Tuesday, October 30, 2007

A Escada de Jacob



No Elevador de Jacó
A subida da escada de Jacó não é uma ativida de mão única. Essa escalada é rica, é de interação vital para se completar a obra. Ela é o fluir de todos os recursos espirituais necessários para que os "mistérios das alturas" sejam desvendados em nossa insustentável fragilidade humana. Como relatado no sonho de Jacó, os anjos subiam e desciam uma escada para o contato com a morada de Deus. A incomunicabilidade humana parte do não-entendimento da ação, do que se está fazendo. Os anjos em "descensus" vêm do topo, os anjos em "ascensus" buscam as alturas. Eles sobem e descem numa acertada comunicação que se revela no pleno desenvolvimento da consciência humana. Hoje, retorno do topo. Estou em descida (descensus) e faço uma parada no quarto degrau, já que nos três primeiros estamos sempre visitando (a câmara de reflexão, a visão do prumo e a câmara fúnebre de Hiran). O Mestre Secreto vai ao encontro da consciência do homem. Nesse estágio do Rito Escocês Antigo e Aceito, no qual toda a decoração do templo de Jerusalém é relembrada, a Menorá (o candelabro de sete braços) tem lugar de destaque como luminária do templo - a lâmpada eterna. Junto à mesa com a Arca da Aliança, as Tábuas da Lei, o Vaso de Maná e a Vara de Arão, está a Menorá imponente, como a vela eterna, a "ner tamid" hebraica, que é mantida acesa mesmo quando a sinagoga está vazia ou fechada. Essa luz é modelada no candelabro do Templo e sempre mantém uma chama de seus sete braços milagrosamente acesa enquanto os demais estão sendo limpos, apesar de terem, todos, a mesma quantidade de óleo. A sinagoga é um Templo, e dentro dele a chama dessa lâmpada representa a idéia de que Deus está presente no universo. No mundo cristão, essa idéia é representada pela chama ardente que é mantida acesa atrás do altar, no Sacrário da igreja católica (lugar onde são guardadas as hóstias consagradas para o sacramento da Eucaristia). Em nossa câmara do 4º grau, os sete braços do candelabro estão todos acesos, simbolizando a luz espiritual, a semente da vida e da salvação. "Demos-lhe tantos braços quanto são os planetas", disse Flavius Josepho, referindo-se ao Sol, à Lua e aos planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
"A imitação terrestre da esfera celeste arquetípica", nas palavras de Filon. O próprio Clemente da Alexandria afirma que o candelabro de ouro com sete braços significa "os movimentos dos sete astros luminosos que realizam seus percursos no céu. (...) Relaciona-se com a cruz de Cristo não apenas por causa de sua forma, mas porque o candelabro relembra a cruz-fonte de luz". Ele evoca também os sete arcanjos superiores.Reza a lenda que o candelabro de ouro com sete braços cheios de óleo de oliva era mantido permanentemente aceso no Templo de Jerusalém. Ele simbolizava a sabedoria divina. A Menorá original, feita no tempo em que os israelitas perambulavam pelo deserto, foi fundida em ouro por Moisés e tomou forma por si mesma. Desde os tempos do Primeiro Templo, o candelabro tem sido um dos principais símbolos judaicos e foi, até pouco tempo, o emblema do Estado de Israel (antes de ser adotada a estrela de Davi).Uma leitura de Êxodo (25:31, 33, 37, 40) e de Zacarias (4:1, 14) é sempre útil para um entendimento teológico, místico e espiritual de sua construção.Vendo uma certa analogia entre a Arca da Aliança e o Candelabro, afirma Magister: "(...) por essa razão, a Arca há de ser iluminada pelo candelabro de sete luzes, que são ao mesmo tempo os sete Elohim ou Criadores (manifestados nos sete raios, nas sete Forças Planetárias e nos sete Anjos que se sentam diante do Trono de Deus), as sete virtudes, as sete Artes e os sete dons do Espírito Santo: Sabedoria, Inteligência, Conselho, Juízo, Fortaleza, Ciência e Temor a Deus".Essas são as sete luzes filosóficas que devem iluminar e contemplar, no Mestre Secreto, a Fé, a Esperança e o Amor, cujo conhecimento prático foi vivenciado nos três primeiros degraus. Os sete fogos devem ser acesos e brilhar no Santuário de nossa Consciência.
Ir .·. Valfredo Melo e SouzaAcademia Maçônica de Letras do DF


No Elevador de Jacó

Saturday, October 27, 2007

Depois de ter publicado várias fotografias de S. Cosmado é altura de publicar um conto. E o conto é de meu irmão, que conseguiu sintetizar em literatura a história que, não consta da história do Mundo, mas consta de uma tradição idiossincrática de uma pequena aldeia (agora é vila. Viva a democracia e os novos tempos!). Camilo, Aquilino, Brandão e Sousa Costa (este esquecido, sabe-se lá porquê), escreveram contos que provavalmente não constam também dos tempos novos. Queiroz que era refinado demais não consta de certeza nestes novos tempos, tal como Oliveira Martins (velho, velho!...)
Aqui vai o conto de meu irmão sobre S. Cosmado, os seus tipos e a sua história. Uma verdadeira historia da Beira. O caso é particular. Quem se lembra do que aconteceu achará que o contador da história acresce um ponto, Será


