Friday, May 28, 2010

"O Só". António Nobre passava férias em S. Cosmado


Este mais um trecho de S. Cosmado no grande nevão de 1956.

São fotografias de que guardo memórias muito particulares e felizes da minha infância e por isso insisto em dá-las a conhecer. Todas estas fotografias foram tiradas por meu Pai que era ali “médico de partido” como se dizia na altura.

Neste caso incluo mais esta apenas a propósito de um facto que desconhecia e que só recentemente vim a saber pelo texto que reproduzo abaixo.

António Nobre, o poeta de “O Só” passava aqui férias e aqui namoriscava. Namoros de Verão já se vê. Naturalmente que S. Cosmado não vestia de branco o ano inteiro. Também vestia de exuberantes verdes e de laranjas fulvos e de castanhos nas Primaveras, nos Verões e nos Outonos que se sucediam.

António Nobre nunca viu S. Cosmado de branco (quem se lembraria de passar férias em S. Cosmado no Inverno?) senão que sonetos teria feito? Provavelmente ainda mais tristes dos que os que o inspiraram na “Torre d Anto”. Ou então não. Se calhar acabaria por se render às líricas alvas da gente alegre dos piqueniques de Monet e ser um percursor serrano do realismo de Cesário Verde. Sabe-se lá...

Segue o texto de Humberto Pinho da Silva - Amor desconhecido de António Nobre

No ano de 1867, a 16 de Agosto, nasceu numa casa da Rua de Santa Catarina, no Porto, bem perto da redacção do semanário portuense “ A Ordem”, António Nobre, filho de José Pereira Nobre e de Ana de Sousa, abastados burgueses.

Frequentou os mais elegantes colégios da cidade; e na adolescência passava as horas de lazer junto ao mar, na praia de Boa Nova, em Leça da Palmeira ou estanciava nas quintas da família: ora na Lixa, ora no Seixo (Penafiel).

Por essa época carteava-se com Miss Charlote, inglesinha, por quem nutria certo afecto.

Matricula-se em 1888 na Universidade de Coimbra, indo residir na Torre de Anto. Como obteve duas reprovações, assentou estudar em Paris, na Soborne, concluindo licenciatura em Ciências Políticas de Direito.

Na cidade da luz pública o célebre livro “Só”; retrato fiel da sociedade nortenha do último quartel do séc. XlX.

Vitima do malfadado bacilo de koch, desloca-se para a Suiça, em tratamento, e mais tarde para a Madeira; e numa derradeira esperança, a Nova Iorque e Baltemore. Todavia nunca conseguiu livrar-se da tísica que o corroía atrozmente.

Acaba por falecer na Foz do Douro, a 18 de Março do ano de 1900.

Mas não é a biografia de António Nobre que se pretende levar aos leitores, mas “secretos” amores, que para sempre permaneceriam em segredo se não fosse carta que encontrei em caixa, que pertencera a meu pai, datada de 01-11-1967, escrita com graça e espírito pela Senhora Dona M. José de Souza Pinto da Silva.

António Nobre – de frágil saúde, mas não contaminado pela fatídica doença, - veraneava numa quinta no Douro.

Contíguas à propriedade residiam cinco guapas meninas que o convidavam, para passeios e “pic-nics“.

Destacava-se, ente elas, uma de grande beleza e de formosos olhos negros, que enfeitiçaram a alma romântica do poeta, espertando-lhe no coração inflamado amor.

Para sua desdita a mocinha fazia-se desentendida às delicadas cortesias de António Nobre.

Certa vez, quando merendavam, o poeta tentou mostrar-lhe, de todos os jeitos possíveis - possíveis para o séc. XlX, - a paixão, mas vendo-a tão desinteressada e gulosa pelos doces que trazia, pediu-lhe o leque - nesse tempo todas as meninas possuíam um, por vezes com quadras do namorado ou poetas da moda , - e escreveu de jacto:

- D. Eugénia quer doçura, D. Eugénia quer pudim!

D. Eugénia quer fartura, quer tudo menos a mim!

D. Eugénia quer fartura, quer tudo menos a mim!

Uma das irmãs da Eugénia era a Maria da Graça, por sinal bastante melancólica e pensativa; noutra ocasião o poeta escreveu-lhe no leque:

D. Maria da Graça é uma flor sem alegria!

O seu nome foi chalaça - devia ser só Maria!

E numa manhã de inspiração, ao enxergar a quinta das meninas, escreveu a transbordar de amor:

Além, avisto um pinhal onde arrulham pombas brancas!

Mais abaixo, um santuário, onde vivem cinco santas!

A todas elas eu rezo, rezo com muito fervor!

Mas entre elas há uma, a quem rezo por amor!

Viviam as cinco meninas – no séc. XlX , - numa quinta em Armamar (S. Cosmado?), perdida entre altaneiros montes e vinhedos, intercorrido por ásperos caminho que mal permitiam a passagem de carros tirados por bois. Local belo, como belas era as meninas.

Será que o leitor pode dizer-me a que famílias pertenciam? Já que a autora da missiva não revela?

Saberia a graciosa Eugénia, de olhos negros, negros como ébano, que António Nobre estava realmente apaixonado e que a afeição que lhe dedicava era sincera e não devaneio de Verão?

Quem sabe responder?

XXX

Respondeu leitor, semanas depois de haver publicado o artigo, na imprensa, esclarecendo o seguinte:

Aqui vai pois o que pede: O nome completo da Senhora é: Maria Eugénia Peixoto Mendes de Vasconcelos Guedes de Carvalho, nascida na Casa do Carvalho a 30 de Outubro de 1877 e falecida solteira na Casa do Campo da Feira.

Filha de António de Vasconcelos Guedes de Carvalho, Morgado do Carvalho, e de Inês Virgínia da Costa Pereira Peixoto. Neta Paterna de Joaquim Vasconcelos Rebelo Mendes de Carvalho e de Maria Leonor Guedes de Meneses e materna de Bernardo da Costa Ribeiro Teixeira da Fonseca da Casa da Portela em Amarante e de Ana Peixoto Queiroz e Meneses.

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