais perto dos lobos que dos homens.
O Loredo ficava mais descansado sabendo essa gente de má índole ao largo, e evitava relações muito íntimas com tais almas danadas, mantendo as inevitáveis, e respeitando-os só e apenas.
No entanto o povo era unido, capaz de empunhar um estadulho, ou mesmo a sopapo de alguns valentes, que os havia na terra, meter na linha ou impontar para fora de portas algum arruaceiro estranho ou atrevido.
O Rato o Carneiro, e os seus irmãos e filhos, embora gente bravia e de má pinta, sabiam-no, e por tal, respeitavam esta gente o bastante para não despertar a ira do povo. E não foi preciso.
Um domingo de Verão, o Carneiro lá vinha dos lados da Serra como de costume vestido como o Senhor merece no seu dia, e com ele aperaltado com um fato inteiro, chapéu redondo de abas levantadas e um cravo ao peito, vinha um dos seus filhos, visto cá na terra uma ou outra vez, mas sempre farsola e fanfarrão na fala.
Ambos como em via-sacra visitaram a venda seguiram para a missa e cumprindo o ritual domingueiro comeram na tasca, com o pão da Lapa, sardinhas de escabeche, umas pataniscas e queijo de cabra, tudo bem regado com sucessivos copos, que foram entornando pela tarde afora e a noite adentro. Um dia normal, se não fora a ausência do Rato, que disseram eles, ter ido a Tabuaço a ver do filho preso. Nada estranho o caso para quem sabia dos feitos e lides desta baixa linhagem.
Veio a segunda feira e a labuta diária de quem lavra a terra. O Carrolas embalado na chiadeira do carro dos seus bois descia da Serra, mais o Pintado, cão fiel como os bois mas ladino, fazendo a batida do terreno á frente e atrás, atrás e á frente, numa dobadoira constante de que resultava por vezes um restolhar de coelho erguido da cama em fuga, ou um esvoaçar de perdizes assustadas.
A certo ponto o Pintado de orelhas espetadas estacou num giestal e ladrou frenético rodando o ronho de silvas e giestas. Correu ao caminho, ladrou frente aos bois, ladrou ao Carrolas, e voltou ao brenho farejando à volta, e erguendo o focinho em jeito de lobo, soltava latidos modelados de uivo. A mórbida insistência do rafeiro não demovia o Carrolas do percurso sonolento, pachorrento mas contínuo como o correr da areia na ampulheta. Tinha espírito de lavrador e era carreiro. Se ia perder-se atrás de coelhos, perdizes, raposas ou javalis, melhor fora deixar os bois e trazer a caçadeira. Mas não era essa a sua queda, e o trabuco do pai que ainda andava lá pela pilheira havia de estar já bem comido da ferrugem.
Assim, queria que o Pintado se deixa-se de veleidades venatórias
e acatasse a ordem de chamada. Quando muito diria ao Germaninho para dar uma batida aqui pela Urgueira, que ele agradecia o informe, e mais nada podia fazer para não parar a carreira aos bois; que ainda queria botar o mato na loja da Josefa, a vizinha viúva, sem homem que lhe fizesse o serviço; e sorriu com este pensamento.
Mas o mafarrico do cão estava possesso, e viu-se forçado a brandir a aguilhada e a bradar um fundo “tchôô” que lá accionou o Malhado e o Negro para uma travagem lenta e a contra gosto, pois o fresco da loja e o do feno já lhes chegavam às narinas, vindos do instinto, só pode, nestes animais de carreira mas sem GPS[1].
O mato era alto e denso, um brenho de giestas e silvas bravas abrigo de bicho e abrigo da vista, onde não penetra a do Carrolas sem com a aguilhada fustigar os arbustos a tentar abrir óculo de luz que chegue à razão deste desespero do fiel.
Já suava quando num último golpe, pôs à vista a máscara de um espantalho sangrento esparramado no fundeiro.
A tétrica visão foi equivalente a um choque eléctrico de alta voltagem, que o fez tremer como uma vara verde num quase estertor. Passado o choque intenso, paralisante, o Carrolas, arrelampado ainda, reagiu em fuga pelo caminho pedregoso largando a aguilhada, os bois, e o cão, que o não largou a ele, e aos bordos correu perseguido pela visão macabra, e o cão fiel na ânsia de aliviar esta carga mental mais pesada que a dos bois.
Já perto da Várzea enxergou o moleiro entre o milho a cortar as bandeiras para o gado, enquanto o moinho lhe fazia o trabalho levada a água da ribeira pelo rego de desvio de encontro às pás que o moviam e prosseguindo de regresso ao seu curso natural, enquanto o moleiro colhia as bandeiras ao milho. Absorto na tarefa o moleiro só levantou a cabeça para o caminho do pinhal quando ouviu gritos alarmantes.
-- Acudam! Acudam! A morte está aí. E apontava ao largo feito tresloucado.
O moleiro largou a tarefa e acorreu ao caminho, na senda do Carrolas que ia prosseguindo em direito ao povo.
No largo do Outeiro já se via gente e pelo caminho já corria o Armindo, o Minhoto, o Careca, e o Panal, os valentes da terra.
Em breve o povo estava alvoraçado pelo brado:
- Mataram o Rato! Mataram o Rato!
As mulheres carpiam o drama, de falares excitados, de gestos também, lançavam boatos, inventavam razões, corriam a canalha do assunto de adultos, invocavam Deus para lhes acudir e batiam nas ancas numa aflição.
Aos poucos o discernimento dos mais ponderados foi ganhando campo acalmando o povo e na pessoa do seu regedor, tomava medidas. Já os cabos de ordem estavam presentes largada a sachola e interrompida a rega, empunhavam o símbolo que era a caçadeira de uma autoridade sem crachá nem farda. O Senhor Horácio foi sargento em África, sabe comandar. Deu ordem aos cabos para irem guardar o local do crime e para não deixar que ninguém se chegue.
O Senhor Horácio queria bem guardado o corpo do Rato, temia a família bem capaz de tudo. Receava ainda pela vida do Carneiro. Não se sabia se havia Ratos por perto. Eles não se iriam ficar e outro crime na terra ou desacatos graves tinha de evitar. Montou a bicicleta e pedalou para a Vila a participar a ocorrência do crime.
Um cabo da guarda mais dois praças foram enviados pelo tenente para Loredo, e o regedor acompanhou-os no jeep. Os guardas renderam os cabos de ordem e o regedor e cabo foram para taberna para de volta de um copo analisar o caso.
Havia que aguardar pela chegada do Delegado de Saúde, e do Delegado do Ministério Público.