CONTO DO VIGÁRIO COM ASSALTO


Cerca das quatro da madrugada o Senhor Magalhães foi estremunhado pelas fortes pancadas do batente em mão de ferro sustentando uma esfera que embate noutra incrustada na ampla e grossa porta de castanho do seu casarão.
Quem o chama alarmado é o Mamoto. Estão-lhe a assaltar a loja, e o povo deu conta e tem o ladrão cercado lá dentro. È preciso correr até Amarais para trazer a Guarda e caçar o ladrão.
O Senhor Magalhães está na posse da carta de condução do Mamoto, que não tendo dinheiro, fez questão de entregar o documento ao Senhor Magalhães como fiança na compra de fazenda fina para um fato, camisas, meias e lenços de seda, tudo da melhor qualidade e preço a condizer.
Sem carta, dizia o Mamoto, o Senhor Magalhães ficava assim certo que não iria ausentar-se para Espanha, onde permanecia longos períodos de tempos a tratar da vida, sem se saber qual. Contava pagar para a outra semana, e só depois partiria para a Espanha.
O Senhor Magalhães a contra gosto aceitou a carta. Sempre era uma garantia, de que o Mamoto talvez pagasse antes de se sumir para além fronteiras.
Na aflição do momento o Senhor Magalhães enfiou o robe do avesso, colocou os grossos óculos de aros de tartaruga, atabalhoadamente espalhou os papeis na secretária, agarrou na carta de condução e lançou-a da janela para as mão ávidas do Mamoto que correu de imediato rua abaixo.
O Ford de oito cilindros em dois minutos já roncava acelerado, iluminando a curva da Torre, e num ápice apagava-se com o Mamoto no silêncio e escuridão da noite. E não voltou mais.
O Senhor Magalhães correu contra o tempo e contra o reumatismo pela escada abaixo e pela rua fora, mas quebrou um instante por fôlego da idade, e foi o bastante para que a razão, qual grilo falante, acordasse nele uma breve suspeita.
Junto a casa comercial um punhado de homens montava sentinela às grossas portas trancadas por dentro, menos a central fechada por duas grossas fechaduras, que foram estruncadas. Os homens impacientes queriam entrar ma loja, mas o Senhor Magalhães procurou detê-los. Era consciente, e embora ansioso de prender o ladrão, queria aguarda pela autoridade prestes a chegar.
O tempo passava entretanto, e a guarda não vinha. O povo excitado era cada vez mais, uma multidão a perder o controle. E não foi mais possível suster o ímpeto com que os mais valentes se precipitaram pela porta adentro, que cedeu de repente, e fez com que o povo entrasse em roldão no negro da loja.
O Galo, de alcunha, sacou de uma pilha e lançou o foco para todos os cantos, o Senhor Magalhães fez brilhar o petromax, outros acenderam velas e a loja foi vasculhada até dentro dos armários de alçapão, do açúcar, do café em grão, do arroz, do feijão e em todos os mais cantos e armários.
Nada!!.
Mas o cofre estava aberto. O Senhor Magalhães fechou-o rapidamente sem ver as faltas. Depois se veria, agora havia muitas mãos e olhos dentro do balcão
Fazia-se dia. A guarda veio, mas chamada pelo telefone público sediado na própria loja também agência dos CTT.
No dia seguinte ou no que já era, os Correios não abriram, nem a mercearia, nem a loja de fazendas, pois tudo acumulava o estabelecimento. O Senhor Magalhães
fazia o balanço da mercadoria e do cofre, e pensava na burla do Ma moto, e na solicitude do Galo, portador de uma pilha, que caiu do céu no escuro da loja, quando o povo entrou de roldão, mas que nunca apontou para quem devia, e estava atrás da porta.
Na cidade de Salamanca uns dias depois, o Mamoto e o Galo, espalhavam dinheiro em botequins, bodegas, jogo e mulheres, sem agora pensar em “trabalhinhos” de risco calculado, e únicos, em que dão um jeito.

Após mais de um ano ter passado, o Senhor Magalhães vê entrar no
estabelecimento, pomposo, elegante de chapéu à espanhola, lenço garrido na lapela, e sorriso largo e cativante nos lábios, o seu velho conhecido.
E mais não conto que é outro conto…. do vigário.Contou um ponto. Mas se não se acrescentar um ponto uma história a história não existe.
Eis a estória: -

Estátua de Francisco Gomes Teixeira


Gomes Teixeira (1851-1933)
Francisco Gomes Teixeira, matemático, nasceu a 28 de Janeiro de 1851 na aldeia de S. Cosmado, freguesia de Armamar, no distrito de Viseu.
Fez os estudos elementares na sua terra natal, e depois foi para o Colégio do Padre Roseira, em Lamego. Matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra em Outubro de 1869. Ainda durante o curso Gomes Teixeira escreveu o seu primeiro trabalho, que foi publicado na imprensa da Universidade, em 1871. Concluiu o curso em 1874, com a classificação máxima, de Muito Bom por Unanimidade, com 20 valores. Em 1875 fez exame de licenciado com apresentação de dissertação e logo de seguida o doutoramento que obteve também com a classificação máxima.

