Tuesday, June 22, 2010

A Lua a Madrugada e o Oriente

A inspiração vai-se sumindo


De mim a inspiração vai-se sumindo

Fazer poemas é cada vez mais raro

O Mundo é cru estúpido, mal vindo

E eu neste momento da vida o passo paro.

A madrugada surge devagar a Oriente

Perdi acordado uma noite inteira.

(por obrigação estive a escrever prosa para um jornal)

Olho de soslaio para a janela ingente

Através da qual o Sol se esteira.

Creio que o artigo me saiu menos mal

Ao menos que me paguem pelas horas que gastei

A juntar palavras e exarar opinião.

Mas essa perda de tempo não é a questão.

O problema sou eu.

O nascer do dia surge

Logo a seguir ao lusco-fusco - madrugada bela

E há um rio afluente

E há um assobio de pássaro - ouço além uma cantarela.

Será uma cigarra lírica, ou apenas o ruído prosaico

Do quotidiano que é sempre onomatopaico.

E o Mundo, sempre de certo modo ausente

Na sonolência ligeira

Que me sobrevem

Torna-se mais uma vez presente.

O que me ficou verdadeiramente

Por fazer não o digo a ninguém.

Perdi o meu passeio.

Ontem devia caminhar, mas não o fiz

Preferi gastar uma meia - noite de tempo em falaz seio

E casar por momentos com uma lua de verniz

Adormeço.

Adormeço a meia-tarde!

Vejam lá!

A inspiração sumiu-se

Já não me apetece poetar

Mas passear

No onírico mundo infindo

Por onde posso imaginar.

Que durmo e não estou e não me culpo por tardar

E me ter esquecido ontem de passear

(passear meia-hora por dia, pelos menos, é o que o meu médico recomenda para a minha doença)

Mas de repente acontece.

Acordo!

A sesta foi-se e o Sol arde

E eu ainda meio a dormir naquele seio

Pintado de branco giz

Verifico que foi apenas um passeio

Que não fiz.

Lavo a cara. Olho para o relógio.

Estarei atrasado para entrar a horas no emprego?

Não. Não tenho horário fixo.

Há que sossegar!

O mundo foi-se num ápice e já são outra vez horas de jantar

Que mundo este o de imaginar

João Guedes

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