O tenente Santos já esta hora estaria de volta dos Doutores, fáceis de encontrar no Alberto, o café da Vila, e o seu centro da inteligência, médica, forense, burocrática, política e até mundana de boa e má língua.
O médico foi o primeiro a chegar no seu carro particular um soberbo Dodge de brilhantes cromados, a esfumar a memória do Doutor Aníbal no seu Rocinante. Como os tempos mudam e não só os Doutores!
Pensam os velhote ao Sol do Eirado. Chega depois um carro de praça com o Delegado e os funcionários lá do tribunal, escrivão e chefe da secretaria e ainda o Luís filho do alfaiate que é cá da terra e é aprendiz das coisas da lei, e tão bem falante e de tal porte, que passa por vezes por Doutor também.
De farda lustrosa bota alta e pengalim, o jovem tenente do posto da Vila na moto do Posto, vem fazer figura surgindo imponente no centro da praça a jorrar ruído de alta cilindrada.
Está entregue o poder e a autoridade a quem é devido. O povo deve recolher, deve dispersar e vai-o fazendo mas bem lentamente para saborear todo o aparato, para tirar proveito de folga forçada, para amanhã não jurar em falso, ou para ter matéria para conversar nos dias seguintes.
Verificado o óbito o corpo foi levantado e depositado na capela de Santo António junto à Igreja Matriz, bem no meio da terra.
Mas o povo começou a murmurar. Um herege um ateu um diabo na capela de Santo António, ali no meio da povoação, não caía bem nas almas dos crentes nem dos outros.
A negra cortina da noite cobria agora a aldeia e abafava os seus gritos lamentos e injúrias erguidos a um céu azul divino e justiceiro da tarde do drama. O frio do sereno arrefecia a excitação do dia e o silencio ganhava profundidade.
À porta da capela de Santo António um GNR consumia periscas e tempo de serviço, enquanto guardava o defunto que ninguém velava. Só o Calceteiro e coveiro também, mirrado e entornado, prestava solicito as honras da casa;
- Senhor Guarda para aqui, Senhor Guarda, para ali e contava seus feitos do tempo da tropa.
Entretanto um conclave restrito, e não conformado com a permanência do Rato morto mas empestante no meio da santa terra, tomava a decisão clandestina de o transferir para a capela de São Vicente, desterrada no pinhal, arruinada e solitária.
Surgira o boato, não certo que o fosse, que os parentes do defunto estavam já na Vila e tinham tensão de resgatar o morto.
Era meia-noite quando o féretro fúnebre se organizou; burlou a vigília, que ficou à porta sem corpo de delito, saiu por outra oculta, e aos ombros de quatro valentes anónimos, mais um o mestre secreto, sem padre nem cruz nem caldeirinha encetou o féretro sem haver luar.
Só o condutor de um automóvel no troço da estrada atravessado pelo féretro, foi testemunha apavorada e única do cortejo negro carregando a urna brilhando de súbito ao foco dos faróis. Acelerou de medo e não fez a curva. As testemunhas sumiram no caminho do diabo a missão negra.
O corpo do Rato apareceu entre as ruínas e silvas da capela de S. Vicente, o guarda foi punido, e colocado lá para o Alentejo. Mas o povo não acredita, que a pena foi merecida.
Quem pode guardar Satanás?
A capela de S. Vicente já não existe, há muito arrasada, mas o sítio não, e o povo ergueu-a na mente aí de novo e consagrou-a como o lugar da Capela do Diabo, onde dizem que a quem passa os cabelos se arrepiam.
[1] _ Aparelho que mede percursos e distâncias
Istmo do Conselheiro Borja
Tal como Artur Tamagnini Barbosa, Custódio Miguel de Borja tinha muitos irmão e primos e tios e assim..
Ele era maçom. Muitos dos seus parentes não. Alguns foram padres católicos e anti-maçons, nomeadamente em Macau (é ver a posição que tomou em 1822 o cónego Borja contra os liberais). Mas nas famílias é mesmo assim. Uns vão para um lado outros para outro. O importante é que não se desunam por causa da política e parece que os Borja nunca se desuniram por causa da política. Fragmentaram-se apenas entre filhos, sobrinhos, netos, bisnetos e tetra-netos. Actualmente tenho a honra de conhecer um dos seus descendentes que não é político, nem padre, nem nada. É músico profissional (Trompetista. Vejam lá! formado no "Hot Club). Um jovem prometedor na música.
Eis a biografia muito resumida do seu progenitor algarvio:
Custódio Miguel de Borja, oficial de marinha. Governou Macau de 1890 a 1894. Ministro plenipotenciário de Portugal na China, Japão e Tailândia. Iniciado em 1867 com o nome simbólico de Nelson veio a ser membro da “Loja Tolerância I Regeneradora” de Lisboa (Rito Francês) que se separou do Grande Oriente Lusitano Unido em 1897 para fundar com outras o Grande Oriente de Portugal. Borja foi eleito seu segundo e último Grão Mestre (1903-194). O GOP regressaria à unidade do GOL nesse ano.
Ele era maçom. Muitos dos seus parentes não. Alguns foram padres católicos e anti-maçons, nomeadamente em Macau (é ver a posição que tomou em 1822 o cónego Borja contra os liberais). Mas nas famílias é mesmo assim. Uns vão para um lado outros para outro. O importante é que não se desunam por causa da política e parece que os Borja nunca se desuniram por causa da política. Fragmentaram-se apenas entre filhos, sobrinhos, netos, bisnetos e tetra-netos. Actualmente tenho a honra de conhecer um dos seus descendentes que não é político, nem padre, nem nada. É músico profissional (Trompetista. Vejam lá! formado no "Hot Club). Um jovem prometedor na música.
Eis a biografia muito resumida do seu progenitor algarvio:
Custódio Miguel de Borja, oficial de marinha. Governou Macau de 1890 a 1894. Ministro plenipotenciário de Portugal na China, Japão e Tailândia. Iniciado em 1867 com o nome simbólico de Nelson veio a ser membro da “Loja Tolerância I Regeneradora” de Lisboa (Rito Francês) que se separou do Grande Oriente Lusitano Unido em 1897 para fundar com outras o Grande Oriente de Portugal. Borja foi eleito seu segundo e último Grão Mestre (1903-194). O GOP regressaria à unidade do GOL nesse ano.
(Dicionário de Maçonaria, de A. H. de Oliveira Marques)
(espero publicar mais alguns dados biográficos sobre este governador de Macau em próximos posts).
Wednesday, November 14, 2007
D. José da Costa Nunes num artigo de " A Voz do Nordeste"
Encontrei este artigo num jornal transmontano. Chama-se. "A Voz do Nordeste" .