Em 1876 tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e lente substituto da Faculdade de Matemática. Em 1878 foi nomeado terceiro astrónomo do Observatório Astronómico de Lisboa, mas apenas ocupou esse cargo durante cerca de quatro meses, voltando à Universidade de Coimbra.

Em 1879 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador, tendo participado em sessões do Parlamento nesse ano e ainda em 1883 e 1884. Em Novembro de 1879 foi encarregado da cadeira de análise matemática, passando a catedrático em Fevereiro de 1880. Em 1884 Gomes Teixeira pediu transferência para a Academia Politécnica do Porto, onde dirigiu a cadeira de Cálculo diferencial e integral. Veio a ser pouco tempo depois director desta Academia, cargo que desempenhou até 1911, quando foi nomeado reitor da recém formada Universidade de Porto.

Relacionou-se com alguns dos mais destacados matemáticos de renome mundial da sua época, e publicou trabalhos em periódicos científicos de vários países. Deslocou-se várias vezes a outros países onde contactava com outros matemáticos e participava em congressos. Foi membro de várias sociedades científicas e academias de ciências, nacionais e estrangeiras.
Faleceu no Porto a 8 de Fevereiro de 1933.

Actividade CientíficaAinda estudante elaborou um trabalho intitulado Desenvolvimento das funções em fracção contínua, onde apresenta fórmulas para desenvolver as funções em fracções contínuas, que depois transforma em fracções ordinárias, e aplica as fracções contínuas ao cálculo integral e à determinação das raízes de equações, obtendo desta forma resultados mais convergentes do que pelos métodos de Newton (1643-1727) e Lagrange (1736-1813). Este trabalho chamou a atenção sobre as suas capacidades, não só na Universidade de Coimbra, como também fora dela, como é o caso de Daniel da Silva, que a partir desta publicação apoiou e incentivou os trabalhos de investigação de Gomes Teixeira.

Em 1872 Daniel da Silva apresentou na Academia das Ciências o trabalho de Gomes Teixeira Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações, onde fazia a aplicação de fracções à determinação das raízes das equações. A dissertação com que fez exame de licenciatura intitulava-se Integração das equações às derivadas parciais de segunda ordem. Nesta dissertação antecipou resultados que Andrew Forsyth (1858-1942) só mais tarde veio a conseguir obter, tendo também sido destacada por Edouard Gousat (1858-1936), o grande tratadista matemático da época. Para ocupar o lugar de lente substituto na Faculdade de Matemática elaborou a dissertação Sobre o emprego dos eixos coordenados oblíquos na mecânica analítica.

Fundou, em 1877, o Jornal de sciencias matemáticas e astronómicas, que foi publicado durante 28 anos, até ser integrado nos Anais Scientificos da Academia Politécnica do Porto. Este periódico científico desempenhou um papel muito importante na divulgação dos progressos das ciências matemáticas e astronómicas, e contribuiu igualmente para divulgar o trabalhos dos investigadores portugueses.

Em 1887, já na Academia Politécnica do Porto, publicou o Curso de análise infinitesimal, Cálculo Diferencial (um volume) onde actualizou o ensino da matemática em Portugal. Em 1889 publicou o primeiro volume do Curso de Análise infinitesimal, Cálculo integral, e o segundo volume em 1892. Nesta obra faz uma síntese dos progressos realizados pela análise e introduz um novo nível de rigor na apresentação da matemática.

Em 1895 levou o trabalho Sobre o desenvolvimento das funções em série ao concurso aberto, em 1893, pela Academia Real das Ciências de Madrid. A Academia concedeu-lhe prémio, embora fora do concurso, por ter apresentado o texto em português. Em 1897 concorreu de novo ao prémio da Academia das Ciências de Madrid com o Tratado de las curvas especiales notables, tanto planas como alabeadas (Tratado das curvas especiais notáveis, tanto planas como torsas, tendo ganho o prémio ex-aequo com Gino Loria (1862-1954). É considerada uma obra clássica de grande qualidade científica e histórica com impacto internacional, tendo sido reeditada em 1971, em Nova York, e em 1995 em Paris.

Continuou a produzir e a publicar regularmente textos científicos, em revistas científicas nacionais e estrangeiras. Após uma primeira fase dedicada à Análise, passou a prestar cada vez maior atenção à Geometria. Nos últimos anos dos seus estudos dedicou-se à História da Matemática em Portugal, tendo elaborado uma obra que constitui uma referência para os estudiosos das ciências em Portugal, a História das Matemáticas em Portugal.

PublicaçõesEm virtude da vasta lista de textos publicados, que quase atinge as três centenas , apresentam-se apenas as referências para alguns dos trabalhos que marcaram o início da carreira científica de Gomes Teixeira e as Obras de Matemática, que reúnem em vários volumes muitos dos textos publicados anteriormente. Para uma listagem extensa dos textos publicados devem os interessados consultar a obra de Henrique Vilhena, O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira.

