Wednesday, October 22, 2008

Uma caricatura antiga e um artigo antigo mas ao mesmo tempo actual


Neste blogue não gosto de falar de política nem de assuntos da actualidade de Macau. Todavia encontrei um escrito meu de há muitos anos e nunca publicado que em minha opinião se aplica ao dia de hoje em que se registou a abertura do ano judicial (Outubro 2008).

Reza assim o artigo (com as devidas modificações de tempo e modo):-

Diz-se que em Macau não há massa crítica.

Não sei bem o que o termo significa.

Será sinónimo de psicologia de massas?

Será uma conclusão da teoria das vanguardas do Marxismo-leninismo.

Não tenho a certeza, mas com certeza que o pensamento crítico não está ausente de Macau, senão Macau não existiria como postulado nem como existência concreta (a cidade existe e vive).

De facto, se não existe massa crítica, ou vanguardas esclarecidas há com certeza gente que para além de pensar em família, ou para si próprio tem ocasião de publicitar o que pensou, de forma acertada mas bem e, em alguns caso bem humorada, o que faz mais efeito.

Neste contexto relevo uma frase que me parece exemplar no caldeirão da eventualmente inexistente massa crítica que foi proferida pelo presidente da Associação dos Advogados, Jorge Neto Valente a propósito da passagem dos 5 anos da RAEM que todos comemoramos agora.

Diz Neto Valente e cito: Portugal não esteve em Macau 400 anos mas sim duzentos anos em comissões de serviço sucessivas de dois anos!

Verdade iniludível.

Cumpre dizer que o mesmo advogado tinha dito em 1983, quando era deputado à Assembleia Legislativa outra frase liminar que ainda hoje recordo.

Finda uma intervenção pró governamental de um seu colega de hemiciclo, que por acaso era também director da Polícia Judiciária, mas que não passou (nesse mesmo hemiciclo) de uma longa banalidade, Neto Valente tomou a palavra para comentar e dizer apenas que a intervenção do seu colega seria de La Palisse, se não fosse de “la police”. Isto porque “la police”, extravasava a sua área de competência para se intrometer na política.

Num intervalo de vinte anos as duas intervenções públicas que citei ficam para a história mais do que se pode assumir.

De facto Macau mantém-se agora como identidade cultural com muito mais especificidades do que seria de esperar antes da transição de 20 de Dezembro de 1999.

As ruínas de S. Paulo, o Palácio da Praia Grande o Palacete de Santa Sancha, as várias igrejas; S. Domigos, Penha, Santo Agostinho, a Sé.

Os templos de À Má, Kun Yam e Lin Fong, as fortalezas da Barra, do Monte da Guia e tantos outros monumentos são verdades de La Palisse reconhecidas como património mundial.

Mas as pessoas serão também reconhecidas como património mundial?

Nove anos depois do estabelecimento da RAEM é preciso perguntar e esclarecer se de facto Macau é uma especificidade de Monsieur de La Palisse ou uma cidade nova a construir agora perene sobre a interinidade de 400 anos de portugueses enviados para o Extremo Oriente para comissões sucessivas de dois anos.

Ou se de facto Macau existe como realidade multifacetada capaz de resistir aos tempos com identidade própria no interior de uma pátria milenar de que de facto, apesar dos ventos da história e das realidades da política me parece que nunca esteve arredada.

Mas, e para terminar estou curioso para saber se Macau se manterá como realidade autónoma no futuro e se será capaz de trazer à grande China algum valor acrescentado.

Não falo dos milhões que nos casinos, que circulam entre bancos (agora falidos, ou semi - falidos), mas sim da possibilidade de Macau ser de facto mais do que palavras de políticos de boas intenções de académicos e de interesses reais de pessoas comuns sem nada a ganhar, ou a perder poder tornar-se num entreposto democrático do mundo todo.

Tenho pena, mas não tenho opinião

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