Friday, February 25, 2011



O tio Arnaldo trata disso tudo

Como sempre tratou

As lágrimas quedam-se com ele em ângulo agudo

Convergente

Por aqui estou

Presente!

Afirma sem dizer como se fosse um surdo mudo

O Tio Arnaldo quando tudo falta sempre trata de tudo.

Que heroicidade esta de meu irmão

Verter as lágrimas de todos nós

Sozinho

Sublimemente mudo

Num cadinho

De ouro

Besouro

Coerente

Sempre consciente

Sem dizer nada na vida corrente

de todos nós

Trata do que deve como as mós

Dos moinhos antigos sem se dar por elas

Rodam, rodam e alimentam

De farinha bocas que não sabem que têm fome

E a família vive

E a família come

E o mundo gira.

Incoerente informe

E acorda e dorme.

Foram-se os pais, os tios e os avós.

Falta alguém?

Faltamos todos nós

Esmorecem as velas

Mas o Tio Arnaldo não.

Do trabalho obreiro

Pega com uma mão

Uma agonia

E com a outra uma exactidão

Do dia a dia

Sobre todos os chorados mortos temos que sobreviver

A vida é assim que se há-de fazer?

14 Janeiro 2011-01-14

J. Guedes

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