Desenvolvimento das funções em fracções contínuas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871.
“Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações”, Jornal de Ciências matemáticas, físicas e naturais., Lisboa, IV, 1872-73.
Integração das equações à derivadas parciais de 2ª ordem, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1875.
Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1877. Jornal fundado por Gomes Teixeira, publicado até 1905, dedicado inicialmente às Matemáticas superiores e às Matemáticas elementares, mas que a partir de certa a altura se dedicou exclusivamente às Matemáticas superiores.
Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1905-1906. Substitui, na parte referente às matemáticas, o Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas.
Obras sobre Matemática, Coimbra, Imprensa da Universidade, vol. I, 1904; vol. II, 1906; vol. III, 1906; vol. IV, 1908; vol. V, 1909; vol. VI, 1912; vol. VII, 1915.
Panegíricos e conferências, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925.
História das matemáticas em Portugal, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1934.

Fernando Reis

A terra de dois santos médicos, matemáticos e incontáveis ministros (S. Cosmado é terra dos doutores e cientistas)


Nasci na terra de dois Santos médicos
S. Cosme e S. Damião

A casa onde vim ao Mundo era de taipa pintada a cal e coberta de zinco ondulado
Um dia, teria eu talvez dez anos
Meu Pai e minha mãe a ela me levaram
A ver o quarto onde nasci, nessa casa da aldeia de S. Cosmado.
Era um quarto repleto de Sol
E foi ali
Que rodeado de panos
As memórias retornaram
À água morna em que nasci.
Vim ao mundo rodeado da luz que me mostraram
(nessa visita que recordo)
Mas que não reconheci.
Era nascituro demais para guardar memórias
Que a não ser em sonhos nunca vi
Mas dessa visita reti,
A luz do Sol que entrava pelas janelas
Dos quatro cantos do quarto
Do sítio onde eu nasci
Entre amores e flanelas
Que foi num terceiro andar
Entre janelas
Rasgadas
Onde os ventos não entravam
Mas onde penetravam em rajadas
Madrugadas
E raios do Sol
Que não me lembro de ver
(Como é natural no momento de nascer)
Mas que vibram em harmonias no meu subconsciente
Como trinados de guitarra dedilhados entre a paixão e o Sol
No langoroso tom de uma guitarra em lá bemol.
Como um nocturno em quarto crescente
Presente e sempre ausente.

Janelas, raios de Sol
Do meio-dia ao entardecer
Que hora expectante
Teria sido essa hora passada?
Um momento de madrugada
Em torrentes de tempo a suceder?
Não sei. Não me lembro de nada.
Mas havia luz pelos quatro cantos do mundo
E havia eu a emergir do fundo
Terá sido assim o parto
E a minha chegada?
De que me não lembro
Nem sequer do quarto
Não me lembro de nada!
Sei apenas que emergi nessa madrugada
Aos nove meses formado
Na aldeia de S. Cosmado
Numa clave de Sol
Feito entre o amor de minha mãe
E a guitarra que meu Pai, trouxe de Coimbra
E que na minha memória sempre timbra
(sei lá porquê!...) em lá bemol.

Na minha aldeia de S. Cosmado
Onde nasci na casa em que vim ao mundo
Que era de taipa pintada a cal e coberta de zinco ondulado
Rodeada de janelas
Por onde os ventos não entravam
Mas penetravam em rajadas
Luz e madrugadas
E raios de Sol.
Apenas imagino janelas
Defenestradas ao Mundo
Confortáveis flanelas
E um céu azul profundo
Ponteado de estrelas
Mas sobretudo ao despontar da madrugada o Sol
Com o poder universal dos fotões num concerto modulado
Compôs a minha vida
Dedilhando na guitarra pousada ao canto (um acorde em lá bemol)
E foi daí, de seguida
Que iniciei a vida
Na minha aldeia de S. Cosmado
Entre janelas
Flanelas
Raios de Sol
E o tom que me nasceu em lá bemol
Foi tempo breve
Igual à neve vera
Que o Sol derrete
Na Primavera




Nasci neste quarto de uma casa da Beira Alta. Provavemente foi esta uma das primeiras imagens que vi do Mundo. Mas não me lembro.


A fotografia é de meu Pai, tirada cinco anos depois de eu nascer, no grande nevão de 1956.

