Tuesday, June 22, 2010

Ode pequena a uma atleta conhecida

Cão atleta em repouso merecido


E setas

E cronómetros

E quartos

E metas

E atletas

Por centímetros

Por milímetros

Corredores de fundo

Vencemos ao segundo

Primeira palma

Do pé.

Arfa a alma contente

Da atleta

Quando corta a meta

Dor física

Da vencedora

Corredora

De fundo.

Quem é?

Primeira palma

Do pé.

Nós e ela somos

E choramos e vemos

Laranja feita de gomos

Na bancada

Separada

A separar

Pelo polegar

E a atleta a arfar

Triunfadora

Desfraldadora

De Bandeira

Vencemos

Vamos celebrar

A nossa atleta

Cortou a meta

Muito bem!

Venceu ela, e viva Portugal?

Acho que nessa competição mundial

Vista pela televisão

Pelo Mundo todo

E mais por mim e pelo meu cão.

Comovi-me.

Ele não!

É que ele

Animal nascido atleta de profissão.

Corre que se farta como todos os da sua raça

(durante o dia quando pode, claro!)

Mas como é daltónico (estão a ver)

Não consegue perceber

O que se passa nas seiscentas e tal linhas de cores que compõem um ecran

De televisão.

Numa transmissão directa pela manhã

E por isso foi que

Quando a nossa atleta

Cortou a meta

Eu deitei uma lágrima de um olho

Ele esticado no tapete não

Apenas tremelicou o sobrolho

Esticou a pata e ignorou

E perante um tal evento nacional

Então, então!

Escondeu ainda mais o focinho na almofada e mais alto ainda ressonou

No chão.

Que falta de sentido pátrio tem o meu cão!

João Guedes

Maio 2008

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