E aqui o deixo citado:-
"Ciclicamente surgem notícias ou circulam rumores acerca da Maçonaria.
No entanto, porque é um tema pouco divulgado, é susceptível de levantar receios, confusões e reacções primárias de rejeição, especialmente por parte de pessoas pouco informadas, com um nível cultural baixo (não necessariamente baixas habilitações académicas) ou por fanáticos religiosos.
Em Portugal, existem várias Grandes Lojas (organizações ou obediências Maçónicas). O GOL (Grande Oriente Lusitano) é considerado como sendo da Maçonaria irregular, ou seja, os seus membros são considerados laicos. Pelo contrário, a GLNP (Grande Loja Nacional Portuguesa) e a GLLP (Grande Loja Legal de Portugal), pertencem à Maçonaria regular, ou seja, os seus membros são crentes, tendo obrigatoriamente que acreditar na existência de um Ser Supremo, Deus.
A figura máxima na hierarquia da Obediência Maçónica é o Grão Mestre.
De acordo com o conteúdo da página Web http://www.glnp.pt/, a Maçonaria regular pode ser assim definida:
A Maçonaria é uma associação livre de pessoas independentes, as quais não dependem senão da sua consciência e se empenham em pôr em prática um ideal de paz, de amor, de fraternidade para todos.
A Maçonaria encontra o seu fundamento essencial na fé num Poder Supremo. Os seus princípios resumem-se nestas duas máximas: “Conhece-te a ti mesmo” e “ Ama o próximo como a ti mesmo”.
A Maçonaria tem como fim, o aperfeiçoamento moral dos seus membros e da humanidade e como meio, a propagação de uma verdadeira filantropia. Essa filantropia, quando de cariz material, não é apregoada, como mandam os princípios Maçónicos. Não raras vezes, os próprios beneficiários não sabem quem a pratica “Não deverá saber a tua mão esquerda, o que faz a tua mão direita”.
Por divisa, honra-se por deter o sentido claro e a carga simbólica de “POR BEM !“ Por isso se impõe a todo o maçom o dever de auxiliar, esclarecer e proteger os fracos e, em todas as circunstâncias, lutar contra as injustiças e contra a adversidade.
A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito pelas opiniões e crenças de cada um, interditando todas as discussões políticas ou religiosas, a fim de constituir um centro permanente de união fraterna onde reina a tolerância e a harmonia perfeita. Só assim se pode constituir como uma associação de homens livres, fraternal e ecuménica, onde coexistem os mais diversos credos religiosos e as mais díspares convicções e filiações partidárias.
Sendo uma associação discreta (não secreta), a Maçonaria está em Portugal, legal e regularmente constituída de acordo com as leis vigentes. É certo que a Maçonaria não é uma associação de massas, à qual possam pertencer todas as pessoas que o desejem. Na verdade, só são admitidas pessoas livres e de bons costumes, gente da mais perfeita reputação e honra, que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz e uma prática de fraternidade para todos.
Nas suas sessões ritualisticas, os maçons tornam as suas obrigações sobre um volume da Lei Sagrada, a Bíblia, a fim de dar ao juramento prestado, o carácter solene e sagrado indispensável à sua perenidade.
Embora a existência da Maçonaria operativa, ligada aos construtores dos templos se perca nas brumas da antiguidade, destacando-se a construção do Templo de Salomão, a Maçonaria especulativa só surge no início do Sec. XVIII. Estima-se que existam em todo o mundo onze milhões de maçons. Em Portugal pensa-se existirem alguns milhares, não chegando certamente aos cinco mil.
As contribuições para a melhoria da humanidade têm a mão de maçons. São disso exemplo: a Carta das Nações Unidas, a Carta dos Direitos do Homem, a carta dos Direitos da Criança, a constituição dos Estados Unidos da América, que ostenta símbolos maçónicos na sua nota de um dólar, a constituição da República Federal do Brasil, tendo sido D. Pedro I o primeiro Grão Mestre nesse país. Pertencem ou pertenceram à maçonaria as pessoas das mais variadas classes sociais e as figuras mais marcantes da sociedade, em campos como a ciência, a literatura, a medicina, a física, a música, etc. Os mais altos magistrados das nações foram ou são maçons tendo sido também maçons um número significativo de clérigos.
Dos grandes nomes de portugueses que ficaram ligados à maçonaria, destacamos: Afonso Costa, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, António Augusto de Aguiar, António José de Almeida, Bernardino Machado, Egas Moniz, D. Pedro IV, Gago Coutinho, Lima de Freitas, Rodrigues de Freitas, José Fontana, Passos Manuel, Vitorino Nemésio, Sidónio Pais, Brito Camacho, Norton de Matos, Miguel Bombarda, Teófilo Braga, Raul Rego, General Gomes Freire de Andrade, Duque de Saldanha, Sá da Bandeira, Costa Cabral, Ferreira Borges, Barbosa Du Bocage, Bissaia Barreto, Rafael Bordalo Pinheiro, padre José Joaquim Monteiro de Carvalho Oliveira, o arcebispo de Évora em 1850, cónego de Coimbra Simão de Cordes Brandão de Ataíde, frei José Liberato Freire de Carvalho, frei Francisco de São Luís, frei Patrício da Silva, padre José Ferrão de Mendonça e Sousa, abade Correia da Serra, cónego João Travassos, o bispo de Viseu D. António Alves Martins, o cardeal José da Costa Nunes, etc, etc.
Numa rápida investigação efectuada, detectamos a atribuição de 29 prémios Nobel, a maçons, dos quais 13 prémios Nobel da Paz, 4 da Medicina, 7 da Literatura, 2 da Física e 3 da Química. Na música, houve figuras de relevo, de que se destacaram: Jahann Christian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. Sendo impossível referir os milhões de maçons que contribuíram para a melhoria da humanidade, terminamos essa referência com os nomes de Charles Chaplin, Oscar Wilde , Benjamim Franklin, George Washington e mais treze presidentes dos E.U.A, Henry Ford, André Citroên, Napoleão Bonaparte, Reis Eduardo VII, Jorge IV e Jorge VI de Inglaterra, Leopoldo I da Bélgica, Frederico II da Prússia, Voltaire, William Shakespeare, Walt Disney e Winston Churchill.
Como se trata de uma associação discreta, só são divulgados os nomes de maçons já falecidos, ou, de actuais maçons se isso for da sua vontade. Nenhum Irmão divulgará o nome de outro porque a isso se comprometeu por juramento. Não é portanto fácil identificar um maçom que o não deseje, mas, caro leitor, em face do acima exposto: se encontrar uma pessoa tolerante, fraterna, amante da sua pátria, sempre disponível para ajudar e proteger os outros mesmo com prejuízo pessoal, amante do seu trabalho, respeitador das crenças e opiniões dos outros, então possivelmente estará na presença de um maçom.
