Friday, April 1, 2011



Este pássaro que assobia
Que parece noiteibó disse-me no outro dia
Que assobia pela avó

Não pode ser passaroco!
Respondi-lhe a meio trilho
Sabes lá pássaro louco
Sabes lá de quem és filho?

Quanto mais da tua avó!

E o pássaro a assobiar
Insistia em me contar
Que era filho e era neto
E era mesmo bisneto
De quem soubesse cantar

Nesse momento o meu cão
No trilho
Olhou de soslaio
E começou a ladrar

(Evidentemente que o diálogo do dono com o pássaro não lhe estava a agradar).
Ciumentos cão e dono e as árvores e as plantas rasteiras.
Tudo, tudo a exclamar.
Dos galhos altos da floresta baixo os olhos
Para a terra
Onde se estendem curvos barros de estradão
Ervas laterais
E o meu cão.
Então,
Por telepatia
(como comunicamos sempre),
diz sentencioso
O meu velho Labrador
Nesse momento fleumático,presente e ciumento
Em que deixou transparecer num arrepio de momento
Cauda e orelhas a abanar.
Meu dono não te deixes enganar
O pássaro canta e assobia
Mas não cheira deste mundo a anatomia
Vive na estratosfera
Noutra gnoseologia
Nós não
Vivemos na terra
O dia a dia
Do olfacto do chão.
Nesse momento
O mundo emudeceu
Um esporo floral
Esmorescente primaveril e decorrente
Caiu de uma árvore e
Entrou-me nas narinas
E nessa altura espirrei
Estás a ver meu dono
Disse o meu cão
São as narinas,
As feramonas
Quanto ao resto não sei.

J. Guedes 09 Março 2011

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