Friday, October 26, 2007

O meu cão no elevador



O meu cão no elevador
Cão! Porta-te bem. Então?
Estamos no elevador e temos companhia.
Não vês que o vizinho que entrou no décimo andar mostra receio?
Bem sei que não sabes que impões respeito à freguesia.
És um cão corpulento, de caninos afiados,
Embora não saibam (estes desgraçados)
E é melhor que se não saiba bem
Que esses dentes não fazem mal a ninguém.
É esta a conversa que eu e o meu cão temos.Conversa sem palavras, já se vê,
Sempre que descemos
No elevador.
O meu cão olha para mim, do fundo dos seus olhos castanhos,
Líquidos e profundos como os oceanos.
E com toda a descrição,
encosta-se o mais que pode ao corrimão
Da caixa elevatória
E diz-me, através do olhar (a tal linguagem que falamos entre nós),
Que culpa tenho eu de parecer feroz?
Então, nesses actos,
Aperto-lhe a mão sobre a coleira- Não vá ele ceder à tentação
De lamber os sapatos
Do vizinho do décimo andar
E ele tomar, como sinal de agressão
Essa intenção.
Ou então,
As crianças do oitavo
Que, mal entram e o vêem, se refugiam no canto oposto, em comoção
Regurgitando exclamações de medo e admiração(HO TAI CHEK!), dizem, entre si, em chinês.
E o meu cão olha para mim.
E, diz-me assim (através do olhar),
Como tu vês...Eu nem sequer me movo.
Que tal?...É só para não te deixar mal, não fazer asneira.
Por isso, escusas de apertar tanto a tua mão
Na minha coleira.
Dás-me cabo da garganta neste calor de Verão!
Bem sabes que não mordo, estou no meu cantinho
E qualquer altercação
Com o vizinho
Seria a última coisa que quereria.
Sabes bem que não tenho raiva nem assomos rompantes!...
E incomoda-me esta gritaria...
Nesse momento, sinto o elevador parar.
Acto contínuo, abro os dedos da mão,
Solto a coleira que o asfixia,
E o meu cão,
A arfar,
Sai como uma flecha quando a porta do elevador se abre no terceiro andar
Onde sabe que o carro está estacionado,
Pronto para nos levar a passear
Aos dois sozinhos
Ao ar livre, longe do incómodo dos vizinhos.

Thursday, October 25, 2007

Ta pin lo

Senhor arcanjo Vamos jantar Caem os anjos Num alguidar Hibernam tíbias Suspiram rãs Comem orquídeas Nas barbacãs Entra na porta Menina-faia Prova uma torta Desta papaia Palita os dentes Põe-te a cavar Dormem videntes No Ultramar Que bela fita Que bem não está A prima Bia De tafetá Apesar de ser no Oriente distante, a onze mil quilómetro de Portugal.
Manuel Tiago, que nunca conheceu Zeca Afonso (nasceu muito depois desses tempos) tirou a foto que poderia ter sido capa do disco que o bardo editou há tantos anos.
Senhor Arcanjo vamos jantar
Se calhar a prima Bia, macaense existe mesmo.

Alô
Vamos comer um ta pin lo?

Vamos, responde a prima Bia.
Que doçura de cheirinho
nesta rua
esguia
E doce e quente e fria

Aqui tudo flutua

Entra na porta menina faia?
Não é preciso porque na rua
Não há porta
Nem aviso
Quem quer entra e sai quando é preciso

Alô, Alô!
Vamos comer um ta pin lo?

Um relógio que nunca existiu?

Artur Tamagnini Barbosa. Governador com duas pessoas não identificadas. Trata-se de uma fotografia rara que consta do espólio do Centro Científico e Cultural de Macau.

Quando falei do hasteamento da bandeira verde rubra no Leal Senado (num dos últimos posts) não tive tempo de inserir fotografia. Igualmente não referi o facto de ter lido há muito pouco tempo, que mais, ou menos, no sítio onde actuamente se acha o símbolo da RAEM (triângulo cimeiro) se achava antes um relógio eléctrico.
Em 1926, mais precisamente no dia 20 de Outubro, a pedido do Leal Senado da Câmara, o dito relógio foi removido.
Será o mesmo que actualmente se encontra no edifício dos correios, do lado fronteiro?
Outra pergunta: O relógio foi removido precisamente cinco meses depois da revolução de 28 de Maio do mesmo ano, por quê?
Quem governava então a colónia era Artur Tamagnini Barbosa.
Tamagnini Barbosa foi governador de Macau por três vezes.
Maçon, tal como seus irmãos, Tamagnini Barbosa, ao autorizar a remoção do relógio, não o fez de ânimo leve. O relógio tinha em minha opinião que ter um valor simbólico. Agora Qual? Quem souber que responda e esclareça, seria interessante saber porquê.
À interrogação inicial acrescento outra:- Não conheço nenhuma fotografia do Leal Senado com qualquer relógio na frontaria! Haverá alguém que esteja vivo que se lembre disso?
Se alguém houver que acrescente alguma achega.