Nuno Vicente – Investigador em Sociologia"
Falo nisto ainda a propósito do meu "post" anterior relativo a, Tamagnini Barbosa.
E aqui o deixo citado:-
"Ciclicamente surgem notícias ou circulam rumores acerca da Maçonaria.
No entanto, porque é um tema pouco divulgado, é susceptível de levantar receios, confusões e reacções primárias de rejeição, especialmente por parte de pessoas pouco informadas, com um nível cultural baixo (não necessariamente baixas habilitações académicas) ou por fanáticos religiosos.
Em Portugal, existem várias Grandes Lojas (organizações ou obediências Maçónicas). O GOL (Grande Oriente Lusitano) é considerado como sendo da Maçonaria irregular, ou seja, os seus membros são considerados laicos. Pelo contrário, a GLNP (Grande Loja Nacional Portuguesa) e a GLLP (Grande Loja Legal de Portugal), pertencem à Maçonaria regular, ou seja, os seus membros são crentes, tendo obrigatoriamente que acreditar na existência de um Ser Supremo, Deus.
A figura máxima na hierarquia da Obediência Maçónica é o Grão Mestre.
De acordo com o conteúdo da página Web http://www.glnp.pt/, a Maçonaria regular pode ser assim definida:
A Maçonaria é uma associação livre de pessoas independentes, as quais não dependem senão da sua consciência e se empenham em pôr em prática um ideal de paz, de amor, de fraternidade para todos.
A Maçonaria encontra o seu fundamento essencial na fé num Poder Supremo. Os seus princípios resumem-se nestas duas máximas: “Conhece-te a ti mesmo” e “ Ama o próximo como a ti mesmo”.
A Maçonaria tem como fim, o aperfeiçoamento moral dos seus membros e da humanidade e como meio, a propagação de uma verdadeira filantropia. Essa filantropia, quando de cariz material, não é apregoada, como mandam os princípios Maçónicos. Não raras vezes, os próprios beneficiários não sabem quem a pratica “Não deverá saber a tua mão esquerda, o que faz a tua mão direita”.
Por divisa, honra-se por deter o sentido claro e a carga simbólica de “POR BEM !“ Por isso se impõe a todo o maçom o dever de auxiliar, esclarecer e proteger os fracos e, em todas as circunstâncias, lutar contra as injustiças e contra a adversidade.
A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito pelas opiniões e crenças de cada um, interditando todas as discussões políticas ou religiosas, a fim de constituir um centro permanente de união fraterna onde reina a tolerância e a harmonia perfeita. Só assim se pode constituir como uma associação de homens livres, fraternal e ecuménica, onde coexistem os mais diversos credos religiosos e as mais díspares convicções e filiações partidárias.
Sendo uma associação discreta (não secreta), a Maçonaria está em Portugal, legal e regularmente constituída de acordo com as leis vigentes. É certo que a Maçonaria não é uma associação de massas, à qual possam pertencer todas as pessoas que o desejem. Na verdade, só são admitidas pessoas livres e de bons costumes, gente da mais perfeita reputação e honra, que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz e uma prática de fraternidade para todos.
Nas suas sessões ritualisticas, os maçons tornam as suas obrigações sobre um volume da Lei Sagrada, a Bíblia, a fim de dar ao juramento prestado, o carácter solene e sagrado indispensável à sua perenidade.
Embora a existência da Maçonaria operativa, ligada aos construtores dos templos se perca nas brumas da antiguidade, destacando-se a construção do Templo de Salomão, a Maçonaria especulativa só surge no início do Sec. XVIII. Estima-se que existam em todo o mundo onze milhões de maçons. Em Portugal pensa-se existirem alguns milhares, não chegando certamente aos cinco mil.
As contribuições para a melhoria da humanidade têm a mão de maçons. São disso exemplo: a Carta das Nações Unidas, a Carta dos Direitos do Homem, a carta dos Direitos da Criança, a constituição dos Estados Unidos da América, que ostenta símbolos maçónicos na sua nota de um dólar, a constituição da República Federal do Brasil, tendo sido D. Pedro I o primeiro Grão Mestre nesse país. Pertencem ou pertenceram à maçonaria as pessoas das mais variadas classes sociais e as figuras mais marcantes da sociedade, em campos como a ciência, a literatura, a medicina, a física, a música, etc. Os mais altos magistrados das nações foram ou são maçons tendo sido também maçons um número significativo de clérigos.
Dos grandes nomes de portugueses que ficaram ligados à maçonaria, destacamos: Afonso Costa, Alexandre Herculano, Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, António Augusto de Aguiar, António José de Almeida, Bernardino Machado, Egas Moniz, D. Pedro IV, Gago Coutinho, Lima de Freitas, Rodrigues de Freitas, José Fontana, Passos Manuel, Vitorino Nemésio, Sidónio Pais, Brito Camacho, Norton de Matos, Miguel Bombarda, Teófilo Braga, Raul Rego, General Gomes Freire de Andrade, Duque de Saldanha, Sá da Bandeira, Costa Cabral, Ferreira Borges, Barbosa Du Bocage, Bissaia Barreto, Rafael Bordalo Pinheiro, padre José Joaquim Monteiro de Carvalho Oliveira, o arcebispo de Évora em 1850, cónego de Coimbra Simão de Cordes Brandão de Ataíde, frei José Liberato Freire de Carvalho, frei Francisco de São Luís, frei Patrício da Silva, padre José Ferrão de Mendonça e Sousa, abade Correia da Serra, cónego João Travassos, o bispo de Viseu D. António Alves Martins, o cardeal José da Costa Nunes, etc, etc.
Numa rápida investigação efectuada, detectamos a atribuição de 29 prémios Nobel, a maçons, dos quais 13 prémios Nobel da Paz, 4 da Medicina, 7 da Literatura, 2 da Física e 3 da Química. Na música, houve figuras de relevo, de que se destacaram: Jahann Christian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. Sendo impossível referir os milhões de maçons que contribuíram para a melhoria da humanidade, terminamos essa referência com os nomes de Charles Chaplin, Oscar Wilde , Benjamim Franklin, George Washington e mais treze presidentes dos E.U.A, Henry Ford, André Citroên, Napoleão Bonaparte, Reis Eduardo VII, Jorge IV e Jorge VI de Inglaterra, Leopoldo I da Bélgica, Frederico II da Prússia, Voltaire, William Shakespeare, Walt Disney e Winston Churchill.
