Monday, March 24, 2008


O sábado a tardar
E o cão ladrar
Como todos (o meu) é amigo do dono
Mas inconsciente
Não pressente
Que incomoda o meu sono.
Cão!
Cala-te senão...
Ameaço eu.
Mas o meu cão não se importa
Dorme no meu quarto
Está fechada a porta
Ele quer comer.
É meio-dia!
Eu quero dormir
Dicotomia
Ele acordou de madruga
Como compete a um animal
Que se deita cedo
Eu deitei-me tarde, e mal
E só ao meio-dia me aconchego.
(Ou mais tarde ainda)
O meu ciclo circassiano
Acho que nunca finda.
Poderia ficar a dormir todo o ano.

O meu cão
Animal paciente
Fica a esperar.
Uma manhã a dormir no quarto do dono
É sono
Impossível de aturar

E é então que se começa a irritar
E a ladrar

Meu dono (diz o meu cão)
Acorda desse sono
Vamos! Então?
Quero comer
Deixa essa inanição
Levanta-te
O dia já vai a mais de meio
E tu, seu calaceiro a dormir.
Volto-me na cama a fingir
Que não o ouço a ladrar
Como faço quando há obras decorrer
Num qualquer andar
Martelos a bater brocas a esburacar
Num apartamento
Qualquer
Do edifício onde moro.
Já sei que não há decoro
Diz o meu cão
Mas meu dono. Por favor
Sai da inanição
Do teu sono.
Tem amor.
Abre-me a porta
Vai à cozinha
Pegas na ração
Põe-ma na marmita
Nem sequer precisas de tirar o pijama
Eu como
E tu voltas para a cama.
E eu faço como ele diz
Levanto-me, dou-lhe de comer
Regresso ao quarto e volto a adormecer

O Sábado já vai a mais de meia da tarde
O Sol a entardecer

E eu volto a dormitar
E a sonhar

Mas

Por entre a luz que se defenestra
Eu, meio inconsciente, volto-me mais uma vez na cama
E vejo o meu cão que se derrama
No tapete, outra vez a dormir a sesta

Meu amigo
Vamos continuar a dormir
Tú vais sonhar comigo
E eu contigo
Deixemos o entardecer partir.
Amanhâ se calhar
Voltamos a acordar
Se Deus quiser
Ou então
Meu cão
Lindo animal o dia que vier
Vai ser o que Deus quiser
Macau 14 de Janeiro de 2008

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