Wednesday, October 24, 2007

Sobrevivências


Uma sobrevivência da Revoução culturar.
Encontrei isto na cidade de Samshui (Três rios). Fica a poucos quilómetros de Cantão.
Tudo quanto era antigo tinha que ser destruído pelos seguidores de Lin Piao (a maior parte foi) mas algumas pessoas preservaram o passado. Neste caso os donos da casa barraram a parede para esconder o que agora se expõe. Que riscos correram? Não sei, mas sei que preservaram o passado.
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Outros Outubros

O Mundo concentrou-se em Outubro? Se calhar sim, já que, durante este mês aconteceram alguns eventos de impacte mundial.
Em Outubro, de todos os anos, aconteceram revoluções, nascimentos, publicações, recordes mundiais. Enfim! Sei lá o que? A lista mundial fica a seguir:

- Em 1789 é votada definitivamente a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão uma das cartas constitucionais mais revolucionárias da história moderna.
- Na Índia nasce Mahatma Gandhi em 1869
- Nos EUA, nasce Groucho Marx, comediante, em 1890 (Groucho Marx, que esteve sob a mira do mackartismo por suspeita de ser comunista não o era. A sua única condição clandestina era a de maçon de que nunca desistiu
- Em Portugal proclama-se a República, em 1910.
- Na China proclama-se a República, em 1911
- Na Rússia cai a tirania dos czares, em 1917
- Na Espanha regista-se a Fundação da Opus Dei, por José Maria Escrivá de Balaguer, em 1928
- Na China proclama-se a República Popular, em 1949
- Nos EUA Charles M. Schultz começa a publicar a banda desenhada “The Peanuts”, em 1950.
- No Brasil é a última partida de Pelé com a camisa do Santos (camisa 10) contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro, em 1974.
-Assinado o Tratado de Amesterdão que prevê alterações aos Tratados da União Europeia, em 1997.

Macau, apesar de ser um pequeno território perdido no Sul da China, recebeu todos os impactos mundiais das efemérides que acabei de transcrever. Algumas tiveram impacto institucional. Outras tiveram apenas impacto pessoal neste curioso rincão que actualmente dá pelo nome de Região Administrativa Especial da China.

Deixo alguns para que conste

E alguns que constam são os os reflexos de Outubros mundiais em Macau.


Como por exemplo:


Por B.O. nº 41-S, desta data, se publica o seguinte telegrama, datado de 6-10-1910:
«Governador Geral de Macau/
Foi hontem proclamada republica com concurso exercito, marinha e povo./ Enthusiasmo. Ordem absoluta. Governo provisorio presidido Teofilo Braga./ Ministros: guerra, Coronel Artilharia Xavier Barreto; interior, António José/d'Almeida; fazenda, Basilio Telles; obras publicas, Antonio Luiz Gomes; marinha e colonias, capitão de mar e guerra Azevedo Gomes; justiça Affonso Costa;/ estrangeiros, Bernardino Machado. Queira communicar autoridades civis e militares sob sua jurisdição estes acontecimentos./ Ministro Marinha Azevedo Gomes


Aguns dias depois a nova bandeira de cores verde, vermelha e amarela (que na opinião de Guerra Junqueiro era "uma bandeira de pretos" era hasteada em Macau.


Diz o Boletim Oficial nº42 do dia 15 de Outubro de 1910: - É hasteada no Edifício do Leal Senado, pela 1ª vez, a Bandeira da República Portuguesa




Saturday, October 20, 2007

Coloane e a Ilha da Montanha anos 80.
(barcos passados, tempos passados, idos passados)

Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Solidões lacustres...
– Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
– Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.

Camilo Pessanha

Um dia curioso

9 de Outubro de 1911 – “Expulsão desta Colónia do chinês Peng-Nhan-Leong por ser reincidente, pela 4a. vez, como orador propagandista contra as instituições chinesas (?). Não será antes contra as portuguesas?” Pergunta Beatriz Basto da Silva, autora da “Cronologia da História de Macau”, obra que publicou em 4 volumes.
Respondo eu: Era contra as instituições chinesas e portuguesas com certeza.
Peng Nhan Leong era um nacionalista que aproveitou o facto de Macau estar sob a soberania de Portugal para defender a sua bandeira e agitar as massas contra a monarquia que governava a China. No continente nunca o poderia fazer de forma aberta.
Macau deu-lhe guarida durante algum tempo, por ser protegido de Lou Lim Yok, que por seu turno era o líder da comunidade chinesa de Macau (senhor todo poderoso no burgo com a bênção do poder colonial). Por qualquer razão Lim Yok, tão nacionalista e (eventualmente) tão republicano como ele, entendeu que Peng estava a exagerar e permitiu que o governador de Macau o expulsasse
O curioso nesta história é que Peng, é expulso de Macau exactamente no dia anterior ao da proclamação da República da China. E quem o expulsa é o governador Álvaro de Melo Machado. Melo Machado, era então governador interino da colónia. Tal como Sun Yat Sen Machado era maçon e republicano. Por que é que expulsou Peng? Duvidava da revolução chinesa, ou estava mal informado sobre o papel que Peng desempenhava na revolução chinesa a partir de Macau? Por enquanto ninguém sabe. Pela minha parte devido ao facto de me ser impossível consultar os arquivos chineses por não saber decifrar os caracteres. Pela outra parte (investigadores chineses) pelo facto de ninguém em Macau se ter debruçado ainda sobre a matéria com isenção e ultrapassando os preconceitos que subsistem.
Quem era Peng-Nhan-Leong? Não sei, mas gostaria de saber. Se alguém o souber que me diga.