Como se trata de uma associação discreta, só são divulgados os nomes de maçons já falecidos, ou, de actuais maçons se isso for da sua vontade. Nenhum Irmão divulgará o nome de outro porque a isso se comprometeu por juramento. Não é portanto fácil identificar um maçom que o não deseje, mas, caro leitor, em face do acima exposto: se encontrar uma pessoa tolerante, fraterna, amante da sua pátria, sempre disponível para ajudar e proteger os outros mesmo com prejuízo pessoal, amante do seu trabalho, respeitador das crenças e opiniões dos outros, então possivelmente estará na presença de um maçom.
Nuno Vicente – Investigador em Sociologia"
Falo nisto ainda a propósito do meu "post" anterior relativo a, Tamagnini Barbosa.
A propósito de D. José da Costa Nunes, de que ficaram fotos no post anterior é importante citar a sua biografia, que pode ser encontrada na Wikipédia.
Recentemente foi feita a publicação de vários volumes da sua obra literária. O link é este http://www.macaudata.com/
Acima, fica a capa de um dos volumes publicados. Podem encontrá-los na Livraria Portuguesa.
Tamagnini Barbosa. Ainda outro Governador maçon?
D. José da Costa Nunes era, ou não era maçon? Por favor abram os arquivos. Estamos no século XXI!...
Dois provérbios:
Buscar a história é navegar em mar alto e revolto.
Ou então: -
Bom é saber calar até ser tempo de falar.Comentário a um comentário.
Nestas minhas buscas pelos séculos XIX e XX de Macau, que constituem os pontos fulcrais dos meus interesses às vezes deixo-me levar pelo entusiasmo e às vezes acabo por inferir o que racionalmente seria inferível, mas, às vezes não é. Trata-se neste caso do meu “post” sobre o Governador, Tamagnini Barbosa, intitulado “Um Governador singular”. A certa altura dou-o como maçon e republicano. Que era republicano, não parece haver dúvidas. Já quanto ao facto de ser maçon é outra coisa. Um comentador que me pareceu avisado diz-me que Barbosa, não partilharia as mesmas convicções dos irmãos e, afirma, que era católico (embora a confissão religiosa, nesta questão não me pareça impeditiva). Os irmãos eram também católicos, pelo menos oficialmente, com certeza, tal como a esmagadora maioria do povo português. No entanto, e ainda que anotando o caso para futuras investigações, reconheço que, não deveria ter feito afirmação categórica mas sim interrogado: “Tamagnini Barbosa, maçon (?) e republicano...”Este comentário a que respondo levou-me também a relevar uma constante de Macau que é esta: - Quem em Portugal, era politicamente incorrecto, mas pertencente às classes dirigentes, não tinha maneira de singrar senão nas colónias. As colónias não eram apenas destino de degredados. O Caso de Herman Machado Monteiro (outro republicano, mas indubitavelmente maçon), que depois de se ter desalinhado com qualquer corrente preponderante da república, por razões concretas, que desconheço, se auto exilou em Macau, é caso paradigmático.
Finalmente devo dizer que sabendo-se que os governadores anteriores a Tamagnini Barbosa, (depois de 1910) foram todos maçons, porque razão Tamagnini, haveria de não ser?
Por agora concedo que ao contrário do resto da família, Artur Tamagnini Barbosa, pudesse não ser maçon, embora me restem dúvidas. E dúvidas pelo seguinte: - Então não é que quem propôs a ilegalização da Maçonaria, nos inícios dos anos trinta do século passado, em Portugal, foi o deputado José Cabral, ele próprio maçon? E não é o caso também que quem assinou o decreto executório foi o presidente, Óscar de Fragoso Carmona, ele também maçon?
Esta controvérsia leva-me também a pensar na que foi desencadeada em Portugal, pelo já falecido jornalista Afonso Praça, que adiantou (nos anos 80?) num seu artigo em “O Jornal” a possibilidade de D. José da Costa Nunes, ter sido também maçon.
Sabe-se lá!
Mas o que se sabe também é que a certa altura da sua vida, D. José da Costa Nunes, decidiu queimar toda a sua documentação pessoal e recusou também a proposta de Monsenhor Manuel Teixeira, lhe fazer a biografia (isto a mim me foi dito pessoalmente, pelo falecido, Monsenhor Teixeira). Porquê?
Sabe-se lá!...
Tuesday, November 13, 2007
Quando os jornais julgam mais do que a história e os tribunais
A propósito do último governador civil de Macau (Carlos Montez Melancia) aqui deixo uma caricatura de João Guedes. Refere-se à segunda controvérsia do seu mandato. A primeira foi a da TDM. Esta (a da caricatura) refere-se à segunda que foi a da construção do Aeroporto Internacional de Macau.
É importante notar que apesar de todas as controvérsias continuo a considerar Carlos Melancia, como um dos melhores governadores.
É importante notar que apesar de todas as controvérsias continuo a considerar Carlos Melancia, como um dos melhores governadores.
Foi um dos que revelou mais visão e sentido de portugalidade do século XX, em Macau. Os outros foram Almeida e Costa (controverso também), Garcia Leandro (controverso também) e Marques Esparteiro. Este último, ou antecedente, como se queira, para além da alma grande de marinheiro terá sido um precursor. Governou nos anos 50, do século passado em tempos pouco propícios a grandes planos (falarei dele logo que possa). Pena é que Macau, para Portugal, seja terra pequena demais para que a história julgue os seus governadores. Se ainda hoje não se sabe quase nada sobre os governadores do Brasil, de Angola, ou Moçambique (todos estes territórios muito maiores do que Portugal), porque diabo se haveria de perder tempo com Macau?
Rodrigo José Rodrigues, outro Governador Maçon
A Questão do Ópio Duas Cartas (Rev. Macau, Alfredo Dias)
Já no âmbito da SDN seguiram-se as Conferências de Genebra. A representação de Portugal ficou a cargo do ministro Bartolomeu Ferreira e de Rodrigo José Rodrigues, Governador de Macau entre 1923 e 1924.
Já no âmbito da SDN seguiram-se as Conferências de Genebra. A representação de Portugal ficou a cargo do ministro Bartolomeu Ferreira e de Rodrigo José Rodrigues, Governador de Macau entre 1923 e 1924.
Rodrigo José Rodrigues frequentou, em Lisboa, a Escola Médica e formou-se em Medicina em 1902. Continuou a aprofundar os seus estudos especializando-se em oftalmologia, bacteriologia, medicina tropical e higiene e medicina sanitária. Em 1902 iniciou a sua carreira médica e colonial ao ser nomeado, por concurso, médico militar do quadro colonial. A presença de Rodrigo Rodrigues, devido à sua formação científica e ao facto de conhecer a realidade política, económica e social de Macau, permitiu à delegação portuguesa ganhar uma nova qualidade, quer do ponto de vista científico, quer político, dando particular atenção às implicações que os trabalhos da Conferência tinham naquela Província. A esta mais-valia adquirida pela delegação portuguesa juntava-se uma outra, a saber, a presença de Bartolomeu Ferreira num novo forum sobre a questão do ópio. Esta continuidade era à partida uma vantagem importante, na medida em que garantia um conhecimento sobre a problemática em questão e também sobre os meandros negociais que se desenvolviam nos bastidores destas Conferências.Podemos considerar que a estratégia política desenvolvida pelos representantes de Portugal em Genebra, segundo Rodrigo José Rodrigues, tendo em conta as instruções que procurassem conservar tanto quanto possível a situação existente, assentou basicamente em duas grandes linhas: a primeira, apontava para a tentativa de tirar vantagem das divergências entre os países que tinham um maior peso político e económico no Extremo Oriente e, mais concretamente, no comércio do ópio; a segunda, defendia o “espírito de Haia”, reivindicando uma política gradual, consentânea com os interesses de cada um dos países envolvidos naquele tráfico. Estas duas linhas de actuação passavam por manter uma postura tendencialmente defensiva, tendo em conta as limitações de Portugal em influenciar o rumo das Conferências e ainda devido à necessidade de assegurar os interesses de Macau sem pôr em causa o prestígio de Portugal junto da comunidade internacional.Em Genebra, Portugal retomou uma postura mais defensiva, tendo em conta a limitada influência política de que gozava junto dos centros de decisão da comunidade internacional e de modo a garantir a defesa dos interesses de Macau, evitando simultaneamente o isolamento diplomático do país. No final da primeira Conferência de Genebra, Rodrigo José Rodrigues considerava que os resultados tinham sido favoráveis aos interesses de Macau. (ver caixa)
O pensamento de Rodrigo José Rodrigues
Para Rodrigo José Rodrigues, nos muitos relatórios que teve ocasião de remeter para Lisboa ao longo do período em que esteve ligado a Macau e, concretamente, à questão do ópio, era claro que tinha chegado o momento de Macau pôr fim ao seu envolvimento no comércio do ópio, o qual tinha passado a ser mais prejudicial do que benéfico para a Província.Em boa verdade, ao longo de todo este processo, iniciado nos primeiros anos de novecentos, Macau foi conseguindo dar respostas às exigências da comunidade internacional expressas nos textos das Convenções de 1909, 1912 e 1925. Estas respostas podem ser sintetizadas em três grandes linhas de actuação: reformulação do quadro jurídico-administrativo que regulava o comércio do ópio em Macau; negação sistemática da existência de contrabando, como resposta às pressões internacionais e construção de infraestruturas que garantissem a construção de um futuro alternativo para o Território.No que diz respeito às alterações introduzidas no quadro jurídico elas traduziram-se nos diferentes regulamentos que foram sendo promulgados em 1910, 1915, 1917 e 1927. Estes diferentes textos revelavam uma política progressivamente proibicionista e criminalizadora face ao ópio, existindo contudo sinais de que o controlo do contrabando ia sendo cada vez mais difícil de garantir.No entanto, uma singularidade importa sublinhar pelo papel que assumiu ao colocar Macau à frente das resoluções internacionais: os cuidados especiais ligados à prática do consumo do ópio. Logo em 1909, nas condições definidas no concurso que foi aberto em Macau para a arrematação do exclusivo do comércio do ópio, a questão do consumo era vista com particular cuidado. Vendo ainda o consumo desta substância como uma necessidade que devia ser satisfeita, obrigava-se o arrematante a respeitar exigências de qualidade, quer no processo de fabricação, quer no ópio consumido nas casas de fumar. Também o preço era controlado, proibindo-se a especulação que conduzia inevitavelmente à degradação dos consumidores. No regulamento de 1910 ficou logo proibida a venda de ópio a menores de dezasseis anos e a mulheres, estes grupos foram também proibidos de frequentar as casas de fumo e optou-se por fixar o número de casas de fumo abertas legalmente. Em 1927 foi proibida a abertura de mais casas de fumo.Rodrigo José Rodrigues, nos muitos relatórios que foi enviando para o governo de Lisboa, revela um pensamento muito crítico face à evolução que a questão do ópio estava a assumir a nível internacional. Uma das fragilidades apontadas a essa política dizia respeito ao aumento da prática de contrabando a que conduzia a opção proibicionista e criminalizadora do comércio e do consumo desta substância.Por outro lado, o ex-Governador de Macau, sublinha as graves consequências que o consumo do ópio teve na China, dando especial ênfase às repercussões sociais: o ópio constituiu um sério flagelo para a China, não pelos efeitos degenerativos que produz sobre a população, mas sim pelos efeitos de perturbação sociais que dele têm derivado. Mantendo-se ainda patente uma visão de que o consumo do ópio era algo de culturalmente integrado nas sociedade asiáticas, particularmente na China, não deixa de ser interessante esta valorização da dimensão social que envolvia a prática do consumo do ópio.No que dizia respeito a Portugal, enquanto potên-cia que na época adminis-trava o Território, era claro para Rodrigo José Rodrigues que a continua-ção do comércio do ópio em Macau tinha mais desvantagens do que vantagens.Esta ideia assenta em razões morais, políticas e diplomáticas: o ópio punha em causa a moralidade administrativa da governa-ção de Macau; uma província que auferia ren-dimentos do ópio retirava à potência administrante o direito de a governar; a manutenção de Macau nos circuitos do ópio punha em causa o prestígio internacional de Portugal.Tornava-se pois urgente encontrar uma alternativa para Macau: as atenções vão ficar centradas na aposta de valorização do seu porto, aproveitando a sua privilegiada locali-zação geográfica.