Friday, October 19, 2007



Esta é uma notícia da Agência Eclesia:
"No próximo dia 25 de Outubro será apresentada, no Vaticano, a obra do Arquivo Secreto Vaticano "Processus contra Templarios", dedicada aos Templários, a ordem medieval de carácter religioso e militar fundada em Jerusalém em 1118 e suprimida pelo Papa Clemente V em 1312. Trata-se de uma edição inédita e exclusiva das actas integrais do antigo processo aos Cavaleiros do Templo. Este projecto, único no mundo, é uma edição limitada de 799 exemplares, que contém a reprodução fiel dos originais em pergaminho que se conservam no Arquivo Secreto Vaticano. A obra faz parte da série "Exemplaria Praetiosa", quer dizer, a publicação mais valiosa realizada até agora pelo arquivo pontifício. Na apresentação estarão o Arcebispo Raffaele Farina, Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana; o Bispo Sergio Pagano, Prefeito do Arquivo Secreto Vaticano; o historiador Franco Cardini e o arqueólogo e escritor Valerio Massimo Manfredi".
Extraordinário!... Mais de setecentos anos depois do drama que foi a queima dos cavaleiros templários nas fogueiras da inquisição a Igreja católica vem finalmente tornar público que a Ordem apesar de ter sido excomungada (pelo Papa Clemente V) não o foi na verdade (curioso!...) e apresenta documentos coevos para o efeito.
Mas porquê só agora? A Igreja explica: - porque os documentos estavam mal classificados no "Arquivo Secreto". Uma investigadora terá dado pelo erro há uns anos e lá refez a ficha com os dados certos.
Diz a Wikipédia: "De certa forma, a ascensão meteórica dos Templários levou à sua própria queda. Segundo alguns, um pouco das razões de sua queda foram causadas pelo fato de Filipe IV o belo, ter tentado entrar para a ordem templária, mas ter sido recusado. Além disso, num levante de seus súbditos, o rei francês foi obrigado a se refugiar dentro de uma fortaleza templária até que a situação fosse controlada. O sentimento de impotência diante da ordem templária, aliado à dificuldade financeira pela qual os cofres do reino se encontravam, além da ambição por documentos contendo informações sobre tecnologia naval (que seria posteriormente usada por Colombo motivou a ideia de destruição dos templários e apoderamento dos seus vastos recursos. Assim, com medo do Estado dentro do seu próprio Estado, o rei Filipe IV, com apoio do Papa Clemente V, que devia favores ao rei e foi eleito papa devido à pressão das tropas francesas, planejou a destruição da Ordem do Templo.
Rei Filipe IV da França

Em todo o território francês, os cavaleiros do Templo foram presos simultaneamente a 13 de Outubro de 1307 uma sexta-feira. (Inclusive, alguns dizem, que vem deste evento a lenda de serem as Sextas-Feiras 13 dias de azar). Por terem sido submetidos a tortura, a maioria admitiu práticas consideradas hereges, como adorar um ídolo chamado Baphomet, homosexualidade ou cuspir na cruz. O papa aprovou a sua extinção no Concílio de Viena de 1311, tendo a maioria dos cavaleiros da ordem sido executados na fogueira, incluindo o seu Grão-mestre Jacques de Molay em 1314
".

Noutros países sucedeu o mesmo, excepto em Portugal, onde a Ordem apenas mudou de nome adoptando a designação de Ordem de Cristo (A Ordem de Cristo foi assim criada em Portugal como Ordo Militiae Jesu Christo pela bula Ad ae exquibus de 15 de março de 1319, pelo papa João XXII, sendo rei D. Dinis, pouco depois da extinção da Ordem do Templo. «Tratava-se de refundar a Ordem do Templo que anterior bula papal de Clemente V havia condenado à extinção»)
Diz-se também que:... A nova Ordem surgia, assim como uma reforma dos Templários. Tudo mudou, para ficar mais ou menos na mesma. O hábito era o mesmo, a insígnia também, com uma ligeira alteração, e os bens, transmitidos pelo monarca, correspondiam aos bens templários.
Diz-se também que:... Foram os bens dos templários, entre os quais se contava não só dinheiro, mas conhecimentos científicos, que permitiram a construção das armadas portuguesas e a época de ouro dos descobrimentos.

Diz-se também que:... a esquadra dos templários zarpou de França antes do "progrom" de Filipe o Belo rumando à Escócia, onde ajudou o rei Bruce, a conquistar a independência.

Diz-se também que:... O Rito Escocês Antigo e Aceite, que é um Rito dentro da Maçonaria, deriva do Rito de Heredom e da época da fuga dos Cavaleiro Templários para a Escócia. Ou seja que a Maçonaria escocesa não é mais do que um sucedâneo laico dos templários.
Esta hipótese tem sido tratada em inúmera bibliografia, mas para mim há um livro recente que contribui para acabar com alguns mitos e lendas.
É o que abre este post.

Vale a pena ler. O autor sabe do que fala, já que tem acesso a fontes da própria Maçonaria.
Sobre esta obra há um resumo interessante na Amazon.