Do ópio ao porto de MacauPara Rodrigo José Rodrigues a opção era clara: em primeiro lugar, o Território deveria recuperar a sua posição de entreposto comercial; em segundo lugar, importava iniciar uma reforma administrativa que permitisse conter as despesas nos limites de receitas que não fossem questionadas internacionalmente.As obras no porto eram o primeiro passo, mas muito havia a fazer para garantir uma correcta gestão administrativa na Província. Do ponto de vista comercial, Macau poderia beneficiar da sua localização geográfica e ser o centro de distribuição de produtos oriundos da Metrópole e das colónias africanas portuguesas para a China e para outros locais do Extremo Oriente. Para que este projecto fosse uma realidade deu-se início a um conjunto de obras no porto, orçamentadas em dez milhões de patacas projecto que acabava por ter muito de sonho, ao imaginar-se a possibilidade de Portugal poder construir em Macau um porto rival ao de Hong Kong.Esta opinião tinha ainda em conta as mudanças que foram ocorrendo na China e que Montalto de Jesus, no seu Macau Histórico, tão bem sublinhou: as suas tarifas alfandegárias foram reformuladas nas Conferências de Washington; uma nova revisão das tarifas ocorreu em 1926; estavam a ser renegociados os tratados de amizade e comércio entre a China e cada uma das potências ocidentais; o rendimento alfandegário acumulado com a importação do ópio tendeu a desaparecer.Era esta nova realidade, aliada ao fim do comércio do ópio, que obrigava a Província a repensar o seu papel, ou melhor dizendo, a ensaiar um projecto que lançasse as bases da sua viabilidade económica e política. Segundo Montalto de Jesus os rendimentos de Macau, oriundos do ópio, entre 1918 e 1925, baixaram de 6.676.000 para 1.819.000 dólares em consequência das restrições impostas em várias conferências internacionais sobre a importação de ópio na China e o seu sistema de contrabando, enquanto a China se tornou abertamente no maior produtor de ópio do mundo... exportando esta substância para a Birmânia, Malásia e outros destinos. Assim, admitia-se o agravamento do déficite da colónia na década de vinte devido à sua dificuldade em continuar a suportar as campanhas contra o monopólio sob a forma de concessões que, segundo o autor, asseguravam noventa por cento do rendimento da província: o ópio e o jogo. Deste modo, Montalto de Jesus fazia eco das campanhas internacionais contra Macau e contra a forma como Portugal obtinha os rendimentos que sustentavam a Província. O ópio surge, assim, situado no centro de viragem para um novo projecto em Macau: fonte de origem de dificuldades acrescidas atendendo à diminuição dos rendimentos por força das mudanças introduzidas pelas conferências internacionais e, simultaneamente, fonte de origem das receitas que poderiam ser acumuladas para munir a Província das infraestruturas de suporte para o início de um novo período de desenvolvimento, isto é, as obras do porto de Macau.As condições para assegurar a Macau uma nova era de prosperidade são definidas pelo autor, em duas grandes linhas: reformular o sistema administrativo do porto e estimular a confiança num novo projecto de mudança. Esta última condição surge protagonizada no discurso da tomada de posse do Governador Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães (1925-1926): parar é morrer.O novo projecto de mudança passava pela execução de um conjunto de obras tendo em vista restituir a Macau a sua velha condição de porto comercial, para a qual o Território reunia as condições necessárias: em primeiro lugar, a posição geográfica privilegiada, constituindo uma saída natural para os produtos chineses, nomeadamente a seda de Zhongshan e todo o comércio do rio Oeste e para o conjunto das províncias de Guangdong, Guangxi, Guizhou e Yunnan; em segundo lugar, a possibilidade de importar directamente, via Macau, um milhão de dólares de produtos chineses, em vez de o fazer por intermédio de outros países; finalmente, em terceiro lugar, a integração de Macau em circuitos comerciais com outros países da região como o Japão, a Austrália, e ainda a Califórnia, com produtos como o vinho e, principalmente, a cortiça.Em 1920, dos dez milhões de dólares necessários, Macau dispunha de nove milhões, graças a um excedente criado pela subida repentina do monopólio do ópio e que se constituiu como um fundo de reserva que foi canalizado para as obras do porto exterior de Macau, iniciadas em 1922: vastas obras de aterro ao longo da costa entre o istmo até à extremidade norte da Praia Grande que permitiriam a construção de instalações industriais, cais e armazéns. A estreita relação entre o fim do comércio do ópio em Macau e o repensar de novas soluções para a Província são o grande impulso para a execução deste projecto. Explicam-se, deste modo, as preocupações manifestadas pelos governadores da Província e pelos ministérios de Lisboa quando eram confrontados com a pressão internacional, nomeadamente britânica, para acelerar o encerramento daquela actividade.Assim, o ópio constituiu-se como o problema e, em grande parte, a solução para Macau, renovação de uma esperança que apesar de estar a ser construída, não dava suficientes garantias de atingir os frutos desejados
O pensamento de Rodrigo José Rodrigues
Para Rodrigo José Rodrigues, nos muitos relatórios que teve ocasião de remeter para Lisboa ao longo do período em que esteve ligado a Macau e, concretamente, à questão do ópio, era claro que tinha chegado o momento de Macau pôr fim ao seu envolvimento no comércio do ópio, o qual tinha passado a ser mais prejudicial do que benéfico para a Província.Em boa verdade, ao longo de todo este processo, iniciado nos primeiros anos de novecentos, Macau foi conseguindo dar respostas às exigências da comunidade internacional expressas nos textos das Convenções de 1909, 1912 e 1925. Estas respostas podem ser sintetizadas em três grandes linhas de actuação: reformulação do quadro jurídico-administrativo que regulava o comércio do ópio em Macau; negação sistemática da existência de contrabando, como resposta às pressões internacionais e construção de infraestruturas que garantissem a construção de um futuro alternativo para o Território.No que diz respeito às alterações introduzidas no quadro jurídico elas traduziram-se nos diferentes regulamentos que foram sendo promulgados em 1910, 1915, 1917 e 1927. Estes diferentes textos revelavam uma política progressivamente proibicionista e criminalizadora face ao ópio, existindo contudo sinais de que o controlo do contrabando ia sendo cada vez mais difícil de garantir.No entanto, uma singularidade importa sublinhar pelo papel que assumiu ao colocar Macau à frente das resoluções internacionais: os cuidados especiais ligados à prática do consumo do ópio. Logo em 1909, nas condições definidas no concurso que foi aberto em Macau para a arrematação do exclusivo do comércio do ópio, a questão do consumo era vista com particular cuidado. Vendo ainda o consumo desta substância como uma necessidade que devia ser satisfeita, obrigava-se o arrematante a respeitar exigências de qualidade, quer no processo de fabricação, quer no ópio consumido nas casas de fumar. Também o preço era controlado, proibindo-se a especulação que conduzia inevitavelmente à degradação dos consumidores. No regulamento de 1910 ficou logo proibida a venda de ópio a menores de dezasseis anos e a mulheres, estes grupos foram também proibidos de frequentar as casas de fumo e optou-se por fixar o número de casas de fumo abertas legalmente. Em 1927 foi proibida a abertura de mais casas de fumo.Rodrigo José Rodrigues, nos muitos relatórios que foi enviando para o governo de Lisboa, revela um pensamento muito crítico face à evolução que a questão do ópio estava a assumir a nível internacional. Uma das fragilidades apontadas a essa política dizia respeito ao aumento da prática de contrabando a que conduzia a opção proibicionista e criminalizadora do comércio e do consumo desta substância.Por outro lado, o ex-Governador de Macau, sublinha as graves consequências que o consumo do ópio teve na China, dando especial ênfase às repercussões sociais: o ópio constituiu um sério flagelo para a China, não pelos efeitos degenerativos que produz sobre a população, mas sim pelos efeitos de perturbação sociais que dele têm derivado. Mantendo-se ainda patente uma visão de que o consumo do ópio era algo de culturalmente integrado nas sociedade asiáticas, particularmente na China, não deixa de ser interessante esta valorização da dimensão social que envolvia a prática do consumo do ópio.No que dizia respeito a Portugal, enquanto potên-cia que na época adminis-trava o Território, era claro para Rodrigo José Rodrigues que a continua-ção do comércio do ópio em Macau tinha mais desvantagens do que vantagens.Esta ideia assenta em razões morais, políticas e diplomáticas: o ópio punha em causa a moralidade administrativa da governa-ção de Macau; uma província que auferia ren-dimentos do ópio retirava à potência administrante o direito de a governar; a manutenção de Macau nos circuitos do ópio punha em causa o prestígio internacional de Portugal.Tornava-se pois urgente encontrar uma alternativa para Macau: as atenções vão ficar centradas na aposta de valorização do seu porto, aproveitando a sua privilegiada locali-zação geográfica.
Do ópio ao porto de MacauPara Rodrigo José Rodrigues a opção era clara: em primeiro lugar, o Território deveria recuperar a sua posição de entreposto comercial; em segundo lugar, importava iniciar uma reforma administrativa que permitisse conter as despesas nos limites de receitas que não fossem questionadas internacionalmente.As obras no porto eram o primeiro passo, mas muito havia a fazer para garantir uma correcta gestão administrativa na Província. Do ponto de vista comercial, Macau poderia beneficiar da sua localização geográfica e ser o centro de distribuição de produtos oriundos da Metrópole e das colónias africanas portuguesas para a China e para outros locais do Extremo Oriente. Para que este projecto fosse uma realidade deu-se início a um conjunto de obras no porto, orçamentadas em dez milhões de patacas projecto que acabava por ter muito de sonho, ao imaginar-se a possibilidade de Portugal poder construir em Macau um porto rival ao de Hong Kong.Esta opinião tinha ainda em conta as mudanças que foram ocorrendo na China e que Montalto de Jesus, no seu Macau Histórico, tão bem sublinhou: as suas tarifas alfandegárias foram reformuladas nas Conferências de Washington; uma nova revisão das tarifas ocorreu em 1926; estavam a ser renegociados os tratados de amizade e comércio entre a China e cada uma das potências ocidentais; o rendimento alfandegário acumulado com a importação do ópio tendeu a desaparecer.Era esta nova realidade, aliada ao fim do comércio do ópio, que obrigava a Província a repensar o seu papel, ou melhor dizendo, a ensaiar um projecto que lançasse as bases da sua viabilidade económica e política. Segundo Montalto de Jesus os rendimentos de Macau, oriundos do ópio, entre 1918 e 1925, baixaram de 6.676.000 para 1.819.000 dólares em consequência das restrições impostas em várias conferências internacionais sobre a importação de ópio na China e o seu sistema de contrabando, enquanto a China se tornou abertamente no maior produtor de ópio do mundo... exportando esta substância para a Birmânia, Malásia e outros destinos. Assim, admitia-se o agravamento do déficite da colónia na década de vinte devido à sua dificuldade em continuar a suportar as campanhas contra o monopólio sob a forma de concessões que, segundo o autor, asseguravam noventa por cento do rendimento da província: o ópio e o jogo. Deste modo, Montalto de Jesus fazia eco das campanhas internacionais contra Macau e contra a forma como Portugal obtinha os rendimentos que sustentavam a Província. O ópio surge, assim, situado no centro de viragem para um novo projecto em Macau: fonte de origem de dificuldades acrescidas atendendo à diminuição dos rendimentos por força das mudanças introduzidas pelas conferências internacionais e, simultaneamente, fonte de origem das receitas que poderiam ser acumuladas para munir a Província das infraestruturas de suporte para o início de um novo período de desenvolvimento, isto é, as obras do porto de Macau.As condições para assegurar a Macau uma nova era de prosperidade são definidas pelo autor, em duas grandes linhas: reformular o sistema administrativo do porto e estimular a confiança num novo projecto de mudança. Esta última condição surge protagonizada no discurso da tomada de posse do Governador Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães (1925-1926): parar é morrer.O novo projecto de mudança passava pela execução de um conjunto de obras tendo em vista restituir a Macau a sua velha condição de porto comercial, para a qual o Território reunia as condições necessárias: em primeiro lugar, a posição geográfica privilegiada, constituindo uma saída natural para os produtos chineses, nomeadamente a seda de Zhongshan e todo o comércio do rio Oeste e para o conjunto das províncias de Guangdong, Guangxi, Guizhou e Yunnan; em segundo lugar, a possibilidade de importar directamente, via Macau, um milhão de dólares de produtos chineses, em vez de o fazer por intermédio de outros países; finalmente, em terceiro lugar, a integração de Macau em circuitos comerciais com outros países da região como o Japão, a Austrália, e ainda a Califórnia, com produtos como o vinho e, principalmente, a cortiça.Em 1920, dos dez milhões de dólares necessários, Macau dispunha de nove milhões, graças a um excedente criado pela subida repentina do monopólio do ópio e que se constituiu como um fundo de reserva que foi canalizado para as obras do porto exterior de Macau, iniciadas em 1922: vastas obras de aterro ao longo da costa entre o istmo até à extremidade norte da Praia Grande que permitiriam a construção de instalações industriais, cais e armazéns. A estreita relação entre o fim do comércio do ópio em Macau e o repensar de novas soluções para a Província são o grande impulso para a execução deste projecto. Explicam-se, deste modo, as preocupações manifestadas pelos governadores da Província e pelos ministérios de Lisboa quando eram confrontados com a pressão internacional, nomeadamente britânica, para acelerar o encerramento daquela actividade.Assim, o ópio constituiu-se como o problema e, em grande parte, a solução para Macau, renovação de uma esperança que apesar de estar a ser construída, não dava suficientes garantias de atingir os frutos desejados
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