Um discreto maçon governador de Macau


Ontem havia uma efeméride de Macau a lembrar (são poucas as do mês de Outubro). Trata-se de relembrar a figura de um governador de Macau, da primeira metade do século XX. Um governador que ocupou o cargo pelo espaço de um ano. Não deixou nem muita, nem pouca história aqui pelo Extremo Oriente. Ficou emparedado entre dois nomes de fama. Um era Rodrigo Rodrigues, que deixou topónimo numa das avenidas principais da cidade. Outro era Tamagnini Barbosa, que governou Macau mais do que uma vez e parece ter sido o único governador de Macau a morrer no posto. Morreu no Palácio da Praia Grande, depois de ter assistido à morte do poeta António Patrício que faleceu no palacete de Santa Sancha, situado umas centenas de metros mais acima nas faldas da colina da Penha.
Mas a efeméride respeita a Maia Magalhães, que governou Macau de Outubro de 1925 a Dezembro de 1926.
Se Maia Magalhães não deixou grande nome em Macau, deixou-o em Portugal.
Oficial de Cavalaria, Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães (1881-1932), nasceu em Aveiro. Maçon, contribuiu para a preparação da participação portuguesa na I Guerra Mundial, integrando o C. E. P. em 1917. Em 1921 foi chefe do Estado-maior da 1.ª Divisão, cargo que exerceu intermitentemente até ser exonerado em Setembro de 1924. Em 1925 foi nomeado governador de Macau e, em 1926, integrou a Comissão para o Estudo da Campanha Militar do Norte em Moçambique. Foi director dos Serviços Cartográficos do Exército (1927-32) e em 1931 foi preso conjuntamente com um grupo de oficiais envolvidos na Revolta da Madeira, que o regime temia se alastrasse ao continente, vindo a falecer no ano seguinte.
Vasco Pulido Valente cita Maia Magalhães, como um dos militares que tiveram papel de destaque na luta contra a Monarquia do Norte, de Paiva Couceiro, na região de Chaves. Mas tal como em Macau também na panóplia dos "defensores de Chaves" o seu nome some-se. Igualmente se some o seu nome na Revolta da Madeira, movimento que consagrou apenas o general Souza Dias e o capitão Agatão Lança.
Os herdeiros de Maia Magalhães doaram o seu espólio ao Museu Militar de Lisboa. Está lá muita coisa para consultar provavelmente e provavelmente alguma sobre Macau.
Refiro ainda, por curiosidade que Maia Magalhães era tio de Vitorino Magalhães Godinho, também ele maçon, anti fascista e historiador de renome.

Tuesday, October 16, 2007


Hoje vale a pena lembrar uma figura interessante das letras de Macau. Trata-se do padre Regis Gervaix, que no dia 16 de Outubro deixou Macau, depois de 25 anos de sacerdócio no Território a fim de ocupar a cadeira de Literatura Francesa, na Universidade de Pequim.
Sob o pseudónimo de Eudore de Colomban, Regis Gervaix, publicou, Resumo da História de Macau, dado à estampa em 1927. A obra conheceu três edições, a última das quais em 1980. Apesar de se tratar apenas de um resumo não deixa todavia de ser assinalável. Quanto mais não seja pelo facto de apenas existirem três histórias de Macau publicadas. A primeira, pelo comerciante sueco Anders Ljungstedt (An Historical Sketch of the Portuguese Settlements in China and of the Roman Catholic Church and Mission in China & Description of the City of Canton), publicada em 1836. A segunda, da autoria de Montalto de Jesus (Historic Macao), seria publicada em 1926. Ambas foram dadas à estampa em inglês. Aliás a primeira edição da história de Montalto de Jesus, seria apreendida em Macau, por ordem do governo de 15 de Junho, do mesmo ano. Ao que parece a ordem de apreensão deveu-se ao facto do autor propor a entrega da soberania de Macau, à Sociedade das Nações.
Com tanta falta de história e de historiadores o livrinho de 127 páginas de Regis Gervaix acaba por ser um assinalável marco no desertificado percurso de 400 anos do Território. Como resumo que é a obra não pode ser obviamente considerada como uma verdadeira história de Macau, nem alcança a dimensão das de Ljungstedt, ou Montalto de Jesus, ainda que nenhum destes tenha produzido obra abrangente e muito menos definitiva a que se possa chamar uma História.
Segundo Monsenhor Manuel Teixeira, o padre Regis Gervaix, teria editado o seu "Resumo" numa reacção a quente contra a publicação de Montalto de Jesus.
Segundo ainda Monsenhor Manuel Teixeira, Regis Gervaix, terá mais tarde publicado (em Pequim?) uma história de Macau mais alargada, em dois volumes que intituou - Abre’ge’ de l’histoire de Macao.
Deixo acima a capa de edição de 1980, do Resumo da História de Macau.

Há apenas 25 anos Macau era assim

Barra - Oficinas Navais
Avenida da República, junto à Barra. Cabana de uma família de pescadores.

Lergo do Leal Senado, quando ainda por aqui circulavam automóveis e havia lugares para estacionar.


Hotel Lisboa em fundo brumoso e sem Ponte da Amizade



A passagem de juncos frente à Barra era uma imagem do quotidiano




Friday, October 12, 2007


Num aldeia remota um Inverno nevado beirão de 1956